Rua de Santa Catarina
A fotografia abaixo, da Casa Alvão, não prima pelo enquadramento nem pela beleza. Digamos que seria uma daquelas fotos que hoje, com a facilidade da manipulação digital, apagaríamos por não ter interesse. No entanto, apesar de não se perceber exactamente o que o fotógrafo quis retratar, porque os componentes principais da imagem – a rua de Santa Catarina e o edifício da esquina com a Praça da Batalha – nos aparecem amputados, o tempo concedeu-lhe um estatuto de interesse ao trazer até nós alguns pormenores de um mundo definitivamente desaparecido.
O volume do conjunto de edifícios que compõem o quarteirão em causa, que vai até à Rua de Passos Manuel, não foi muito alterado. A mudança estará nas lojas ao nível da rua e na maneira de vestir dos poucos transeuntes, que se apresentam enchapelados.
No local onde está hoje a
Livraria Latina, aquela que ostenta no cunhal
o busto de um Camões garboso - da autoria do pintor e escultor
António Cruz - vemos uma casa que anuncia Ferragens e Gramofones.
Por Santa Catarina corriam, então, duas linhas de carros eléctricos, o 16 e o 17 que ligavam a Batalha, pela Boavista, a Matosinhos e à Foz.
A escadaria de acesso lateral à Igreja de Santo Ildefonso não tinha ainda sido removida, para dar lugar a duas lojas que, apesar de pequenas, impediram a Porto 2001 de repor - no âmbito da remodelação da Praça da Batalha - o conjunto de escadas, ao pedirem uma indemnização exorbitante.


O
Coliseu, cuja torre aparece à direita no alto da foto acima, não tinha sido construído. Este pormenor leva-nos a concluir que a imagem da Casa Alvão é anterior a 1941, ano em que foi inaugurada aquela sala de espectáculos.