05 dezembro 2007

Valeu a pena


A noite estava marcada pelo frio, pela neblina e pela fraca mobilização popular. Mesmo assim fez-se a festa, promovida por um grupo de cidadãos, sem apoios oficiais.
Os sinos tocaram a rebate, como há onze anos atrás, quando a UNESCO classificou o centro histórico da cidade como Património Mundial.


Houve música e um silêncio negro, trazido por Pedro Burmester que interpretou 4’33’’ de John Cage.


O Porto comemorou, tristonho, o 4 de Dezembro, o que não acontecia há seis anos. Só por isso, pelo quebrar da indiferença sobre tão importante momento da história recente da cidade: valeu a pena!

23 novembro 2007

Cidadãos do Porto, SA

«Cidadãos do Porto, Sociedade Aberta é uma rede de cidadãos do Porto (e região) interessados e preocupados com a sua cidade, o seu património e desenvolvimento.
O nosso território de preocupação e acção é o que se inscreve na Planta Redonda, ou seja o Centro Histórico e a Baixa, e a rede baseia-se no voluntariado e na independência.
Pretende-se mobilizar, para objectivos comuns, os cidadãos preocupados com o Centro Histórico do Porto, património mundial inscrito na lista da UNESCO desde 1996, independentemente da sua cor política, religiosa, clubista ou qualquer outra.
Como projecto imediato estamos a preparar a comemoração do 11º aniversário da classificação do Centro Histórico do Porto como Património Mundial, que se celebra a 4 de Dezembro.
Este ano, vamos fazer uma festa, apesar de ser Inverno, e dia de trabalho. Calha numa terça-feira e provavelmente choverá. A festa terá de ser depois das 18h30 e para protecção estamos a preparar capas de chuva, identificadas com o símbolo do Património Mundial
O nosso lema para este ano é o eu imPORTOme
A nossa prioridade é a mobilização, por isso precisamos de si, dos seus 11 amigos e dos 11 amigos deles. Estamos a ultimar o programa da celebração, aguardando algumas confirmações e orçamentos, e logo que fique pronto seguirá para todos os que, como é o seu caso, se registaram neste endereço 4.12.2007@gmail.com. A hora é de alargar o número de participantes registados, para começarmos a poder estimar quantidades de coisas a contratar. Viva o Porto!»

Cidadãos do Porto SA

24 outubro 2007

Indústrias Culturais - o blogue e o livro

Indústrias Culturais - Imagens Valores e Consumos é o título do último livro de Rogério Santos. A obra é baseada nos textos que o autor foi escrevendo no seu blogue, um espaço que alimenta diariamente, de onde observa e comenta a realidade dos acontecimentos que remetem para o universo da reprodução técnica da cultura, faz a leitura de livros e artigos de jornais sobre a área, e partilha os mesmos assuntos com outros investigadores ou simples leitores. O livro será apresentado amanhã, 25 de Outubro, pelas 19h00, na Livraria Almedina do Atrium Saldanha, em Lisboa, por António Pinto Ribeiro.

06 outubro 2007

Se esta rua fosse minha

Quatro instantâneos de 5 de Outubro, o dia em que o Plano B transformou a Rua de Cândido dos Reis num espaço aberto a sucessivos eventos culturais.



A performance Spirits - onde espíritos do passado, unidos pelo destino, invadem as ruas entrando num mundo que já não é seu - interpretada por Helena Oliveira e João Saraiva. Uma produção da PIA, Projectos de Intervenção Artística e Cultural.


Silêncios, a pintura monocromática de Nuno Cabral exposta no Plano B


E nova performance, Maria Braun in Love, inspirada em três histórias de amor do cinema e da literatura, com a direcção artística de Dörte Lange.

13 setembro 2007

Bruma



Neblina que, vinda do Atlântico numa tarde recente, num divertimento de tapa destapa, mostra esconde, penetrou pelo vale do Douro e se instalou nas ribas do Porto e de Gaia.

08 setembro 2007

Mar chão



Navio que rumou a sudoeste alguns minutos após o ocaso de ontem, depois de ter zarpado de Leixões, desaparecendo no mar e na noite.

24 julho 2007

Na poeira da memória

Na Rua de Passos Manuel há um local que desperta a atenção dos transeuntes mais atentos. Param e espreitam, surpreendidos perante um antigo armazém de tecidos que continua em plena laboração. Da estrutura do edifício, construído em 1860, aos objectos que o povoam, quase tudo ali remete para o passado. O soalho de tábua trincada, as enormes bancas de trabalho, o postigo e as divisórias em madeira do escritório, o velho cofre, uma prensa e até uma antiga balança de dois pratos e travessão, com os pesos alinhados. Numa das paredes interiores há ainda uma marca que indica ter ali funcionado uma leiloeira.



A fundação do actual armazém remonta a 1921. O Porto de então estava em pleno crescimento, constituindo um pólo de atracção em toda a região norte do país.



José Gonçalves, um dos fundadores, começou a trabalhar em Guimarães, aos 12 anos de idade. Quando chega ao Porto, para exercer a profissão de viajante, é já um jovem adulto cheio de esperança e vontade de singrar. Passa a visitar os clientes do interior do país, munido de uma mala com amostras de tecidos, e regressa à casa mãe com encomendas.



Aqui conheceu Serafim Soares Monteiro, chefe de armazém com comprovada experiência mercantil, adquirida desde 1905, ano em que principiara a trabalhar numa firma do Largo dos Lóios. Ligados por uma sólida amizade e auxiliados financeiramente por João Rodrigues Loureiro – um industrial de Valença do Minho, conterrâneo e protector de Gonçalves, que o tinha levado para Guimarães em 1906 como marçano – fundam o armazém de lanifícios Gonçalves, Monteiro & Cia., Lda. O negócio prospera rapidamente na baixa fervilhante de actividade. Compram tecidos por grosso a vinte fábricas portuguesas e quatro inglesas, vendendo depois para todo o Portugal e colónias.



Com a morte dos fundadores a firma passa para os herdeiros, que nos anos 70 compram o prédio e avançam com um projecto de modernização das instalações. Esse desígnio, que alteraria por completo o que lá encontramos, viria a ficar pelo caminho devido à instabilidade provocada pela Revolução de Abril e ao posterior desaparecimento prematuro de José Milhão, o sócio mentor da remodelação.

José Augusto Gonçalves, um dos donos actuais e homónimo do fundador, afirma que há vinte anos se contavam pelas dezenas os armazéns deste ramo no Porto. Hoje subsistem apenas uns três ou quatro.



Mostra-me uma peça de surrobeco, um pano castanho e grosso caído em desuso juntamente com o burel, como exemplo dos velhos tecidos que continua a vender, para grupos de teatro e ranchos folclóricos, a par das actuais e excelentes casimiras importadas de Itália e dos poliésteres asiáticos.



Não se queixando do negócio acrescenta que, quando aparecer um comprador para o edifício, fechará as portas e irá para casa, dissipando em pó este interessante episódio da memória da cidade.