09 outubro 2013

O Mercado de Matosinhos

Foi após a construção do Mercado Municipal de Matosinhos que a Câmara do Porto encomendou à empresa ARS - Arquitectos «um edifício que marque a sua época e o seu fim», a ser construído na zona oeste da cidade. Nasceu assim o mercado do Bom Sucesso. Conhecemos o seu triste fim. A classificação de Imóvel de Interesse Público de pouco valeu. Aquilo que o Bom Sucesso tinha de melhor, a luminosa abóboda hiperbólica, foi ofuscado pela iniciativa do presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio, ao privatizar o edifício e permitir a construção, no interior do mercado, de um hotel e de uma fundação, a par de um centro comercial. Ficou assim definitivamente (?) desvirtuado aquele exemplar único da arquitectura moderna portuguesa, edificado no início dos anos 50 do século passado.

O Mercado Municipal de Matosinhos, parente do Bom Sucesso, por ter sido projectado pelos mesmos arquitectos e construído na mesma época, teve, porém, melhor sorte, ao ter sido reabilitado em 2009. Em 2012, a Câmara de Matosinhos comemorou os 60 anos daquela estrutura, considerando-a «uma peça arquitectónica fabulosa e única no mundo», por não haver nenhuma com aquela amplitude e tal grandeza. O mercado, como se vê na imagem, mantém as funções para que foi projectado e construído, permitindo o usufruto do seu belo espaço por quem vive nesta região.

6 comentários:

margarida disse...

... compreendo a mágoa. Entendo bem o que é deixarmos algo ser desvirtuado, alterado irreversivelmente mas, Carlos, os mercados tradicionais tendem a desaparecer devido às novas formas de comércio; poucos já vão ao Bolhão, p.ex. e raros passavam no Bom Sucesso...
Ainda não visitei o 'novo espaço', pelo que não posso comentar com justiça, apenas deixo um abraço de solidariedade a quem sofre com a mudança e uma certeza: mais cedo ou mais tarde, tudo desaparece, quanto mais isso. Tudo, todos, temos um tempo. O que podemos desejar é que se aproveite melhor a memória e se respeite mais a História, mas, um dia, até os hipermercados sumirão e as compras serão basicamente 'on line', vai ver...
"É a vida!..."
Ânimo, sim?
Beijinho.

Carlos Romão disse...

Margarida,

entendo-a bem, mas não concordo na totalidade.
Apesar de tudo ter um tempo, este não é o tempo de fazer desaparecer os grandes mercados tradicionais. Há um movimento contrário, de regresso à terra e às formas directas de comércio, que cresce em simultâneo com as compras on line. Por cá podemos vê-lo nos mais diversos mercadinhos, organizados nas praças e ruas da nossa cidade. Não é um movimento nacional, fruto da crise; no resto da Europa passa-se o mesmo. Talvez seja uma reacção das pessoas à artificialidade do trato e à frieza das grandes superfícies, tanto como aos produtos normalizados. O exemplo de Matosinhos não é único. Barcelona tem, pelo menos, dois grandes mercados tradicionais cheios de vida, La Boqueria e Santa Caterina. Paris lamenta tanto a demolição dos Pavillons Baltard, como nós condenamos a destruição do Palácio de Cristal.

O Bolhão, que nenhuma cidade europeia desdenharia ter no seu território, está na situação por nós conhecida, devido à desertificação da baixa, e à incapacidade da CMP lidar com o assunto. Mas resiste.

Quanto ao Bom Sucesso, é um caso que conheço muito de perto. Os lojistas foram envelhecendo e a Câmara do Porto, durante os doze anos dos três mandatos do presidente que está de saída, não renovou nenhuma licença, nem a familiares de lojistas que queriam lá permanecer. Quer dizer, programou a agonia do mercado, esvaziando-o e não fazendo obras de manutenção. A minha mãe fez lá compras até ao último dia. Creio que o Bom Sucesso só não foi mais transformado por entretanto ter sido classificado como monumento e devido também ao exemplo do Bolhão, onde a contestação ao projecto da Tramcone, negociado com a CMP, foi tão grande que o promotor imobiliário holandês se pôs a salvo de um investimento que a cidade não queria e que seria ruinoso para ele.

Beijinho.

margarida disse...

Hmmm..., há muitas coisas que desconhecemos, não é?
Tento ver pelo lado 'bom', para não desesperar completamente, porque há que acreditar nalguma boa fé, nalguma coisa. Em alguém.
Credo, que os tempos vão complicados e nunca o dinheiro falou tanto. E tão mal.
Que pena...
:(

Carlos Romão disse...

É verdade, nunca o dinheiro falou tanto, tão mal e.. TÃO ALTO.

Duarte disse...

Não há nada como ter um bom mercado perto de casa. Desse modo a provisão de alimentos frescos diariamente, uma mais-valia para o nosso bem.
Recordo a bela arquitectura do Bom Sucesso, que pena!
Aquele abraço amigo

Louisette disse...

Great construction, lovely, i am fun of modern or old market, love walking and see life of a reggionne through the market. Have a nice day.best regard from Belgium.