17 março 2005

Eu queria uma torre como esta




Metamorfose

Para a minha alma eu queria uma torre como esta,
assim alta,
assim de névoa acompanhando o rio.

Estou tão longe da margem que as pessoas passam
e as luzes se reflectem na água.

E, contudo, a margem não pertence ao rio
nem o rio está em mim como a torre estaria
se eu a soubesse ter...
uma luz desce o rio
gente passa e não sabe
que eu quero uma torre tão alta que as aves não passem
as nuvens não passem
tão alta tão alta
que a solidão possa tornar-se humana.

Jorge de Sena

Estímulos

Obrigado ao Quartzo Feldspato e Mica, ao Portuense e ao Hotel Sossego pelas estimulantes referências a este blogue. O meu agradecimento é extensivo ao Atrium e ao Indústrias Culturais que, a seu tempo, já tinham aludido à Cidade Surpreendente.


15 março 2005

O Rosto da Cidade



Harmonia 1 - o centro histórico.



Harmonia 2 - o Cabedelo e o Jardim do Passeio Alegre, onde o Douro se esvai no mar.



Caos - a Cantareira.

14 março 2005

Camões e a Menina



À direita, Camões no cunhal da Livraria Latina. Do outro lado da rua, na esquina de Santa Catarina com a 31 de Janeiro, a menina, da antiga ourivesaria Reis & Filhos, para quem o poeta olha. O que lhe dirá Camões?


Vós que, de olhos suaves e serenos,
Com justa causa a vida cativais,
E que os outros cuidados condenais
Por indevidos, baixos e pequenos;

Se ainda do Amor domésticos venenos
Nunca provastes, quero que saibais
Que é tanto mais o amor despois que amais,
Quanto são mais as causas de ser menos.

E não cuide ninguém que algum defeito,
Quando na cousa amada se apresenta,
Possa deminuir o amor perfeito;

Antes o dobra mais; e se atormenta,
Pouco e pouco o desculpa o brando peito;
Que Amor com seus contrairos se acrescenta.

Luís Vaz de Camões

11 março 2005

Sol de Inverno # 5



Fim de tarde no Muro dos Bacalhoeiros; uma rua estreita, voltada para o rio, assente num pano da velha muralha fernandina.

08 março 2005

Não nasci por acaso nestas pedras...



Poema

(O Eugénio de Andrade espera-me num Café. Atravesso as ruas do Porto - a cidade onde nasci - com os punhos cerrados de dor.)


Não nasci por acaso nestas pedras
mas para aprender dureza,
lume excedido,
coragem de mãos lúcidas.

Aqui no avesso da construção dos tempos
a palavra liberdade
é menos secreta.

Anda nos olhos da rua,
pega lanças aos gestos,
tira punhais das lágrimas,
conclui as manhãs.

E principalmente
não cheira a museu azedo
ou musgo embalado
pela chuva da boca dos mortos.

Começa nos cabelos das crianças
para me sentir mais nascido nestas pedras.

Porto
- cidade de luz de granito.

Tristeza de luz viril
com punhos de grito.

José Gomes Ferreira

Antes a Pronúncia do Norte # 2

... ou o linguajar mediático.

«"Atão" acha que lhe posso perguntar...»

«A "prepósito" dos "Estadojunidos"...»

«...Nuno, tenho "quir" um pouco "pá" frente...»

Maria João Avilez em entrevista a Nuno Rogeiro, no programa «Outras Conversas» SIC Notícias, 6 Mar 2005

Antes a Pronúncia do Norte # 1

... ou o linguajar mediático.

«Este "pugrama" tem o patrocínio do Crédito Habitação MG - Montepio Geral»

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