12 abril 2005

Desafogo



A estátua de D. António Ferreira Gomes, apelidada de «Batman» pelos residentes mais jovens da freguesia da Vitória, devido à capa esvoaçante que enverga, foi mudada para um local mais visível, na Praça de Lisboa.

O antigo Bispo do Porto bem merece que lhe honrem a memória num local desafogado.

« (...) D. António Ferreira Gomes foi um defensor determinado e consistente de um modelo de relações baseado na separação entre Igreja e Estado. Uma separação assente na delimitação das esferas de competências e no respeito mútuo, sem prejuízo dos ideais que a Igreja Católica entenda dever manifestar e dar público testemunho.
Não era fácil - e não foi fácil - a um homem da Igreja defender essa linha de independência entre a Igreja e o Estado, sobretudo num tempo em que a tendência para a instrumentalização recíproca era muito forte.
A coragem com que se bateu pelas suas convicções valeu-lhe, como se sabe, o afastamento compulsivo da sua diocese em 1959 e uma longa permanência no estrangeiro.
Durante 10 anos o regresso a Portugal foi-lhe negado, de forma arbitrária e injusta.»

11 abril 2005

O sonho de António Nascimento

Ter o hábito de passear pelas ruas de uma cidade e observar atentamente as fachadas dos edifícios pode revelar-se compensador. Uma boa parte da história de cada urbe está aí inscrita, como se de um livro se tratasse. É só abri-lo e lê-lo, para podermos datar um prédio, avaliar as suas funções e até a ambição e o ideal de quem o mandou construir.



O edifício que é hoje conhecido como sendo da FNAC, na Rua de Santa Catarina, foi encomendado a Marques da Silva, um dos mais prestigiados arquitectos portuenses, por António Nascimento, um próspero industrial de marcenaria com fábrica no Freixo, intitulado o maior produtor de móveis da Península Ibérica. Era intenção do industrial construir um grande armazém de decoração de interiores.

Marques da Silva, depois de ter feito uma longa viagem pela Europa para observar estabelecimentos congéneres, apresentou o primeiro estudo dos Grandes Armazéns Nascimento em 1914. O edifício, contudo, só foi inaugurado em 1927.

A sorte terá andado arredia do laborioso industrial que viu a fábrica do Freixo destruída por um incêndio em 1934. António Nascimento foi assim obrigado a vender os armazéns em 1939.



Depois dessa data e até aos anos setenta, funcionou lá o Café Palladium. Este nome manter-se-ia nas Galerias Palladium, um pronto-a-vestir que terá durado até meados dos anos oitenta. Actualmente convivem naquele espaço duas multinacionais, uma de vestuário e outra de produtos culturais.

O interior dos grandes armazéns foi entretanto descaracterizado. Restou para a memória do presente, a fachada do edifício que Marques da Silva concebeu, à medida do sonho de António Nascimento.

08 abril 2005

Em Serralves

no Museu de Arte Contemporânea





« (...) São objectivos primordiais do Museu a construção de uma colecção de arte contemporânea representativa da obra de artistas portugueses e estrangeiros e a apresentação de um programa de exposições temporárias, colectivas e individuais, que estabeleçam um diálogo entre os contextos artísticos nacional e internacional.

Uma das vertentes principais da sua missão é a organização de programas pedagógicos que suscitem uma relação com a comunidade local e ampliem os seus públicos interessados na arte contemporânea, assim como o aprofundamento da relação entre a arte e a natureza que as condições naturais dos espaços de Serralves tão bem propiciam.»

(extraído do Projecto Museológico)

07 abril 2005

No Molhe - 1





Duas perspectivas em dois tempos para o mesmo lugar.

05 abril 2005

Na Afurada





Uma pequena comunidade piscatória, do outro lado da cidade que o rio não separa.

04 abril 2005

Domingo à tarde na Ribeira



A praça da Ribeira, numa tarde arrastada e tristonha de Domingo...



... em que um anónimo e tranquilo cidadão se deixou fotografar.

01 abril 2005

Resistir ao vento, ao rigor da invernia



aqui tinha feito uma tentativa de ilustração de um poema de Eugénio de Andrade referente a um lugar concreto, o Passeio Alegre, com uma fotografia tirada da porta da casa do poeta. Sem pretensiosismo, vale o que vale: o prazer que me dá elaborar uma imagem, com um poema em mente.

«O Lugar da Casa» constitui mais uma referência, na poesia de Eugénio, ao local em que o poeta vive.
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O Lugar da Casa

Uma casa que nem fosse um areal
deserto; que nem casa fosse;
só um lugar
onde o lume foi aceso, e à sua roda
se sentou a alegria; e aqueceu
as mãos; e partiu porque tinha
um destino; coisa simples
e pouca, mas destino:
crescer como árvore, resistir
ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos
de abril
ou, quem sabe?, a floração
dos ramos, que pareciam
secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia.

Eugénio de Andrade

31 março 2005

Impressões de literatas, viandantes e memorialistas # 4



«Verdadeira república urbana, como as suas congéneres da Flandres e da Itália, o Porto medievo distinguia-se destas pelo profundo sentimento de comunhão com que partilhava as aspirações e os riscos da pátria maior.»

Jaime Cortesão