31 dezembro 2004

Terceiro e Último Olhar



Terceiro e último olhar, no Largo do Terreiro


30 dezembro 2004

Segundo Olhar - de Três



Segundo olhar, de três, no Largo do Terreiro


29 dezembro 2004

Primeiro Olhar - de Três



Primeiro olhar, de três, no Largo do Terreiro


28 dezembro 2004

Vento de Março


Dos Lados do Mar Como Pelléas, também o vento de março vem dos lados do mar. Há nele uma aspereza de que sempre gostei: a da fala dos homens que estendem as redes no sol dos varais, a dos frescos de Siena onde também passou um vento frio ao anoitecer - o das escarpas de Alpedrinha, que sempre, sempre, me escapava entre os dedos e deixava nos cabelos um cheiro à matinal luz da resina. O que entrou pela janela esta manhã e me bate na cara traz o aroma das dunas, cheira a barcos, ferrugem, alcatrão. É o vento da Cantareira. Eugénio de Andrade

27 dezembro 2004

A Cidade Equestre



Porto

A cidade equestre
No rio mergulha
Seus cascos de granito
E sobe
A galope
Encosta arriba

Num salto a prumo
(Lá onde o casario morre)
Upa!
É uma torre

Torre de pedras e nuvem
De pássaros de fogo
De corpo de mulher
Torre de tudo e de quanto
O sonho a palavra o canto
Pode e quer

Luís Veiga Leitão

23 dezembro 2004

Poema Panfletário - para um Natal à la page



(...)
«Vai morrer esta noite à meia-noite. E pronto!
E um pai natal de gravata e accent do sul
ou regional virá nos feixes, sobre as ondas
anunciar a boa-nova a estes tempos:
o fontanário as fitinhas os quilómetros
de asfalto o coreto os milhões do PIB
as siglas várias da pedincha natural
- em suma, os Fahrenheit que medem o sucesso.
E os Anjos Adjuntos e mesmo os Sem Pasta,
no beija-bota que assegura a eternidade
terrena, entoarão em coro o estribilho:
"Glória ao Senhor na terra, paz a deus na lonjura"»

Urbano Bettencourt

Excerto de: Poema Panfletário - para um Natal à la page, sobre Vai Nascer Esta Noite à Meia-noite em Ponto, de David Mourão-Ferreira.

22 dezembro 2004

Quartzo Feldspato e Mica


Ordem Terceira de S. Francisco

«O Porto não é a cidade dos anjos, nem a cidade da luz, nem a cidade branca. É feito, de uma pedra onde todas as partes brilham - e no entanto é escura, sólida, tensa, pesada.
É feito, de mica que é um pequeno espelho mineral, de quartzo que pode ser absolutamente transparente, ou de feldspato, de cor sedosa, vagamente rosa. Mas, a pedra do Porto, feita de tanta luz, é escura e a cidade é assim uma cidade do Norte, iluminada por essa luz que ninguém melhor do que os pintores dinamarqueses de Skagen conheciam.»

( Do prefácio, de José Pacheco Pereira, ao livro de Carlos Magno, O Poder Visto do Porto e o Porto Visto do Poder, Porto, Dividendo Edições, 1998 )

21 dezembro 2004

Memória Recente



A Ponte que Falta na Fotografia

Na altura em que foi colhida esta imagem, em Agosto de 1997, decorria o concurso para o projecto e construção da ponte do Infante, destinada a substituir a ponte Luís I - que ficaria reservada para o metro - como travessia rodoviária do Douro.

No ano anterior, Fernando Gomes, então presidente da Câmara Municipal do Porto, havia anunciado publicamente o projecto de uma ponte metálica, que na tradição da construção das grandes pontes do Porto, seria uma «obra de artista, uma autêntica escultura, de uma leveza impressionante». A ponte anunciada pelo edil, da autoria do arquitecto Adalberto Dias, tinha a particularidade de ser assimétrica, com um único pilar do lado de Gaia. Aí assentaria o tabuleiro em direcção à escarpa das Fontainhas, no Porto. Estava prevista ainda a construção de um tabuleiro inferior, que ligaria as duas margens do Douro.



Este projecto deu origem a uma intensa polémica pública. Matos Fernandes, engenheiro civil, professor na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, veio a terreiro, classificando a ponte de mamarracho, para colocar no meio de um relvado. E acrescentou que «numa ponte, a forma, o aspecto que ela apresenta, é um ponto
de chegada do projecto e nunca um ponto de partida», aludindo ao facto de os concorrentes à construção da obra, serem obrigados a desenvolver o projecto de engenharia de «uma solução concebida por quem nunca anteriormente projectou qualquer ponte, por mais insignificante que seja».

Adalberto Dias respondeu a Matos Fernandes, referindo que os estudos da ponte tinham sido da responsabilidade de uma equipa pluridisciplinar, que integrou engenheiros civis, de minas, de planeamento e transportes, geólogos, para além da área disciplinar da arquitectura e paisagismo, e que tinham sido acompanhados pelos serviços competentes das câmaras do Porto e de Gaia.

Rivalidade entre engenheiros e arquitectos, ou luta do lobbie das cimenteiras,
a verdade é que Adalberto Dias abandonou a solução da ponte metálica com duas travessias, para concorrer com uma versão em betão, de apenas uma travessia à cota alta. O projecto vencedor - o menos dispendioso para o erário público - foi o do engenheiro Adão da Fonseca, que daria origem à ponte que falta na fotografia,a actual Ponte do Infante D. Henrique.