18 março 2005
Impressões de literatas, viandantes e memorialistas # 1
«Lisboa é um mostruário colorido e barroco de uma parte aventureira do nosso sangue. É, sobretudo, simultaneamente, um cais de embarque e desembarque da pressa que percorre o mundo. Cidade de muitas e desvairadas gentes, já lhe chamava o outro. Ora o Porto lembra-me antes uma séria e pacata citânia lusitana, murada da nossa altivez de cavadores. - Se de resto Garrett pode nascer do calor do seu coração, se António Nobre pode morar em paz dentro das suas portas, e se mesmo numa das suas cadeias pode ser escrito o Amor de Perdição, que demónio é preciso mais para honrar os pergaminhos de alguém?»
Miguel Torga
17 março 2005
Eu queria uma torre como esta
Metamorfose
Para a minha alma eu queria uma torre como esta,
assim alta,
assim de névoa acompanhando o rio.
Estou tão longe da margem que as pessoas passam
e as luzes se reflectem na água.
E, contudo, a margem não pertence ao rio
nem o rio está em mim como a torre estaria
se eu a soubesse ter...
uma luz desce o rio
gente passa e não sabe
que eu quero uma torre tão alta que as aves não passem
as nuvens não passem
tão alta tão alta
que a solidão possa tornar-se humana.
Jorge de Sena
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Estímulos
Obrigado ao Quartzo Feldspato e Mica, ao Portuense e ao Hotel Sossego pelas estimulantes referências a este blogue. O meu agradecimento é extensivo ao Atrium e ao Indústrias Culturais que, a seu tempo, já tinham aludido à Cidade Surpreendente.
15 março 2005
O Rosto da Cidade
Harmonia 1 - o centro histórico.
Harmonia 2 - o Cabedelo e o Jardim do Passeio Alegre, onde o Douro se esvai no mar.
Caos - a Cantareira.
14 março 2005
Camões e a Menina
À direita, Camões no cunhal da Livraria Latina. Do outro lado da rua, na esquina de Santa Catarina com a 31 de Janeiro, a menina, da antiga ourivesaria Reis & Filhos, para quem o poeta olha. O que lhe dirá Camões?
Vós que, de olhos suaves e serenos,
Com justa causa a vida cativais,
E que os outros cuidados condenais
Por indevidos, baixos e pequenos;
Se ainda do Amor domésticos venenos
Nunca provastes, quero que saibais
Que é tanto mais o amor despois que amais,
Quanto são mais as causas de ser menos.
E não cuide ninguém que algum defeito,
Quando na cousa amada se apresenta,
Possa deminuir o amor perfeito;
Antes o dobra mais; e se atormenta,
Pouco e pouco o desculpa o brando peito;
Que Amor com seus contrairos se acrescenta.
Luís Vaz de Camões
11 março 2005
Sol de Inverno # 5
Fim de tarde no Muro dos Bacalhoeiros; uma rua estreita, voltada para o rio, assente num pano da velha muralha fernandina.
08 março 2005
Não nasci por acaso nestas pedras...
Poema
(O Eugénio de Andrade espera-me num Café. Atravesso as ruas do Porto - a cidade onde nasci - com os punhos cerrados de dor.)
Não nasci por acaso nestas pedras
mas para aprender dureza,
lume excedido,
coragem de mãos lúcidas.
Aqui no avesso da construção dos tempos
a palavra liberdade
é menos secreta.
Anda nos olhos da rua,
pega lanças aos gestos,
tira punhais das lágrimas,
conclui as manhãs.
E principalmente
não cheira a museu azedo
ou musgo embalado
pela chuva da boca dos mortos.
Começa nos cabelos das crianças
para me sentir mais nascido nestas pedras.
Porto
- cidade de luz de granito.
Tristeza de luz viril
com punhos de grito.
José Gomes Ferreira
Antes a Pronúncia do Norte # 2
... ou o linguajar mediático.
«"Atão" acha que lhe posso perguntar...»
«A "prepósito" dos "Estadojunidos"...»
«...Nuno, tenho "quir" um pouco "pá" frente...»
«"Atão" acha que lhe posso perguntar...»
«A "prepósito" dos "Estadojunidos"...»
«...Nuno, tenho "quir" um pouco "pá" frente...»
Maria João Avilez em entrevista a Nuno Rogeiro, no programa «Outras Conversas» SIC Notícias, 6 Mar 2005
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