16 março 2006

Vai no Batalha



A expressão popular portuense «vai no Batalha» - que significa «não acredito» - poderia servir de divisa à saga por que passou aquela sala de espectáculos, da fundação ao encerramento no Verão de 2000.

Nesse ano, o Cinema Batalha tinha uma média de dois ou três espectadores por sessão. A administradora da empresa Neves & Pascaud, proprietária do imóvel, queixava-se, então, das receitas que não davam «nem para pagar a luz», e lembrava que a última enchente tinha acontecido dois anos antes com o Titanic. Um momento que talvez tenha sido doloroso para Margarida Neves, cuja família detém uma longa tradição na exibição cinematográfica no Porto.



O seu avô, Manuel da Silva Neves, associado a Edmond Pascaud, fundou a primeira sala de cinema do Porto, o High Life, na actual Rotunda da Boavista. Era um barracão com o chão de terra batida que veio substituir as exibições de cinema ambulante pelas sessões regulares. Dois meses depois o High Life mudou de local, para a Cordoaria, e em 1908 transferiu-se para a Praça da Batalha, com a designação de Novo Salão High Life.



1913 foi um ano grande para a Neves e Pascaud. Abriu o Salão Jardim da Trindade e baptizou o High Life com o nome de Cinema Batalha, ambos instalados em edifícios concebidos para a exibição cinematográfica. Quatro décadas depois, em 1947, António Neves, filho do fundador, inauguraria o moderníssimo Batalha, produto da imaginação do arquitecto Artur Andrade.



Um interessante grafismo, assinado por Péres, na capa de um pequeno programa, com a inscrição Cine Batalha, o mais antigo do Porto. Telefone 1407.
No interior anunciavam-se, entre outos, filmes da Paramount - As Cruzadas, de Cecil B. de Mille, A Noiva que Volta, com Claudette Colbert - e da Castello Lopes - O Mistério do Subterrâneo, com John Wayne. «Para breve», prometia-se, «a vedeta de palmo e meio Shirley Temple, na sua grande criação A Princezinha da Rua, um filme delicioso, com uma efabulação cheia de pitoresco». Tudo a «preços de Verão» entre 1$00, na 2ª plateia, e 3$00, no balcão.

Modernidade que causaria alguns engulhos. O então presidente da Câmara do Porto, um tal Luís de Pina, revelou-se contra a insolência artística do edifício, considerando-a provocadora dos bons costumes. Vai daí, mandou tapar um mural decorativo, pintado no interior do cinema por Júlio Pomar, e retirar as iniciais CB dos puxadores das portas, que o adepto da ditadura olhava como indiciadoras de um Comité Bolchevista.



De então para cá o Batalha viveu tempos áureos, até o lento declínio o ter levado ao encerramento.



Alguns meses depois do fecho, com a Capital Europeia da Cultura à porta, foram anunciadas obras de reabilitação, para que o Batalha integrasse as programações da Porto 2001 e do Fantasporto. Outros projectos se seguiram sem que a situação do edifício mudasse.



Este mês, finalmente, o Batalha reabriu de cara lavada, com um espectáculo musical e a promessa de uma «grande festa» de inauguração em Abril. Aguardemos, para ver e crer que desta vez o sopro de vida naquele espaço... não «vai no Batalha».

28 comentários:

McBrain disse...

E agora pergunto eu: e o "Águia d'Ouro"?

Estive há um mês na zona e o edifício continua abandonado... foi aí que vi o meu primeiro filme!

Fabi disse...

Sou uma brasileira apaixonada pelo Porto... e coincidentemente fui ao Cine Batalha nesta quarta-feira tomar um café a hora do almoço... Adorei ter visto um prédio como aquele sendo novamente reerguido... Até porque sempre me chama atenção o descaso que acontece com muitos prédios antigos dessa cidade que é tão linda!
Fiquei feliz mesmo pelo "Batalha" e estou esperando o restante ficar pronto!
Parabéns pelo Blog!

PR disse...

(mas, segundo me disseram, a acústica é uma valente porcaria... mas isso não interessa nada...)


Abraço, Carlos!

Anónimo disse...

Nem sabia que isso agora estava assim!
Tenho que lá passar.

Obrigada, como sempre :)

a.leitão disse...

Novidade para mim. Ainda bem que um dos cinemas do Porto em que mais Cinema vi foi finalmente recuperado.
Agora associo-me a um dos comentários, e o Águia?
Estes foram dos grandes Cinemas da minha juventude e pelas imagens que nos dá o Carlos Romão já me sinto um pouco mais feliz!

Pedro Estácio disse...

Olá Carlos,

São memória que nos levam até à adolescencia... O Batalha, o Trindade, o Águia D'Ouro, as tardes de cinema com os amigos...

Ainda não passei pelo Batalha após a reabertura, mas pelas tuas imagens despertou-me a curiosidade... Um dias destes...


Grd Abç e um bom fds Carlos!
Pedro Estácio

Anónimo disse...

Renascer é esperançoso. Poético. Vibrante. O Batalha acompanhou o tempo de aulas no ISCAP, há mais de 20 anos. Aí assisti à beleza total do "Merry Cristhmas Mr. Lawrence". Inesquecível e tudo mais... Voltar onde fomos felizes é uma forma de o ser novamente. Com lágrimas de emoção. Lá nos veremos.

rps disse...

Obviamente que é uma boa notícia, embora eu não ache que o Batalha seja especialmente bonito ou atraente. Estas fotos valorizam-no imenso.
Vi muitos filmes no Batalha e também na Sala Bebé...
Abraço, CR.

Anónimo disse...

É importante a reabilitação do batalha e da sala bébé, como tb é importante a reabilitação de outros espaços magnificos do Porto. Mas isso, por si só, não chega. É preciso é que o pessoal apareça! Caso contrário, não há mecenas que resista...

Fernando Rola disse...

Sendo, como sempre, as fotos suficientemente apelativas, realço a descrição, mais um pedaço da história da cidade que faz o favor de partilhar.
Para além do valor arquitectónico, a reabertura do Batalha é mais uma oportunidade de levar pessoas à Baixa nas horas e dias de lazer, o que acontece muito pouco.
Não tendo cabimento neste post, atrevo-me também a lamentar a ausência de qualquer intervenção no Águia de Ouro, até pela deplorável imagem que transmite. A nossa cidade merece melhor

Carlos de Matos disse...

... muito filme vi nesta sala!
... quantas recordações!

... pela minha parte vi nos anos 60 a menina de todos nós: Brigitte Bardot.

... em 16 de Outubro de 1971, já não sei o que vi, mas deu para preencher um pouco da noite de núpcias!!!...(saí no intervalo!)

... hei-de lá voltar um dia destes!

... obrigado "surpreendente cidade"


Xi-coração

Anónimo disse...

É surpreendente o descaso que certos individuos têm pelas salas de exibição de tão nobre arte. FATOS QUE RELEGAM-NOS AS MAIS PROFUNDAS LÁGRIMAS... Convido-te a acessar o meu blog: WWW.OCOVILDODEMONIO.THEBLOG.COM.BR é lá que despejo todos os meus tormentos. Desde já grato pelo espaço. PS: Aqui no brasil também sofremos grandes descasos com nossos cinemas, visto que em PORTO ALEGRE-RS fecharam duas salas de cinemas populares para fazerem "ESPAÇOS CULTURAIS DA CAIXA ECONOMICA FEDERAL que nunca sairõa do papel...

Luis Moutinho disse...

tenho que lá estar.
é bom ter o nosso Batalha de volta.

Luis Moutinho disse...

tenho que lá estar.
é bom ter o nosso Batalha de volta.

Rosario Andrade disse...

Caro Carlos!
Em boa hora me visitaste! O truque que indicaste resultou e recuperei o I&I... MIL E UM OBRIGADOS!

Nunca tive a oportunidade de visitar o Cine Batalha por dentro. Lembro-me apenas de ver com pena um edifício tão interessante num abandono triste... felizmente que foi recuperado!

Mais uma vez obrigado!
Bjico

Carla de Elsinore disse...

dois belos posts

Unknown disse...

Achei o edifício lindíssimo, embora não estivesse ainda a funcionar. Ficou muito melhor sem os telões. Confesso que tinha lá passado tantas vezes e não tinha reparado que era tão bonito.

Unknown disse...

Não resisti e roubei-lhe uma foto.

Anónimo disse...

Espero que com a reabertura volte a ter "dias de glória". Espero que aconteça algo do genero como com o "Rivoli" que depois das alterações feitas, há já uns anos voltou a ter muito público.

Anónimo disse...

ESTOU TAMBÉM CURIOSO PARA VER O NOVO BATALHA. É PRECISO TAMBÉM DAR ALMA AO COLEGA "ÁGUIA D´DOURO".

Anónimo disse...

.
não vou lá desde fevereiro de 05, quando fui ver wraygunn e x-wife.
.
a revisitar, portanto.
.
definitivamente.
.
parte do espaço sempre vai ser cedido à "música no coração"?
.

Anónimo disse...

é verdade... ele voltou a abrir portas e está lindo. estive lá na reabertura não oficial com o concerto da Ive Mendes e adorei!!! além dos problemas de som... agora aguardo pela abertura oficial, onde vamos poder aceder a todos os espaços.
e esperar que a música no coração nos dê verdadeira música...

Morgana disse...

Olá! Já há muito que visito este blog sempre supreendente. Hoje vou tomar a liberdade de o referir num post meu para que venham "visitar" aqui o Batalha..merece, e ainda bem que fez este destaque ao cinema onde me lembro de ver o "Quem tramou Roger Rabbit" numa cadeira que descia com o peso de quem se sentava! nunca mais esqueci.. beijinhos

mokomaori disse...

boas.

sou um mouro lisboeta eternamente apaixonado pelo Porto, cidade onde já vivi..e alegro-me imenso por este espaço que conheci perfeitamente decadente esteja resplandescente de novo...lembro-me que tinha acabado de "aterrar" na inbicta, n conhecia nada nem ninguém e ter decidido ir ao cinema (cinema a serio , nao as tretas com pipocas dos shoppings que abundam na cidade) e ter ido ao batalha....e apesar de ser gajo a puxar para o grande e n ter cara de bons amigos, ter ficado a pensar onde raio é que me tinha metido, que se nao tinha cuidado, a malta que rondava no interior do cinema ainda faziam a folha e ia nu para casa....hiihi.

fico muito contente, pela cidade e pelas gentes do Porto.

Anónimo disse...

vai ao batalha

manny-n.y.

Anónimo disse...

"Biba" o Batalha!!!!!!!!!!!!!!

Anónimo disse...

estou a fazer um projecto de final de curso sobre o cinema batalha...

sera que alguem me poderia fornecer o HISTORIAL DO CINEMA BATALHA?



cris_italiana5@hotmail.com



obrigado^^

Anónimo disse...

Por acaso vi hoje as imagens do Batalha, por Carlos Romão.
Gostei muito porque dão brilho a este Espaço encantado que percorre os nossos sonhos. As estrelas, as escadas de caracol, as enormes fachadas de vidro e os desenhos de pequenas curvas e sois do chão.
O meu pai, Artur Andrade, criou este ambiente e talvez por isso eu o imagine a deambular por aqui.Tinha sempre um sorriso e entusiasmo no olhar. As fotografias combinam com ele.
Parabéns ao Carlos Romão pelo trabalho.
Obrigada,
Laura Artur Andrade Rodrigues.