09 agosto 2010
04 agosto 2010
O Douro Queen
Os cruzeiros no rio Douro são hoje anunciados, internacionalmente, em pé de igualdade com outros cruzeiros nos rios europeus, do Danúbio ao Reno, do Elba ao Sena ou ao Ródano.
Cumprida, ao longo de anos de exigências para com o poder central, a vontade do Douro navegável, falta agora reabrir a linha do caminho-de-ferro paralela ao rio, que ligava o Porto a Barca d’Alva e hoje fica pelo Pocinho. A linha do Douro para além da Régua, tal como tem acontecido com a do Tua e sucedeu com outras definitivamente encerradas, tem sido vítima de decisores estranhos ao desenvolvimento da região norte, gente que lhe tem aplicado a fórmula consabida: incompatibilizam-na com os passageiros para depois a fecharem, alegando que não tem procura.
Na fotografia vemos o Douro Queen (sic), um dos barcos que ligam o Porto a Vega Terrón, na região de Salamanca, passando sob a ponte da Arrábida.
30 julho 2010
29 julho 2010
O comboio constrói, a barragem destrói
O vale do Tua visto da janela do comboio em Julho de 2008.
CLASSIFICAÇÃO DA LINHA DO TUA COMO PATRIMÓNIO DE INTERESSE NACIONAL
Vimos convidar os senhores e senhoras jornalistas para participar numa Conferência de Imprensa, na próxima sexta-feira, dia 30/07, pelas 11.15h, no Café Majestic, no Porto, na qual será apresentada a resposta favorável dada ao Requerimento e o teor do Despacho relativo ao pedido de abertura do processo de classificação da Linha Ferroviária do Tua como Património de Interesse Nacional.
Este requerimento foi entregue no IGESPAR, no passado dia 26 de Março, por um conjunto de cidadãos que tem vindo a lutar pela classificação da Linha do Tua, assim como personalidades do meio cultural, artístico, académico, científico, ambientalista, político e sindical e é sustentado na Lei de Bases do Património Cultural (Lei nº107/2001 de 8 de Setembro).
Os subscritores deste documento consideram que a Linha do Tua merece a classificação como Património de Interesse Nacional, não só pelo papel histórico que desempenhou e pela obra-prima de engenharia portuguesa que constitui, mas também, e ainda, como exemplar único do património ferroviário e industrial do nosso país. Os requerentes consideram ainda que este património tem elevado potencial para o desenvolvimento turístico para a região e que tem que ser preservado e valorizado.
Para mais informações poderão contactar Manuela Cunha, 1ª subscritora do documento, através do número 962 815 445 ou Célia Quintas, também subscritora do documento, através do número 936 600 374.
Via Movimento Cívico pela Linha do Tua
22 julho 2010
Dos Clérigos e do Chiado
Sendo pouco dado a comparações entre realidades tão distintas como as cidades do Porto e de Lisboa, não resisto a reproduzir a comparação entre dois locais das duas urbes, estabelecida por Lady Jackson no livro a Formosa Lusitânia, em 1874, aproveitando para referir um blogue excelente, que acompanho há já algum tempo e que recomendo vivamente, o Do Porto e Não Só, donde foi retirada a citação. A autora, cujo livro foi traduzido por Camilo Castelo Branco, faz o elogio do "eixo barroco", composto pelas ruas dos Clérigos e 31 de Janeiro - então chamada de Santo António - deste modo:
Esta parte do Porto pode chamar-se realmente bella, muito mais bella que o Chiado: na verdade, não conheço nada em Lisboa n'este estylo que a possa igualar. Se tomarmos a Praça Nova por um valle como foi antigamente, e as duas ruas que se levantam em frente uma da outra, cada uma com a sua eminência coroada por uma bonita e antiga igreja, teremos assim um quadro muito attractivo que nos encanta pela surpreza”.
Uma observação ao título do livro, apesar de estarmos em 2010. O Porto e o norte de Portugal não integraram o território da Lusitânia, cuja capital ficava na actual Mérida, na Estremadura espanhola, mas sim o da Galécia (formosa ou não), com capital em Bracara Augusta, a actual cidade de Braga. Não somos lusitos, como propagava um hino da ditadura de Salazar, somos galaicos.
06 julho 2010
O Movimento pró-Partido do Norte no El País
O Movimento pró-Partido do Norte (MPN) é hoje notícia no jornal madrileno El País. Paradoxalmente é de Espanha, da cidade mais centralista da península, que surge a primeira grande notícia sobre o MPN, fundado a 29 de Maio passado no Clube Literário do Porto. Os jornais de Lisboa, que gostam de ser encarados como nacionais, têm ignorado o MPN. As excepções vão para o I e para o Público. As televisões têm tido o mesmo comportamento, ao contrário do Porto Canal e do Regiões TV, onde o movimento tem sido notícia.
Apesar deste panorama, PS e PSD, os dois partidos políticos que governam Portugal numa dança de cadeiras que dura há 35 anos, concertaram-se, acusando o incómodo provocado pelo surgir de uma nova força política que poderá tirar-lhes votos, logo diminuir-lhes o poder. Veja-se como Rui Rio, um eterno centralista à espera de uma brecha para ingressar num governo de Lisboa, ergueu a voz há dias a propósito das portagens nas SCUT, para segurar o eleitorado e não perder o comboio do descontentamento, que está em marcha.
O Movimento pró-Partido do Norte tem como primeiro objectivo a Regionalização, como meio de combater o empobrecimento e a desertificação do território, resultantes das políticas de concentração dos recursos nacionais na região de Lisboa. É composto por gente dos mais variados quadrantes políticos, eleitores da esquerda à direita, preocupados com a decadência daquela que, apesar de tudo, ainda é a principal região exportadora do país. Defende a regionalização a custo zero – através do aproveitamento das actuais estruturas das comissões de coordenação regionais, da eliminação dos cargos dos governadores civis e da reorganização administrativa do território, entre outros. O MPN não tem quaisquer propósitos separatistas, pelo contrário sustenta que Portugal não se levantará enquanto o Norte for encarado pelo poder centralista como uma parte exterior ao todo nacional.
A notícia no El País: www.elpais.com
Apesar deste panorama, PS e PSD, os dois partidos políticos que governam Portugal numa dança de cadeiras que dura há 35 anos, concertaram-se, acusando o incómodo provocado pelo surgir de uma nova força política que poderá tirar-lhes votos, logo diminuir-lhes o poder. Veja-se como Rui Rio, um eterno centralista à espera de uma brecha para ingressar num governo de Lisboa, ergueu a voz há dias a propósito das portagens nas SCUT, para segurar o eleitorado e não perder o comboio do descontentamento, que está em marcha.
O Movimento pró-Partido do Norte tem como primeiro objectivo a Regionalização, como meio de combater o empobrecimento e a desertificação do território, resultantes das políticas de concentração dos recursos nacionais na região de Lisboa. É composto por gente dos mais variados quadrantes políticos, eleitores da esquerda à direita, preocupados com a decadência daquela que, apesar de tudo, ainda é a principal região exportadora do país. Defende a regionalização a custo zero – através do aproveitamento das actuais estruturas das comissões de coordenação regionais, da eliminação dos cargos dos governadores civis e da reorganização administrativa do território, entre outros. O MPN não tem quaisquer propósitos separatistas, pelo contrário sustenta que Portugal não se levantará enquanto o Norte for encarado pelo poder centralista como uma parte exterior ao todo nacional.
A notícia no El País: www.elpais.com
02 julho 2010
Ribeira Negra
Um texto de Eugénio de Andrade sobre o painel Ribeira Negra, de Júlio Resende.
«Agora vinde cá, que vos quero dizer uma coisa. Como sabem, o grande cronista desta terra foi Camilo Castelo Branco, esse diabo, que não é tão feio como o pintam. Mas depois de Camilo vieram outros: o Ramalho, que era um homem de respeito, o Raul Brandão, que tinha um olho muito fino para os pescadores da Foz e para aquele mar, e já nos nossos dias, a Agustina, que fala do Porto ora com azeda melancolia ora com incomparável sedução. Mas a cidade tem outro cronista admirável, em que se não repara tanto por não se servir de palavras. É de Júlio Resende que estamos a falar. Agustina e Resende são em rigor contemporâneos, mas o olhar inquisitoriamente poético de ambos contempla realidades muito diferentes. O mundo que despertou o interesse da romancista é o da burguesia decadente, o da aristocracia rural, com algumas incursões às esferas da finança e da política; ou seja, um mundo pelo qual a pintura de Resende tem um soberano desprezo.»
«A gente a que o pintor sempre procurou dar corpo e alma, e que lhe sai ao caminho mal pega no lápis e no pincel, é aquela a que Fernão Lopes chamou arraia-miúda. Isto, que nunca passou despercebido àqueles que seguiram empenhados a sua obra, tornou-se pura evidência a todos quantos tinham olhos na cara a partir de Ribeira Negra, o magnificente historial da miséria e da grandeza da população ribeirinha do Porto, exposto pela primeira vez em 1984, no Mercado Ferreira Borges.»
«Há uma brutalidade nesta pintura, digamo-lo sem qualquer hesitação; brutalidade que consiste em obrigar-nos sem trégua a pensar que o homem é o mais mortal dos animais, que o seu corpo não cessa de ser corroído pela lepra do tempo, que o esplendor da sua juventude se converte com facilidade na mais grotesca paródia de si próprio, que tudo nele está inexoravelmente votado à morte.»
«É uma crueldade, é certo, mas a compensá-la há também em Resende uma infinita piedade por estas criaturas cobertas de farrapos, quase sempre mulheres envelhecidas muito antes de serem velhas, porque tudo lhes faltou excepto o mais amargo da vida, e a quem também coube em sorte, apesar de tudo, semear a terra da alegria.»
«Se pensais que exagero, olhai este painel de cerâmica, variações da anterior Ribeira Negra, que lhe encomendou a Câmara do Porto justamente para a Ribeira, num gesto análogo ao da Câmara de Barcelona para murais e esculturas de Miró.»
«Com mão aérea e certeira, o pintor, uma vez mais, povoou essa centena de metros quadrados de grés com as suas visões líricas ou dramáticas: crianças, mulheres, adolescentes, animais repartem entre si o espaço e o ritmo, a cor e a luz da sua cidade, com um lúcido ardor que é o outro nome da sabedoria. Posso garantir-vos que desde os seus primeiros trabalhos,* toda esta figuração, vinda do mais rasteirinho da terra,** estava destinada a ascender pela sua mão a essa suprema dignidade que só a arte confere. Eu creio que o que se faz aqui é mais do que perpetuar o rosto de uma cidade, de um país – é dar, apesar de tudo, algum sentido à vida.»
* Pascoal, 1942; Rua, 1946
** Alentejano, 1950; Ribeira, 1952; A Lota, 1956
_____
Em A Cidade de Garrett, Fundação Eugénio de Andrade, 1993
«Agora vinde cá, que vos quero dizer uma coisa. Como sabem, o grande cronista desta terra foi Camilo Castelo Branco, esse diabo, que não é tão feio como o pintam. Mas depois de Camilo vieram outros: o Ramalho, que era um homem de respeito, o Raul Brandão, que tinha um olho muito fino para os pescadores da Foz e para aquele mar, e já nos nossos dias, a Agustina, que fala do Porto ora com azeda melancolia ora com incomparável sedução. Mas a cidade tem outro cronista admirável, em que se não repara tanto por não se servir de palavras. É de Júlio Resende que estamos a falar. Agustina e Resende são em rigor contemporâneos, mas o olhar inquisitoriamente poético de ambos contempla realidades muito diferentes. O mundo que despertou o interesse da romancista é o da burguesia decadente, o da aristocracia rural, com algumas incursões às esferas da finança e da política; ou seja, um mundo pelo qual a pintura de Resende tem um soberano desprezo.»
«A gente a que o pintor sempre procurou dar corpo e alma, e que lhe sai ao caminho mal pega no lápis e no pincel, é aquela a que Fernão Lopes chamou arraia-miúda. Isto, que nunca passou despercebido àqueles que seguiram empenhados a sua obra, tornou-se pura evidência a todos quantos tinham olhos na cara a partir de Ribeira Negra, o magnificente historial da miséria e da grandeza da população ribeirinha do Porto, exposto pela primeira vez em 1984, no Mercado Ferreira Borges.»
«Há uma brutalidade nesta pintura, digamo-lo sem qualquer hesitação; brutalidade que consiste em obrigar-nos sem trégua a pensar que o homem é o mais mortal dos animais, que o seu corpo não cessa de ser corroído pela lepra do tempo, que o esplendor da sua juventude se converte com facilidade na mais grotesca paródia de si próprio, que tudo nele está inexoravelmente votado à morte.»
«É uma crueldade, é certo, mas a compensá-la há também em Resende uma infinita piedade por estas criaturas cobertas de farrapos, quase sempre mulheres envelhecidas muito antes de serem velhas, porque tudo lhes faltou excepto o mais amargo da vida, e a quem também coube em sorte, apesar de tudo, semear a terra da alegria.»
«Se pensais que exagero, olhai este painel de cerâmica, variações da anterior Ribeira Negra, que lhe encomendou a Câmara do Porto justamente para a Ribeira, num gesto análogo ao da Câmara de Barcelona para murais e esculturas de Miró.»
«Com mão aérea e certeira, o pintor, uma vez mais, povoou essa centena de metros quadrados de grés com as suas visões líricas ou dramáticas: crianças, mulheres, adolescentes, animais repartem entre si o espaço e o ritmo, a cor e a luz da sua cidade, com um lúcido ardor que é o outro nome da sabedoria. Posso garantir-vos que desde os seus primeiros trabalhos,* toda esta figuração, vinda do mais rasteirinho da terra,** estava destinada a ascender pela sua mão a essa suprema dignidade que só a arte confere. Eu creio que o que se faz aqui é mais do que perpetuar o rosto de uma cidade, de um país – é dar, apesar de tudo, algum sentido à vida.»
* Pascoal, 1942; Rua, 1946
** Alentejano, 1950; Ribeira, 1952; A Lota, 1956
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Em A Cidade de Garrett, Fundação Eugénio de Andrade, 1993
28 junho 2010
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