31 março 2005

Impressões de literatas, viandantes e memorialistas # 4



«Verdadeira república urbana, como as suas congéneres da Flandres e da Itália, o Porto medievo distinguia-se destas pelo profundo sentimento de comunhão com que partilhava as aspirações e os riscos da pátria maior.»

Jaime Cortesão

30 março 2005

Impressões de literatas, viandantes e memorialistas # 3



«Se na nossa cidade há muito quem troque o v por b, há muito pouco quem troque a liberdade pela servidão».

Almeida Garrett

28 março 2005

Um sentido ecológico exemplar

Muitos dos habitantes da região do Porto, que frequentam o Parque Urbano da Cidade, talvez não saibam que a intenção de construir naqueles terrenos um parque público- onde conviveram a pequena agricultura e uma seca de bacalhau - remonta a 1934. Só muito mais tarde, em 1952, a Câmara do Porto retomaria esse desígnio, acrescentando ao parque um estádio municipal. Dez anos depois, a ideia do estádio foi abandonada e substituída pela criação de uma piscina pública e de um grande pavilhão de exposições.
Como se sabe o pavilhão de exposições - a Exponor - foi construído noutro local. O parque, tal como o conhecemos hoje, só começou a ganhar forma no início dos anos oitenta, com a encomenda de um estudo à Universidade Nova de Lisboa.


Trata-se de um espaço único, pensado à escala urbana, que ocupa uma área de 85 hectares.


Segundo Francisco Flórido de Carvalho (1), citando Sidónio Pardal, o autor do projecto do parque, «recriou-se [ali] o ideal de natureza, ou seja, uma natureza cultural arquitectada de forma confortável e bela, em que se oculta o desconforto e os perigos da natureza em estado bruto».



Mais adiante, FFC afirma que o parque tem «um sentido ecológico exemplar. Com enormes zonas arrelvadas e abertas, grandes lagos que são residência permanente de cisnes, gansos, patos e poiso ocasional de aves em trânsito (...), é também constituído por pequenos lagos e charcos, que embelezam o terreno e são habitat de numerosos batráquios e insectos. Possui também áreas florestadas de diferentes classes de idade, que proporcionam abrigo a avifauna e pequenos roedores, como é o caso de coelhos e ratos de campo».

«É um espaço que ultrapassa a mera função pulmonar da cidade, porque permite ao visitante, o deslumbramento global dos sentidos através das cores e sombras, odores e das diferentes formas do relevo e acontecimentos [edificados]».

(1) in «Parque Urbano da Cidade do Porto - Recenseamento Florístico, Fase I»

24 março 2005

Um filho de boa gente equivocado

O Espumante, num texto cheio de humor intitulado «Quem não se sente...» culpa-me de «gozar com o sotaque dos mouros», a propósito das entradas aqui publicadas com o título «Antes a pronúncia do norte».

Caríssimo Espumante, olhe que não é de gozo que se trata. Muito menos de sotaque. Trata-se é da expressão do meu incómodo, perante os tiques do linguajar de um grupo social com visibilidade nos media, que adoptou uma norma do português, cuja expressão máxima está patente na Quinta das Celebridades.

Concordarei consigo, se me disser que o título é passível de outras interpretações. No entanto, corresponde apenas à solução que encontrei, para integrar as transcrições do tal linguajar, num blogue que tem o Porto como tema.

Quanto ao mais, acredite que estou a anos-luz de distância, daqueles que perfilham cruzadas contra «sulistas e elitistas», e que, apesar de trazer o Porto colado à pele, em Lisboa me sinto em casa. Tal como em Madrid, em Marraquexe ou em Atenas.

Parabéns pelo troféu que exibe no seu blogue e votos de boas pescarias.

Estímulos

Desta vez, as referências estimulantes à Cidade Surpreendente vieram do Blasfémias, do Xanelcinco, do Casaco Amarelo em NY, do Berra-Boi, do Filhos do Pai e da Volúpia. O meu obrigado a todos.

21 março 2005

Impressões de literatas, viandantes e memorialistas # 2



«... o Porto ergue-se em anfiteatro sobre o esteiro do Douro e reclina-se no seu leito de granito. Guardador de três províncias e tendo nas mãos as chaves dos haveres delas, o seu aspecto é severo e altivo, como o de mordomo de casa abastada. Mas não o julgueis antes de o tratar familiarmente. Não façais caso de certo modo áspero e rude que lhe haveis de notar; trazei-o à prova, e achar-lhe-eis um coração bom, generoso e leal.»

Alexandre Herculano


Equinócio de Março



O Sol cruzou hoje o equador celestial rumo ao Norte, anunciando a Primavera, que compareceu chuvosa na cidade surpreendente.

18 março 2005

Impressões de literatas, viandantes e memorialistas # 1



«Lisboa é um mostruário colorido e barroco de uma parte aventureira do nosso sangue. É, sobretudo, simultaneamente, um cais de embarque e desembarque da pressa que percorre o mundo. Cidade de muitas e desvairadas gentes, já lhe chamava o outro. Ora o Porto lembra-me antes uma séria e pacata citânia lusitana, murada da nossa altivez de cavadores. - Se de resto Garrett pode nascer do calor do seu coração, se António Nobre pode morar em paz dentro das suas portas, e se mesmo numa das suas cadeias pode ser escrito o Amor de Perdição, que demónio é preciso mais para honrar os pergaminhos de alguém?»

Miguel Torga