Num recanto do Parque da Lavandeira, em Gaia, por detrás de uma vedação está o que resta do belíssimo edifício de ferro que a gravura publicada na Revista Ocidente, em Maio de 1883, apresenta como produto da indústria portuguesa de então. Foi mandado construir pelo Conde Silva Monteiro (1822-1885) - individualidade que esteve ligada à Associação Comercial do Porto, ao arranque da construção do porto de Leixões e à construção da linha de caminho de ferro do Porto à Póvoa de Varzim - e executado pela Fundição do Ouro, de Luiz Ferreira Cruz e Irmão, no Porto.
O jornal o Comércio do Porto, em Agosto de 1883, referia que esta não era «uma edificação vulgar, uma estufa como todas as outras». E adiantava: «Recorreu-se à arte, pensou-se muito na parte ornamental, e é este o seu maior mérito. Conhecemos as principais estufas e jardins de Inverno da Europa, em geral umas construções simples, pouco ou nada arquitectónicas, e que, portanto, diferem muito desta. Aqui, o desenhador pegou no lápis e foi descrevendo traços sobre o papel, à medida que a fantasia divagava pelos domínios da arte dos séculos passados. Não se pode dizer que seguisse rigorosamente este ou aquele estilo, mas o conjunto é agradável à vista.» (…)
«Os rendilhados da cobertura são todos de ferro e de uma leveza tão extraordinária, que mais parecem recortes feitos em papel transparente. O corpo principal é sustentado por quatro arcos, nos quais se observa o mesmo estilo da parte exterior, que recorda muito o gótico. Nesta edificação é tudo harmonioso e bem proporcionado. Tem 24 metros de frente, 12 de altura no centro e 12 de fundo. Quando estiver povoada de plantas, deve produzir efeito surpreendente. Daqui se vê que esta estufa é uma das maiores que existem em Portugal e a primeira entre todas quantas possuem os amadores portugueses.»
Classificada como imóvel de interesse municipal, a estufa, que é privada, chegou aos nossos dias muito degradada o que não impediu que em 2012 Luís Filipe Menezes, em plena pré-campanha para a Câmara do Porto, tenha avançado com um projecto de reabilitação da estrutura, que pesa 38 toneladas, orçado em 250 000 euros. A este valor somavam-se 140 000 euros para recuperar o jardim romântico onde a estufa se insere, e um lago adjacente, alargando a área do parque de 14 para 16 hectares. Um belo projecto, como se vê. E muito dinheiro, sobretudo agora que as prioridades da Câmara de Gaia são de outra ordem.
11 novembro 2014
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9 comentários:
Uma maravilha, Carlos Romão !
Mesmo no estado em que se encontra ( perfeitamente recuperável ) é uma obra de arte !
Não conhecia, nem tão pouco ouvira falar.
Muito obrigado por esta sua postagem.
Grande abraço.
Acho que numa 1ª fase se podia recuperar a estufa por muito menos dinheiro e DEPOIS, sim, tratar do jardim.
Talvez, João Menéres, mas mesmo assim 250 000 euros deve ser muito dinheiro para a Câmara de Gaia, que tem uma dívida enorme. De qualquer modo a estufa está inserida no jardim, que é privado e está vedado.
Até há dois anos esteve escondida por inúmeras acácias que cresceram à sua volta e no interior, ameaçando-a de queda nos dias de vento. Foi em 2012, aquando da apresentação do projecto de reabilitação, que foi feita a limpeza, mas a vegetação rasteira está de novo a tomar conta do edifício.
Grande abraço.
uau!
Haverá alguém que fará por muito menos...
Aconselho-o a visitar a antiga casa do pintor Olaio e o antigo hotel Mirassol, ambos em Miramar, perto do apeadeiro. Só não sei se é melhor aparecerem aqui no Cidade Surpreendente ou no Cidade Deprimente. Ambos os edifícios são magníficos, mas estão em ruínas.
Carlos, que maravilha!
Quantas coisas desconheço da nossa terra!
Aqui, um excelente ponto de encontro com a cultura, o que muito te agradeço, pela divulgação, e ademais tão exaustiva.
Oxalá se chegue a uma via de encontro para essa recuperação.
Há que tomar medidas, seria uma grande perda.
Não conheço a casa do pintor Olaio mas conheci e sei do actual estado de degradação do Hotel Mirassol. Seguramente o seu lugar seria n'A Cidade Deprimente.
Um abraço, Duarte, e obrigado pelo comentário.
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