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23 dezembro 2006

Longa vida à Livraria Fernando Machado

Há dias, quando cultivava o meu vício de passear de máquina fotográfica, desta vez na tentativa de conseguir uma fotografia das pobres iluminações natalícias da Baixa, tive uma agradável surpresa. A Livraria Fernando Machado, apareceu-me, no meio da noite, reluzente, como nova, bem destacada da escuridão por uma luz esplêndida.



Lembrei-me então da notícia de O Tripeiro, na edição deste mês, sobre a Fernando Machado, anunciando que a livraria estava de regresso aos Clérigos, mais bonita e mais funcional, portas abertas a todos, com música em fundo que convida à permanência, disposta a retomar o seu lugar na cultura portuense.
O que vale, ainda segundo O Tripeiro, é que as livrarias, ao contrário dos homens morrem mas podem ressuscitar.
Longa vida, então, à Livraria Fernando Machado!

19 novembro 2006

Latina, a livraria que tem Camões como patrono

Segundo uma crónica de Germano Silva, publicada no Jornal de Notícias há uns dois anos, Luís Vaz de Camões nunca terá passado pelo Porto. Era homem de outros percursos, doutras paragens semeadas de aventuras que aqui não encontraria.
A cidade, também, pouco o refere. Deu-lhe o nome a uma rua, ergueu-lhe um interessantíssimo, mas modesto, busto desgrenhado, virado ao vento sul do Atlântico num recanto da Avenida Brasil, e comemora-o no cunhal da Livraria Latina, casa de letras que o assumiu como patrono.

O Camões da Latina, que já aqui vimos, despeitado, a meter conversa com a figura feminina que se encontra na esquina oposta, do outro lado da Rua de Santa Catarina, é, imaginem, da autoria de alguém que, tendo formação de escultor, ficou conhecido como um dos pintores que melhor soube retratar o Porto, o aguarelista António Cruz. Deve-se a Henrique Perdigão, fundador da Latina em 1942, a substituição da figura de Mercúrio - companhia inadequada, na opinião do editor-livreiro - pela de Luís de Camões, na fachada da livraria.
Este preciosismo, que acabou por constituir uma boa homenagem da cidade ao nosso maior poeta, não é de admirar se nos aproximarmos um pouco de Henrique Perdigão. Era um literato, decidido, inovador, pleno de iniciativa, que dedicou vinte anos da sua vida à elaboração do Dicionário Universal de Literatura, obra prestigiada tanto em Portugal como no Brasil, onde ficou conhecido como Dicionário Perdigão.

Para comemorar a inauguração da livraria, Henrique Perdigão organizou um concurso literário, o primeiro realizado em Portugal. Abria assim também, de forma inédita, as edições da Colecção Latina que, em menos de três anos, poriam nos escaparates das livrarias quarenta novas obras - um prodígio para a época - de autores como António Botto, Teixeira de Pascoaes e João Gaspar Simões, entre outros.



Henrique Perdigão considerava a Latina como «a mais moderna organização livreira e editorial do país.» Ali podiam encontrar-se «livros de tudo e para todos, sobre Letras, Filosofia, Artes e Ciências e ainda tratados de Medicina, Cirurgia, Engenharia, Direito, indústrias têxteis metalúrgicas e eléctricas, contabilidade comercial, etc, etc.» Vendia ainda, por baixo de mão e com risco não despiciendo, livros políticos e outros proibidos pelo regime de Salazar, que incluíam autores como Jorge Amado, Raul Rego, Henrique Galvão, Cunha Leal e pasme-se... duas obras de Aquilino Ribeiro, Quando os Lobos Uivam e Príncipes de Portugal.

A ele se deve a iniciativa da primeira página literária nos jornais do Porto, publicada em O Primeiro de Janeiro sob a direcção do jornalista Jaime Brasil. Mais tarde, O Comércio do Porto e o Jornal de Notícias seguir-lhe-iam as pisadas.

Morreria prematuramente, em 1944, numa das suas deslocações ao Brasil, país com que mantinha uma estreita relação afectiva, para comprar livros que divulgaria em Portugal. Sucedeu-lhe o filho, Mário Perdigão, que manteve a Latina no roteiro bibliográfico portuense durante 53 anos.





Uma das características da tradicional livraria era o enorme pé-direito, preenchido com livros até ao tecto, que, fazendo a delícia dos turistas, «impedia o acesso do público às obras», segundo Henrique Perdigão, neto homónimo do fundador, que assumiu a decisão da renovação da Latina há dois anos. As obras foram ditadas por «razões comerciais e de estabilidade da estrutura do edifício», acrescentou.



O novo espaço, que conjuga a leveza e a elegância permitidas por materiais como a madeira e o aço, mantém a emblemática parede, agora acessível, pejada de livros. Entretanto a livraria duplicou os títulos e aumentou a aposta nos livros temáticos. A avaliar pelas declarações do proprietário, a Latina está de novo, como quando foi fundada, com o olhar posto no futuro.

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28 de Novembro

Duas notas
Uma para recomendar a leitura da adenda de JRP, no Comboio Azul, ao que aqui se escreve acerca de Camões e o Porto.
A outra, para corrigir a data desta entrada, que foi publicada a 24 de Novembro. O dia 19 é a data da gravação de um rascunho inacabado.

07 dezembro 2005

Lello & Irmão - uma livraria deslumbrante



No dia 13 de Janeiro de 1906, por volta do meio-dia, a baixa portuense acotovelava-se para ver as individualidades mais destacadas das Letras portuguesas, professores universitários, artistas, jornalistas, homens políticos e comerciantes do Porto, entre os familiares dos proprietários da Livraria Lello e Xavier Esteves, autor do projecto do edifício a inaugurar, todos dirigindo-se para o interior daquela casa, onde se procederia à solenidade de abertura. Presentes figuras como Guerra Junqueiro, Abel Botelho, João Grave, Bento Carqueja, Aurélio da Paz dos Reis, Afonso Costa e muitos outros.



Depois de um beberete e de palavras elogiosas proferidas aos editores livreiros, Abel Botelho deixou registado o seu testemunho no Livro de Ouro da livraria, que se revelou premonitório: «...erigir um tão formoso templo ao divino culto da Emoção e da Ideia, é um grande acto de benemerência, e que, pelos seus largos e fecundos resultados, há-de ligar perduravelmente os nomes Lello & Irmão ao reconhecimento nacional».



A história da livraria Lello remonta a 1869, ano em que é fundada na Rua dos Clérigos a Livraria Internacional de Ernesto Chardron. Após o imprevisto falecimento de Chardron, aos 45 anos de idade, a casa editora foi vendida à firma Lugan & Genelioux Sucessores. Em 1894 Mathieux Lugan vendia a Livraria Chardron a José Pinto de Sousa Lello que possuía então uma livraria na Rua do Almada. Associado ao irmão, António Lello, mantêm a Livraria Chardron, com a razão social de José Pinto de Sousa Lello & Irmão, até 1919, ano em que o nome da sociedade muda para Lello & Irmão Lda.



Este verdadeiro ex-líbris da cidade atravessou o século XX, geração após geração, nas mãos da mesma família. Em 1995, José Manuel Lello decide realizar uma profunda transformação no interior da livraria, cuja herança, segundo as suas palavras, lhe «trazia não só um passado de ricas tradições mas também a exigência de fazer perdurar esse ideal de amor pelos livros, que se traduziu na edificação de uma obra arquitectónica única no mundo». O trabalho de restauro e de adaptação às actuais formas de uso foi entregue ao arquitecto Vasco Morais Soares.



Entrando hoje no interior da livraria, o visitante sente-se envolvido por um ambiente acolhedor, onde pontificam os livros e uma decoração impressiva. Uma vasta sala, com uma galeria que dá acesso a um escada ornamental, onde correm algumas mesas que servem para exposição dos livros. Bancos em madeira e revestidos a couro e estantes a toda a altura desta sala perfazem o espaço interior próprio de uma livraria actual, mas que guarda a memória do passado. Nos pilares, à esquerda e à direita, distinguem-se os bustos de distintos homens de letras: Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Tomás Ribeiro, Teófilo Braga e Guerra Junqueiro. O tecto, lavrado, resguarda no centro uma luminosidade diáfana que provém do amplo vitral em que se desenha o ex-libris de Lello & Irmão, Lda, com a conhecida divisa, «Decus in Labore».




Como escreveu um afamado jornalista do princípio do século, «a riqueza de tons do grande vitral, o recorte gracioso das janelas, a balaustrada da galeria e os grandes candelabros situados nos ângulos que demarcam esse espaço, as lindas ogivas que se entrelaçam no tecto sob os florões e que vêm morrer nas nervuras que correm pelos pilares até às mísulas, deixam o visitante deslumbrado».



A mesma admiração suscita a fachada em estilo neogótico, formada por um amplo arco abatido, cuja entrada se divide numa porta central, ladeada por duas montras.



Sobre este arco há uma janela tripla, fechada na platibanda e separada das pilastras, as quais são encimadas por coruchéus originais. Dos lados da janela, destacam-se duas figuras pintadas, da autoria de José Bielman, simbolizando uma a Arte e a outra a Ciência.



O resto da fachada completa-se com ornamentação fitográfica e com o nome da livraria. De realçar o rendilhado que encima o edifício, todo ele um monumento artístico que já mereceu classificação de património nacional.

Adaptação livre de um texto da livraria Lello & Irmão

14 março 2005

Camões e a Menina



À direita, Camões no cunhal da Livraria Latina. Do outro lado da rua, na esquina de Santa Catarina com a 31 de Janeiro, a menina, da antiga ourivesaria Reis & Filhos, para quem o poeta olha. O que lhe dirá Camões?


Vós que, de olhos suaves e serenos,
Com justa causa a vida cativais,
E que os outros cuidados condenais
Por indevidos, baixos e pequenos;

Se ainda do Amor domésticos venenos
Nunca provastes, quero que saibais
Que é tanto mais o amor despois que amais,
Quanto são mais as causas de ser menos.

E não cuide ninguém que algum defeito,
Quando na cousa amada se apresenta,
Possa deminuir o amor perfeito;

Antes o dobra mais; e se atormenta,
Pouco e pouco o desculpa o brando peito;
Que Amor com seus contrairos se acrescenta.

Luís Vaz de Camões

23 fevereiro 2005

Um Alfarrabista na Rua das Flores



A livraria Chaminé da Mota, detentora de «algumas obras classificadas como raridade, para além de numerosos manuscritos de escritores portugueses consagrados».



Um pormenor interessante: entre curiosidades bibliográficas antigas está um mocho, símbolo da sabedoria pela capacidade de perscrutar na escuridão.

Fica aqui o convite para amanhã virarmos as costas a esta vitrina, elevarmos o olhar para a fachada da Igreja da Misericórdia, atravessarmos a estreita rua - mandada abrir por D. Manuel I no início do século XVI - e entrarmos no templo.