(Texto de um velho e venerando Mestre)
«O rio Douro é, seguramente, o rio mais impressivo e rico de grandiosas perspectivas do velho mundo. No entanto -, apesar de tudo quanto tem sido escrito e publicado, desenhado e divulgado -, parece não ter tido ainda a fortuna de encontrar um verdadeiro escritor ou pintor que eternize a sua estranha e tácita beleza.
Junqueiro, que tantos anos viveu junto deste vale, que o percorreu dezenas e dezenas de vezes, que calcorreou os seus pendores -, não o viu. Antero, cremos que nunca o avistou senão junto do Porto. António Nobre apenas o contemplou da Foz. Raul Brandão só lhe viu a grandeza nos dias de temporal, do alto da Cantareira, sonhando no Avô, alto e louro como ele, desaparecido no mar. Pascoais apenas conheceu, pode dizer-se, o seu último filho: o Tâmega. Camões jamais o avistou. Eça, olhou-o com os olhos de Jacinto.
Em resumo: nenhum escritor ou poeta português teve a fortuna de abrir decididamente os olhos para a pujança, a austeridade, a força telúrica, deste estranho desfiladeiro aberto por esta serpente milenária vinda dos Montes Ibéricos!»
Sant'Anna Dionísio
23 agosto 2014
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
Esplêndida postagem, com magníficas imagens e texto do Santana Dionísio ( Guia da Gulbenkian ? ).
Um abraço, Carlos Romão
Exacto, João Menéres.
Um abraço.
Nem Torga?...
Costa
Lembrei-me de Torga ao ler o último parágrafo, onde é referida a «pujança, a austeridade, a força telúrica» do vale do Douro, mas não estou em condições de responder.
Mão amiga fez-me chegar um texto de Miguel Torga sobre o Douro, publicado no Diário XII, que abrange o período de 1973 a 1977, posterior, portanto, à prosa de Sant'Anna Dionísio, escrita nos anos 60.
__________________
«O Douro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta»
____________________
O facto de ser posterior explicará a omissão. Mas Vindima, romance de Torga com primeira edição em 1945 não o será.
Evidentemente, impera nestas coisas a subjectividade.
Costa
Vir até aqui é aprender mais... da Terra.
Abraços
Enviar um comentário