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O Grande Desfiladeiro
(Texto de um velho e venerando Mestre)
«O rio Douro é, seguramente, o rio mais impressivo e rico de grandiosas perspectivas do velho mundo. No entanto -, apesar de tudo quanto tem sido escrito e publicado, desenhado e divulgado -, parece não ter tido ainda a fortuna de encontrar um verdadeiro escritor ou pintor que eternize a sua estranha e tácita beleza.
Junqueiro, que tantos anos viveu junto deste vale, que o percorreu dezenas e dezenas de vezes, que calcorreou os seus pendores -, não o viu. Antero, cremos que nunca o avistou senão junto do Porto. António Nobre apenas o contemplou da Foz. Raul Brandão só lhe viu a grandeza nos dias de temporal, do alto da Cantareira, sonhando no Avô, alto e louro como ele, desaparecido no mar. Pascoais apenas conheceu, pode dizer-se, o seu último filho: o Tâmega. Camões jamais o avistou. Eça, olhou-o com os olhos de Jacinto.
Em resumo: nenhum escritor ou poeta português teve a fortuna de abrir decididamente os olhos para a pujança, a austeridade, a força telúrica, deste estranho desfiladeiro aberto por esta serpente milenária vinda dos Montes Ibéricos!»
Sant'Anna Dionísio
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