24 março 2013

Duque de Palmela 111

Uma crónica de Mário Cláudio, publicada em Outubro de 2004.

A perfeita residência na terra de Eugénio de Andrade, perdoem-me os que antepõem as razões pragmáticas ao florescimento do lirismo, haverá de ser para todo o sempre aquele apartamento em Duque de Palmela, uma sala e uma alcova, unidas por um corredor. Por aí é que caminharia a Mãe, afagando a lombada dos livros alinhadíssimos, por aí é que vaguearia o Pai, íncubo capaz de terríveis malfeitorias. Não é que fosse a localização ideal para qualquer poeta esse piso porventura construído na década de cinquenta, entalado entre esgrouviados jardins do chamado Bairro Ocidental [sic] do Porto, dando para uma artéria, essa sim, com arvoredo de alguma dignidade. Mas abençoava-o a escassez que postulamos como inseparável dos grandes da poesia, e deste com a acrescida razão de se tratar de um criador de simpatias helénicas, timbradas pela vocação do gozo dos quatro elementos heraclitianos, afinal mais característica do sul do quedo norte da Europa.

A casa retinha de resto algo de tenda de nómada, isto sem perder quanto lhe assistia de útero matricial. Os quadros substituíam-se nas paredes, tal e qual como os tapetes dos beduínos, ali ficava a manta de agasalhar os joelhos, conforme ao que fora prática de Camilo, de Raul Brandão e de Aquilino, adoptada por David, por Agustina e pelo autor de Obscuro Domínio. Rimbaud possuía lugar cativo no quarto de dormir do nosso homem, presente através de uma reprodução do célebre retrato, esboçado por Fantin-La-tour. Subiam-se as modestíssimas escadas, e o poeta, acabado de regressar daquela peregrinação à Grécia, conformadora do dever literário de uma inteira geração, oferecia-nos um cálice de ouzo, e punha-se a explicar-nos o horror em que desde a infância trazia qualquer espécie de bebida alcoólica. Evocava uma fantástica cena à la Bruegel, o ribaldo da Póvoa da Atalaia que emborcara muito mais do que o bastante, as «madres terribles» da aldeia, acorrendo munidas de imensas colheres de pau, enfiando-as pela goela abaixo do beberrão, e até o fazerem vomitar o vinho ingerido. Não nos dando tempo a que recuperássemos de semelhante espectáculo, abria as pastas que continham os trabalhos dos amigos pintores, atribuía a cada um deles um comentário atento, privilegiando os que fossem aquilo que caracterizava como «um quase nada», e terminava por nos brindar com o que mais nos agradara, não implicando em tal gesto o menor alarde de munificência.

Já muito se falou da mesa portátil onde Eugénio de Andrade escrevia, e do pitoresco lenço de chintze com que costumava cobri-la. Mas a nossa lembrança mais querida do espaçozinho de Duque de Palmela povoa-se de dois bichos, muito diversos na espécie, ambos porém significativos ex-libris das mãos que os acariciaram. O primeiro é aquele burrico de barro, de um banalíssimo oleiro de Barcelos, que se implantava sobre a estante da entrada do apartamento. O outro é o elefantezinho de Delft que tínhamos numa prateleira da nossa própria estante, e pelo qual o poeta de tal forma se apaixonaria que lho enviámos de presente alguns dias mais tarde, sentindo-nos quase iguais, já o adivinharam, àquele rei descomandado, e um pouco novo-rico, que mandou uma embaixada de espalhafato ao pontífice de uma geração.

Relâmpago, Outubro de 2004

20 março 2013

O meu partido é o Porto

Apresentação da candidatura de Rui Moreira à Câmara do Porto, no Mercado Ferreira Borges.



AS FRASES

«Sou candidato à presidência da Câmara numa lista livre, livre e independente - verdadeiramente independente - que se apresentará à Câmara Municipal, à Assembleia Municipal e a todas as freguesias sem excepção.»

«Nesta lista só cabe o Porto, mas cabe o Porto todo.»

«Todos o sabem: só tenho um partido. O meu partido é a cidade do Porto. O meu partido é o Porto.»

«O Porto não quer ser uma segunda Lisboa, que tudo centraliza e que tudo asfixia. Quem quer fazer do Porto uma segunda Lisboa, fará dele uma Lisboa de segunda.»

«E o Porto também não quer ser uma segunda ou terceira Barcelona, à maneira catalã.»

«Portuenses: nós não queremos que o Porto seja uma cidade de negócios mirabolantes ou de iniciativas megalómanas. Nós temos um conceito, nós temos um valor, nós temos uma escala de valores: queremos fazer do Porto uma cidade de emprego, uma cidade de trabalho, queremos que o Porto volte a ser aquilo que sempre foi: a cidade do trabalho.»

«(…) eliminar a pobreza da face da nossa cidade, primeiro, aliviando as dificuldades e cuidando dos mais pobres e, depois, ajudando-os a combater as causas que os levaram à situação de necessidade.»

«Como presidente da câmara serei um permanente “cultor” da cultura, mas nem por um minuto, nem por um segundo, interferirei na programação ou na autonomia programática dos produtores de cultura. Não há coisa mais nefasta à cultura e à democracia do que o dirigismo, a intromissão e a interferência política.»

«A administração autárquica tem de primar pelos princípios exemplares da competência, da transparência, da decência.»



AS NOTÍCIAS

Rui Moreira anuncia candidatura «sem partidos» ao Porto - Jornal de Notícias

Rui Moreira é candidato independente à Câmara do Porto – Porto24

Rui Moreira é oficialmente candidato à Câmara do Porto - TVI

11 fevereiro 2013

O dia de hoje

Rua de Júlio Dinis.