29 dezembro 2004

Primeiro Olhar - de Três



Primeiro olhar, de três, no Largo do Terreiro


28 dezembro 2004

Vento de Março


Dos Lados do Mar Como Pelléas, também o vento de março vem dos lados do mar. Há nele uma aspereza de que sempre gostei: a da fala dos homens que estendem as redes no sol dos varais, a dos frescos de Siena onde também passou um vento frio ao anoitecer - o das escarpas de Alpedrinha, que sempre, sempre, me escapava entre os dedos e deixava nos cabelos um cheiro à matinal luz da resina. O que entrou pela janela esta manhã e me bate na cara traz o aroma das dunas, cheira a barcos, ferrugem, alcatrão. É o vento da Cantareira. Eugénio de Andrade

27 dezembro 2004

A Cidade Equestre



Porto

A cidade equestre
No rio mergulha
Seus cascos de granito
E sobe
A galope
Encosta arriba

Num salto a prumo
(Lá onde o casario morre)
Upa!
É uma torre

Torre de pedras e nuvem
De pássaros de fogo
De corpo de mulher
Torre de tudo e de quanto
O sonho a palavra o canto
Pode e quer

Luís Veiga Leitão

23 dezembro 2004

Poema Panfletário - para um Natal à la page



(...)
«Vai morrer esta noite à meia-noite. E pronto!
E um pai natal de gravata e accent do sul
ou regional virá nos feixes, sobre as ondas
anunciar a boa-nova a estes tempos:
o fontanário as fitinhas os quilómetros
de asfalto o coreto os milhões do PIB
as siglas várias da pedincha natural
- em suma, os Fahrenheit que medem o sucesso.
E os Anjos Adjuntos e mesmo os Sem Pasta,
no beija-bota que assegura a eternidade
terrena, entoarão em coro o estribilho:
"Glória ao Senhor na terra, paz a deus na lonjura"»

Urbano Bettencourt

Excerto de: Poema Panfletário - para um Natal à la page, sobre Vai Nascer Esta Noite à Meia-noite em Ponto, de David Mourão-Ferreira.

22 dezembro 2004

Quartzo Feldspato e Mica


Ordem Terceira de S. Francisco

«O Porto não é a cidade dos anjos, nem a cidade da luz, nem a cidade branca. É feito, de uma pedra onde todas as partes brilham - e no entanto é escura, sólida, tensa, pesada.
É feito, de mica que é um pequeno espelho mineral, de quartzo que pode ser absolutamente transparente, ou de feldspato, de cor sedosa, vagamente rosa. Mas, a pedra do Porto, feita de tanta luz, é escura e a cidade é assim uma cidade do Norte, iluminada por essa luz que ninguém melhor do que os pintores dinamarqueses de Skagen conheciam.»

( Do prefácio, de José Pacheco Pereira, ao livro de Carlos Magno, O Poder Visto do Porto e o Porto Visto do Poder, Porto, Dividendo Edições, 1998 )