31 janeiro 2010

O 31 de Janeiro comemorado na Praça

A revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891 foi ontem evocada na Praça da Liberdade, abrindo as comemorações oficiais do Centenário da República com uma reconstituição histórica, organizada por Norberto Barroca, que contou com a presença de sessenta actores, alguns militares da G.N.R., a cavalo, e muitos populares que passaram, em algumas situações, de espectadores a intervenientes na encenação.

O texto abaixo, que dá sentido às fotografias, pertence à publicação Revoltas Republicanas no Porto, 31 de Janeiro de 1891 – 3 de Fevereiro de 1927, editada pela Galeria Imagolucis em 1997.



(...) «Às 6 horas da manhã, as tropas revoltosas põem-se em movimento. Juntamente com elas, populares, liderados pela banda de Infantaria 10, a tocar A Portuguesa, descem a Rua do Almada e ocupam a Praça D. Pedro.



O movimento parece estar a ter êxito.



Cerca das 7 horas e ½ da manhã, os moradores da Praça de D. Pedro distribuem comidas e bebidas aos soldados, que se dirigem, seguidos por populares, para os Paços do Concelho, onde Santos Cardoso hasteia a bandeira verde e vermelha e Alves da Veiga inicia um discurso concluído pelo actor Verdial. A lista do governo provisório foi apresentada: compunham-na uma série de individualidades portuenses, entre outras, Rodrigues de Freitas, professor, 1º deputado republicano, o banqueiro Licínio Pinto Leite, e o próprio Alves da Veiga.



A República acaba de ser proclamada pelos “irmãos” da Loja Maçónica Grémio Independente, mas cada vez mais se tornava claro o vazio de objectivos e estratégias. A tropa, cerca de 600 homens, começa a estar esfomeada e impaciente. Inicia-se, sob comando dos 3 oficiais, a subida da rua de Santo António (actual 31 de Janeiro).



No adro da Igreja de Santo Ildefonso, a Guarda Municipal, com 100 praças da Guarda Fiscal, Cavalaria 6, entretanto junta aos fieis governamentais, esperava-os ao lado do Teatro de S. João. O tiroteio começa.



Debandada geral dos revoltosos. Pânico entre os civis. Para trás fica o rasto de xailes, sapatos, armas.



Acto de coragem entre outros, o do alferes Malheiro, que se manteve firme em combate com os seus homens durante ½ hora. Em ordem recuou com os seus homens até à Câmara – as tropas da situação dominam-nos pouco depois.
A artilharia, vinda da Serra do Pilar, com duas peças no Largo dos Lóios e em São Bento, faz pontaria à porta dos Paços do Concelho e acaba por derrotar os últimos combatentes.
A revolução acabou antes de ter começado; às 10h30 da manhã tinha terminado; durou 6 horas, ao longo da madrugada. Durante 3 horas, o Porto vivera sob a República.»(...)

5 comentários:

Fernando Torres disse...

Estimado amigo:
Óptima reportagem a sua. Aqui por Lisboa também dei o meu contributo para as comemorações com um "post" n'o escrevinhador. Abraço cordial.

Pedro Ferreira disse...

Muitos parabéns Carlos por este excelente documento histórico que nos deixa...
Um abraço :)

Anónimo disse...

Depreendo que a História se divida entre bons e maus? É uma boa lição ensinarmos às crianças quem devemos matar. No passado, como no Futuro.

Duarte disse...

Excelente documento histórico do nosso Porto.
Parabéns e um abraço

Maria Rego disse...

Uma boa e bela reportagem com o rigor histórico que te é peculiar! Obrigada!
Um abraço.