Sábado, 11 horas da manhã.
Sento-me na esplanada da Sá Reis, na Praça da Liberdade. Aguardo dez minutos, sem ser atendido.
Um indivíduo de meia-idade com uma farta bigodaça grisalha, ar carrancudo, meio desgrenhado, vestido com uma camisola verde e vermelha, que lhe chega até meio das pernas, com as insígnias nacionais estampadas, aparece junto de mim e olha-me sem dizer nada. No primeiro instante pareceu-me um pedinte mas logo percebi, pela interrogação entretanto posta no olhar, que era o empregado.
Peço um pingo descafeinado que não demora e vem acompanhado de um porta guardanapos de papel, atirado para cima da mesa. O ruído provocado pelo choque do objecto no tampo metálico foi tal, que o tipo deve ter-se visto na obrigação de pedir desculpa.
Tomo o pingo e distraio-me a observar o vaivém das gentes naquela manhã de sol coado por uma ligeira neblina.
Decido retirar-me. Aguardo longos minutos que o empregado apareça. Com toda a paciência do mundo resolvo procurá-lo no interior do estabelecimento. Encontro-o ao fundo, a folhear um qualquer jornal. Estendo-lhe dez euros para pagar noventa e cinco cêntimos. Pergunta-me se não tenho trocado. Respondo-lhe que não, que não tenho moedas. O homem sai para trocar a nota na Ateneia, a confeitaria ao lado, e volta com um ar incomodado. Dá-me o troco. Abro a mão e verifico que faltam cinco cêntimos. Exijo-lhos. Agastado, atira-me com a pequena moeda para a mão.
Desapareço na manhã ensolarada com uma certeza, a de que a
reabilitação urbana da baixa terá que ser acompanhada da reconversão deste modelo de serviços.