
A expressão popular portuense «vai no Batalha» - que significa «não acredito» - poderia servir de divisa à saga por que passou aquela sala de espectáculos, da fundação ao encerramento no Verão de 2000.
Nesse ano, o
Cinema Batalha tinha uma média de dois ou três espectadores por sessão. A administradora da empresa Neves & Pascaud, proprietária do imóvel, queixava-se, então, das receitas que não davam «nem para pagar a luz», e lembrava que a última enchente tinha acontecido dois anos antes com o
Titanic. Um momento que talvez tenha sido doloroso para Margarida Neves, cuja família detém uma longa tradição na exibição cinematográfica no Porto.

O seu avô, Manuel da Silva Neves, associado a Edmond Pascaud, fundou a primeira sala de cinema do Porto, o High Life, na actual Rotunda da Boavista. Era um barracão com o chão de terra batida que veio substituir as exibições de cinema ambulante pelas sessões regulares. Dois meses depois o High Life mudou de local, para a Cordoaria, e em 1908 transferiu-se para a Praça da Batalha, com a designação de Novo Salão High Life.

1913 foi um ano grande para a Neves e Pascaud. Abriu o Salão Jardim da Trindade e baptizou o High Life com o nome de Cinema Batalha, ambos instalados em edifícios concebidos para a exibição cinematográfica. Quatro décadas depois, em 1947, António Neves, filho do fundador, inauguraria o moderníssimo Batalha, produto da imaginação do arquitecto Artur Andrade.
Um interessante grafismo, assinado por Péres, na capa de um pequeno programa, com a inscrição Cine Batalha, o mais antigo do Porto. Telefone 1407. No interior anunciavam-se, entre outos, filmes da Paramount - As Cruzadas, de Cecil B. de Mille, A Noiva que Volta, com Claudette Colbert - e da Castello Lopes - O Mistério do Subterrâneo, com John Wayne. «Para breve», prometia-se, «a vedeta de palmo e meio Shirley Temple, na sua grande criação A Princezinha da Rua, um filme delicioso, com uma efabulação cheia de pitoresco». Tudo a «preços de Verão» entre 1$00, na 2ª plateia, e 3$00, no balcão. Modernidade que causaria alguns engulhos. O então presidente da Câmara do Porto, um tal Luís de Pina, revelou-se contra a insolência artística do edifício, considerando-a provocadora dos bons costumes. Vai daí, mandou tapar um mural decorativo, pintado no interior do cinema por
Júlio Pomar, e retirar as iniciais CB dos puxadores das portas, que o adepto da ditadura olhava como indiciadoras de um
Comité Bolchevista. 
De então para cá o Batalha viveu tempos áureos, até o lento declínio o ter levado ao encerramento.

Alguns meses depois do fecho, com a Capital Europeia da Cultura à porta, foram anunciadas obras de reabilitação, para que o Batalha integrasse as programações da Porto 2001 e do
Fantasporto. Outros projectos se seguiram sem que a situação do edifício mudasse.

Este mês, finalmente, o Batalha reabriu de cara lavada, com um espectáculo musical e a promessa de uma «grande festa» de inauguração em Abril. Aguardemos, para ver e crer que desta vez o sopro de vida naquele espaço... não «vai no Batalha».