
Diz-nos Sant’Anna Dionísio que a primeira escola superior, de relativo nível científico, criada no Porto nasceu de uma iniciativa da burguesia portuense. Em 1761, os negociantes mais representativos do velho burgo, dirigiram uma petição a D. José I requerendo autorização para construir e manter por sua conta duas fragatas de guerra, destinadas a proteger e a comboiar os seus navios de comércio que saíssem ou demandassem a barra do Douro. Um decreto real determinou a criação de uma “aula” designada Real Escola Náutica, que está na origem da Real Academia da Marinha e Comércio, para quem o edifício acima começou a ser construído em 1803, antes da primeira invasão francesa. A Real Academia foi mais tarde transformada em Academia Politécnica e, em 1911, na Faculdade de Ciências. Hoje o edifício alberga a reitoria da Universidade do Porto.
Esta citação, de verdadeiro poder e autonomia da velha urbe, não é despicienda ao observar o Porto numa altura em que a cidade atravessa, talvez, um dos períodos mais críticos da sua história milenar, confrontada com a pobreza, a desertificação, a falta de iniciativa, a ruína do centro histórico e da baixa, e a perda de poder face à inépcia dos seus supostos representantes políticos na capital, deslumbrados com as sinecuras do eldorado centralista.
Voltando à fotografia, no centro está a Boavista com o obelisco do Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular, que durante decénios constituiu o ponto mais alto do local, difícil de distinguir no meio dos edifícios que entretanto por lá cresceram. No último plano, à esquerda, vislumbra-se no horizonte o azul de algo que continua a moldar a urbe, o oceano Atlântico.