21 novembro 2005
Vozes do Mar - 3
Fundo do Mar
No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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Farolim de Felgueiras,
Frente Marítima,
Poesia II
18 novembro 2005
Vozes do Mar - 2
Vozes do Mar
Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d'oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?...
Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?
Tens cantos d'epopeias? Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!
Donde vem essa voz, ó mar amigo?...
... Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!
Florbela Espanca
17 novembro 2005
Vozes do Mar - 1
Vozes do Mar é o título de um poema de Florbela Espanca, que escolhi para epígrafe de três ilustrações de poemas sobre o mar. As imagens foram colhidas na frente marítima do Porto.
Oceano Nox
Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?
Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...
Antero de Quental
Poesia Completa, 1842-1891
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001
Oceano Nox
Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?
Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...
Antero de Quental
Poesia Completa, 1842-1891
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001
14 novembro 2005
«Viva o Porto Oriental»
Motivado pelo entusiástico comentário que um visitante anónimo deixou na entrada anterior, não resisti a deixar aqui três pormenores de três edifícios distintos...
...situados num conjunto que, num blogue lamentavelmente adormecido, foi classificado como « provavelmente, o mais belo esboço urbano do Porto».
Conjunto que, como ali é afirmado, «encerra em si, ainda hoje, um encantamento inultrapassável». Trata-se do espaço urbano compreendido entre as ruas que divergem a partir do Largo Soares dos Reis, em direcção ao Campo 24 de Agosto, ao Jardim de São Lázaro e à Praça da Alegria.
08 novembro 2005
Uma nova centralidade
Com esta entrada não pretendo celebrar nenhuma das modernidades tão apregoadas nos discursos vazios de conteúdo que vamos ouvindo no dia a dia, mas a verdade é que na parte oriental do Porto, votada ao abandono durante décadas a fio como se não pertencesse à cidade, há algo que, bem ou mal, está a mudar.
No final dos anos 90 foram pensadas para aquela zona três grandes intervenções, com os objectivos do ordenamento urbanístico e da criação de novas acessibilidades: a abertura da Avenida 25 de Abril e a construção de um viaduto sobre a VCI, a ligar a Praça das Flores à Corujeira; a criação de duas alamedas, a de Cartes e a de Azevedo, a partir do nó do Mercado Abastecedor; e a intervenção mais ambiciosa, a do Plano de Pormenor das Antas com o propósito de criar uma nova cidade com funções variadas.
Para aqui previram-se, três mil fogos, dois hotéis, um estádio de futebol, um pavilhão multiusos, um centro comercial, equipamentos de saúde e de ensino, um parque urbano com dez hectares, estacionamento para três mil viaturas e um interface para o metro.
Como as imagens documentam, parte do Plano de Pormenor das Antas está construído mas, a avaliar pelo falta de actualização desde 2002 do sítio da Apor - a Agência para a Modernização do Porto que promoveu estas e outras intervenções -, o equipamento de saúde, o de ensino e o tal parque urbano ficaram pelo caminho, confirmando o imobilismo camarário instalado há quatro anos na cidade.
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