13 abril 2006

Um desejo chamado eléctrico



Estes simpáticos veículos começaram a circular no Porto em 1895, pela mão da Companhia Carris de Ferro do Porto. Durante a primeira metade do século passado acompanharam o crescimento da cidade ligando o centro às periferias.



Foram o meio de transporte por excelência, circulando rapidamente, para a época, numa rede com cerca de 130 km de extensão.



Penetrando profundamente na malha urbana e dela saindo desenvolto, o eléctrico ligava locais tão distantes como Santo Ovídeo à Ponte da Pedra e o Mercado de Matosinhos a Gondomar.



O ano de 1948 assinalou o começo do fim deste transporte tão popular, com a inauguração da primeira carreira de autocarros.



A agonia do eléctrico foi no entanto lenta. Foi preciso aparecerem os primeiros troleicarros - veículos silenciosos, movidos a tracção eléctrica, sem carris - no alvor dos anos sessenta, para se assistir ao desmantelar das linhas do amarelo.



Primeiro a de Gaia, através da Ponte Luís I, e mais tarde a de Gondomar. O desaparelhar das linhas não mais pararia, até à total paralisação destes atraentes veículos na cidade.





Em 2001 falou-se do regresso dos eléctricos à baixa e fez-se obra concreta: a reinstalação de linhas em ruas onde eles foram reis e senhores durante décadas. O projecto previa a ligação do funicular dos Guindais ao Carmo, uma ideia bem acolhida pela cidade.



Entretanto, com a mudança dos tempos políticos mudaram-se as vontades. As linhas do eléctrico, então instaladas, estão há anos sem utilidade.



Hoje, o que resta do carro eléctrico é uma porção da linha 1, a da marginal, que ligava o Infante a Matosinhos. Foi aí que curiosamente circularam os primeiros veículos em 1895. Percorrê-la entre o Infante e a Cantareira constitui um autêntico roteiro sentimental. Há ainda uma pequena ligação de Massarelos ao Carmo.



Quanto ao mais é nostalgia, e talvez um desejo também, o do Porto voltar a sentir os eléctricos a circular no seu centro histórico.

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A Ciência e a Cidade

A cidade, ponto de encontros e de desencontros, de partidas e de chegadas, mas também local de excelência da afirmação da cidadania e do florescimento cultural, foi-se tornando progressivamente no habitat da espécie humana, à medida que se caminha para o futuro. Nela ou nos seus arredores vive metade da população do mundo.

A ciência acompanhou esta evolução recente através da criação de novas tecnologias que facilitam a concentração de pessoas e de recursos, que criam e geram novos fluxos de ideias e de produtos. As cidades do futuro estão profundamente dependentes do esforço científico e da capacidade de o aplicar a condições de vida mais justas e solidárias: a ciência do século XXI será determinante para o pleno exercício da cidadania.

Deste modo, tudo o que move a cidade envolve a ciência e questiona o conhecimento científico. Mas as cidades não são todas iguais!
A abertura aos outros e ao mundo é a primeira condição da sustentabilidade. Esta atitude não escolhe capacidades - dos mais jovens aos menos jovens, todos são indispensáveis no processo de construção da Cidade Nova.


É com este mote que a Fundação Gulbenkian está a realizar um ciclo de debates intitulado A Ciência e a Cidade. O próximo é já a 19 de Abril, subordinado ao tema A Mobilidade. Seguir-se-ão até ao final do ano, O Ócio, O Mercado, O Génio, A Alimentação, O Plano e O Risco.

Os comentadores, moderados por José Vítor Malheiros, virão de áreas tão diversificadas como a engenharia, a arquitectura, a gestão, a sociologia, a cozinha, a fotografia, o design, a filosofia, os ralis, a informática, a economia e a farmácia, compondo um cenário promissor.

05 abril 2006

Painéis do Palácio Atlântico

A caixa de comentários está aberta a quem quiser contribuir para a interpretação dos painéis decorativos, em mosaicos cromados, do pórtico do Palácio Atlântico, na Praça D. João I, da autoria de Jorge Barradas.














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O corta!
festival internacional de curtas metragens do porto 2006

O corta! festival internacional de curtas metragens do porto 2006 define-se como o pulsar de algo que cresce e se multiplica. De cada edição anterior surgem novas ramificações que se desenvolvem e tocam na ideia seguinte.
É assim que o corta! se prepara para a sua quarta explosão de criatividade, entre 18 e 20 de Maio no Auditório da Biblioteca Almeida Garrett.



O corta! é o único projecto de festival para o formato da curta metragem com sede no Porto. A sua integração na vida cultural da cidade ultrapassa claramente a mera apresentação de uma competição de filmes. Nos últimos dois anos foram muitas as escolas que participaram em eventos do corta! e muitos os alunos de audiovisuais, música, cenografia e representação que colaboraram e trabalharam com o festival.

Este ano haverá uma retrospectiva de David Cangardel, um dos realizadores favoritos do festival, uma mostra de curtas metragens da Lituânia, a exibição de filmes de escolas, workshops, uma exposição de instalações multisuporte interactivas, a produção de uma curta metragem num ambiente controlado - ao vivo e com acesso directo do público - e muito mais... O programa está aqui e o festival é gratuito.



Os Dias da Criação

A Incomunidade e a Casa da Eira Longa organizam Os Dias da Criação, a 13 e 14 de Maio de 2006 em Vilar, Boticas, Trás-os-Montes. A intenção é promover o conhecimento não telesabido, não intermediado por outdoors e outros folhetos que só é possível no estar ao vivo. Os organizadores apelam à presença diversificada de criadores galegos e transmontanos, nas distintas árias da criação: audiovisual, escrita, performance, música, pintura, fotografia, pensamento, artesanato e escultura. Apesar de se tratar de um encontro de âmbito regional, garantem que não haverá qualquer segregação relativamente à presença de criadores que fisicamente tenham nascido noutras paragens.

29 março 2006

O Majestic

...um café da Belle Époque que podia entrar no mapa das cafetarias d'A Ideia da Europa, de George Steiner.











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Zona de Perda - Livro de Albas

A editora Objecto Cardíaco, criada recentemente por Valter Hugo Mãe em Vila do Conde, lançará o livro «Zona de Perda - Livro de Albas», de Pedro Sena-Lino, na próxima Sexta-Feira, às 19h30, no Palácio Galveias, ao Campo Pequeno, em Lisboa.

Pedro Sena-Lino é autor de cinco livros de poesia: «Constelação dos Antípodas» (2000); «as flores do son» (2002); «o ilimite verde - malcata - sete geografias» (2003); «biofagia» (2003); «deste lado da morte ninguém responde» (2005); e três de ensaio: «Natércia Freire» (2000); «Só a viagem responde - sobre Maria da Graça Freire» (2003); «Um promontório na sede» (no prelo).

Está representado em várias antologias em Portugal: «Anos 90 e Agora: uma antologia da nova poesia portuguesa» (2004); «Algarve: Todo o Mar» (2005); e no estrangeiro: «Neuf Poètes Portugais d'Aujourd'hui», Universidade de Montpellier (2005) e «Poesia Viva», Croácia, Mutants, (2005).

Pedro Sena-Lino é também crítico de poesia, colaborando no suplemento Mil Folhas, do jornal Público.


O Irmão dos Mabecos

Quem pôs alguma vez os pés em África fica com ela no corpo... sente-lhe o
sangue e a extrema solidão povoada de memórias... África, onde a memória pode ser memória de futuro...


A Livraria Almedina anuncia a apresentação do livro «O Irmão dos Mabecos», da autoria de Carlos Mota, com a publicação da editora Papiro. O evento realizar-se-á no dia 31 de Março, às 21h30, na Almedina do Arrábida Shopping.
Carlos Mota publicou, «António Sérgio, Pedagogo e Político» (Cadernos do Caos, Porto, 2000); «Breve História da Educação no Ocidente» (Cadernos do Caos, Porto, 2003); «20 Contos de Euros Macutas e Outras Quinhentas», com Paulo Silva (Cadernos do Caos, Porto, 2004) e «O Coronel» (Crónicas),(Ausência, V.N.Gaia, 2005).


A Ideia da Europa

A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo. [...] Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da ideia de Europa.
George Steiner



Ainda na Livraria Almedina, no Arrábida Shopping, mas a 1 de Abril, às 21h30, terá lugar o colóquio de Relações Internacionais «A Ideia da Europa», com a presença dos professores doutores Fernando de Sousa, Milan Rados e José Pedro Teixeira Fernandes.

Sem desprimor para com os outros professores convidados para o colóquio, eu que fui aluno de Milan Rados, devo dizer que vale a pena ouvi-lo.
Milan Rados nasceu na Bósnia-Herzegovina. Obteve a Licenciatura em língua Servo-Croata e Literatura Jugoslava na cidade de Belgrado.
Iniciou a sua actividade profissional como jornalista, tendo desempenhado essa função em diversos órgãos de comunicação social da ex-Jugoslávia. Em 1997, publicou o dicionário Servo-croata - Português, Português - Servo-croata.
Em 1999, deu à estampa o livro «Quem Matou a Jugoslávia?», e, mais
recentemente, «A Política Externa da União Europeia».
Doutorado em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade
do Minho, é professor universitário especialista em Estudos Europeus e
Política Externa.

22 março 2006

A Outra Face da Cidade Surpreendente

Bata para entrar n'A Outra Face da Cidade Surpreendente

Não raras vezes me têm perguntado se o Porto é, ou não, tal como tem sido mostrado neste blogue. Se respondesse com o velho ditado que diz «quem o feio ama, bonito lhe parece», como já me foi sugerido, mentiria, não por a cidade me desgostar, mas porque ela é realmente interessante, bonita e surpreendente.

A cidade de granito, a que foi sendo construída até à primeira metade do século XX, adaptando-se pacientemente ao relevo físico da parte final do vale do Douro, constitui um conjunto urbano admirável. É essa parte do Porto que tem sido mostrada aqui, ignorando, de algum modo, a desertificação que a urbe tem conhecido de há trinta anos para cá.

O declínio, contudo, não lhe tem beliscado a respeitabilidade. A dignidade da decadência da cidade de granito está representada naquele pobre batente sem serventia, que resiste à passagem do tempo na porta de uma casa abandonada e que assinala, aqui, a entrada para algo que devia a mim próprio há algum tempo, a abordagem fotográfica à outra face da cidade surpreendente.

16 março 2006

Vai no Batalha



A expressão popular portuense «vai no Batalha» - que significa «não acredito» - poderia servir de divisa à saga por que passou aquela sala de espectáculos, da fundação ao encerramento no Verão de 2000.

Nesse ano, o Cinema Batalha tinha uma média de dois ou três espectadores por sessão. A administradora da empresa Neves & Pascaud, proprietária do imóvel, queixava-se, então, das receitas que não davam «nem para pagar a luz», e lembrava que a última enchente tinha acontecido dois anos antes com o Titanic. Um momento que talvez tenha sido doloroso para Margarida Neves, cuja família detém uma longa tradição na exibição cinematográfica no Porto.



O seu avô, Manuel da Silva Neves, associado a Edmond Pascaud, fundou a primeira sala de cinema do Porto, o High Life, na actual Rotunda da Boavista. Era um barracão com o chão de terra batida que veio substituir as exibições de cinema ambulante pelas sessões regulares. Dois meses depois o High Life mudou de local, para a Cordoaria, e em 1908 transferiu-se para a Praça da Batalha, com a designação de Novo Salão High Life.



1913 foi um ano grande para a Neves e Pascaud. Abriu o Salão Jardim da Trindade e baptizou o High Life com o nome de Cinema Batalha, ambos instalados em edifícios concebidos para a exibição cinematográfica. Quatro décadas depois, em 1947, António Neves, filho do fundador, inauguraria o moderníssimo Batalha, produto da imaginação do arquitecto Artur Andrade.



Um interessante grafismo, assinado por Péres, na capa de um pequeno programa, com a inscrição Cine Batalha, o mais antigo do Porto. Telefone 1407.
No interior anunciavam-se, entre outos, filmes da Paramount - As Cruzadas, de Cecil B. de Mille, A Noiva que Volta, com Claudette Colbert - e da Castello Lopes - O Mistério do Subterrâneo, com John Wayne. «Para breve», prometia-se, «a vedeta de palmo e meio Shirley Temple, na sua grande criação A Princezinha da Rua, um filme delicioso, com uma efabulação cheia de pitoresco». Tudo a «preços de Verão» entre 1$00, na 2ª plateia, e 3$00, no balcão.

Modernidade que causaria alguns engulhos. O então presidente da Câmara do Porto, um tal Luís de Pina, revelou-se contra a insolência artística do edifício, considerando-a provocadora dos bons costumes. Vai daí, mandou tapar um mural decorativo, pintado no interior do cinema por Júlio Pomar, e retirar as iniciais CB dos puxadores das portas, que o adepto da ditadura olhava como indiciadoras de um Comité Bolchevista.



De então para cá o Batalha viveu tempos áureos, até o lento declínio o ter levado ao encerramento.



Alguns meses depois do fecho, com a Capital Europeia da Cultura à porta, foram anunciadas obras de reabilitação, para que o Batalha integrasse as programações da Porto 2001 e do Fantasporto. Outros projectos se seguiram sem que a situação do edifício mudasse.



Este mês, finalmente, o Batalha reabriu de cara lavada, com um espectáculo musical e a promessa de uma «grande festa» de inauguração em Abril. Aguardemos, para ver e crer que desta vez o sopro de vida naquele espaço... não «vai no Batalha».