19 agosto 2014
11 agosto 2014
05 agosto 2014
Homenagem à vida de uma árvore
O cenário é o do verdejante Jardim das Virtudes, num vale encaixado na encosta do Douro por onde correu outrora livremente o rio Frio. Num socalco está um Ginkgo com mais de duzentos anos e trinta e cinco metros de altura, a maior árvore desta espécie existente em Portugal e uma das maiores da Europa. Desfrutando da atmosfera fresca que emana da copa da rainha das Virtudes estão os convidados, sentados de frente para a pequena assistência que se mobiliza para estas questões: Teresa Andresen, arquitecta paisagista e engenheira agrónoma, Isabel Lufinha, da Câmara Municipal do Porto, e o escritor Mário Cláudio.
O evento, denominado Um Objecto e Seus Discursos, tem convidado os portuenses a conhecer os espaços e os tesouros da cidade contados por quem faz as suas histórias. O objecto, neste caso, é um ser vivo de quem Teresa Andersen fala com paixão, ao ponto de elevar a cabeça para a árvore e perguntar-lhe: «Ó Ginkgo, assististe ao Cerco do Porto? Visto o D. Pedro - o meu herói?». E discorre sobre o formato das folhas, parecidas com as das avencas, a resistência da homenageada, de que há registos de indivíduos com milhares de anos e de ter sobrevivido ao bombardeamento de Hiroshima, notando que aquele exemplar, nascido num socalco estreito, deverá ter as raízes penetrando profundamente nas fendas do granito do vale, onde vai buscar alimento. «As árvores no Porto são maiores do que em Lisboa», acrescenta. «Fiquei admirada quando aqui cheguei e verifiquei que também cresciam mais rapidamente».
Mário Cláudio abordou a história do lugar. Lendo excertos do seu romance A Quinta das Virtudes recordou a origem da casa e os seus jardineiros, Pedro Marques Rodrigues, o fundador do horto nos anos quarenta do século XIX, e José Marques Loureiro (1830-1898), que o guindou à liderança dos hortos nacionais e até peninsulares. Por fim, afirmou que deveríamos guardar uma recordação material destes seres notáveis quando morrem, lembrando o jacarandá do Largo do Viriato, «a última árvore que Eugénio de Andrade viu florir, a partir de uma janela do Hospital de Santo António», lamentando que dela não exista nenhuma memória palpável.
No Porto não há muitos indivíduos desta espécie ornamental mas, mesmo assim, há poucos anos foram plantados alguns exemplares nas ruas Cândido dos Reis, Galeria de Paris e Santa Teresa, e na parte nascente da Avenida da Boavista, diante do Hospital Militar, que dão cor à ruas da cidade quando no Outono se vestem de amarelo. Existe ainda um jovem Ginkgo solitário na rua da Alfândega, em frente à Igreja de S. Francisco.
O evento, denominado Um Objecto e Seus Discursos, tem convidado os portuenses a conhecer os espaços e os tesouros da cidade contados por quem faz as suas histórias. O objecto, neste caso, é um ser vivo de quem Teresa Andersen fala com paixão, ao ponto de elevar a cabeça para a árvore e perguntar-lhe: «Ó Ginkgo, assististe ao Cerco do Porto? Visto o D. Pedro - o meu herói?». E discorre sobre o formato das folhas, parecidas com as das avencas, a resistência da homenageada, de que há registos de indivíduos com milhares de anos e de ter sobrevivido ao bombardeamento de Hiroshima, notando que aquele exemplar, nascido num socalco estreito, deverá ter as raízes penetrando profundamente nas fendas do granito do vale, onde vai buscar alimento. «As árvores no Porto são maiores do que em Lisboa», acrescenta. «Fiquei admirada quando aqui cheguei e verifiquei que também cresciam mais rapidamente».
Mário Cláudio abordou a história do lugar. Lendo excertos do seu romance A Quinta das Virtudes recordou a origem da casa e os seus jardineiros, Pedro Marques Rodrigues, o fundador do horto nos anos quarenta do século XIX, e José Marques Loureiro (1830-1898), que o guindou à liderança dos hortos nacionais e até peninsulares. Por fim, afirmou que deveríamos guardar uma recordação material destes seres notáveis quando morrem, lembrando o jacarandá do Largo do Viriato, «a última árvore que Eugénio de Andrade viu florir, a partir de uma janela do Hospital de Santo António», lamentando que dela não exista nenhuma memória palpável.
No Porto não há muitos indivíduos desta espécie ornamental mas, mesmo assim, há poucos anos foram plantados alguns exemplares nas ruas Cândido dos Reis, Galeria de Paris e Santa Teresa, e na parte nascente da Avenida da Boavista, diante do Hospital Militar, que dão cor à ruas da cidade quando no Outono se vestem de amarelo. Existe ainda um jovem Ginkgo solitário na rua da Alfândega, em frente à Igreja de S. Francisco.
31 julho 2014
28 julho 2014
23 julho 2014
Novo Bolhão vai ser o grande mercado de frescos da cidade
«O grande mercado de frescos do novo Bolhão vai ficar no piso térreo, ou terrado. No piso superior ficam instalados os restaurantes, o que levanta uma questão de higiene pública (por causa dos pombos e das gaivotas) e que deverá levar à colocação de uma cobertura. Esta é uma questão antiga. A cobertura, que nunca existiu, está no projecto original. Acontece que nessa proposta original a estrutura pesava 250 toneladas e como o Mercado está construído sobre terrenos pantanosos, ninguém arriscou, essa instabilidade do solo impediu que ela fosse erguida (...)»
A ler aqui.
15 julho 2014
O Porto poderia ser uma cidade de Thomas Mann
Um texto de José Pacheco Pereira
«O Porto é uma cidade muito diferente de Lisboa, é diferente crescer e viver no Porto ou em Lisboa. As pessoas em Lisboa não têm consciência disso, as do Porto admito que tenham outro tipo de consciência. Poderia ter sido uma cidade do Thomas Mann, muito parecida com as cidades hanseáticas, como Lübeck, onde ele viveu. É uma cidade burguesa no verdadeiro sentido do termo. Tem valores muito parecidos com as cidades do Norte, onde os comerciantes eram liberais e se interessavam pela cultura.
Sempre foi um mundo que valorizou o trabalho de uma forma diferente do que acontecia em Lisboa. Era a cidade das grandes fábricas. As grandes fábricas têxteis estavam no Norte, deram o nome a clubes de futebol – Paranhos, Boavista. Falo de fábricas com milhares de trabalhadores, típicas do período de crescimento da Revolução Industrial. O Porto é uma cidade do trabalho, quer nas antigas corporações quer nas antigas tradições, ainda muito marcadas pelos nomes nas ruas. Muitas igrejas, muitas instituições têm a marca do trabalho corporativo, mas a cidade também teve esse papel. O Ramalho Ortigão escreveu que no Porto não se conseguia andar meia dúzia de metros sem encontrar uma tabuleta de uma associação mutualista. Na própria conjugação do movimento operário, é uma cidade muito mais socialista do que anarquista, enquanto em Lisboa havia uma tradição forte de anarcossindicalismo. Acima de tudo, tem uma burguesia liberal que esteve no cerne de todo o processo do liberalismo novecentista. Não foi por acaso que D. Pedro deixou lá o coração. Quem conheça a História do Porto sabe que é uma cidade que resistiu violentamente ao Estado Novo, como os grandes combates de 1927. Foram no Porto os grandes comícios da oposição: o comício do Norton de Matos [janeiro de 1949] e a receção ao Humberto Delgado [maio de 1958] que é gigantesca, a cidade sai à rua. Não há paralelo, esse comício mudou toda a história da campanha do Delgado, mudou toda a história política a partir de 1958. É uma cidade com as suas instituições, os seus clubes, o Ateneu, um certo tipo de tradições culturais de uma elite fabril, industrial e ligada à imprensa – O Primeiro de Janeiro e O Comércio do Porto têm essa origem. Muito da vida da cidade faz-se de cima para baixo e de baixo para cima. Isso leva a que o Porto tenha uma respiração de liberdade que não veio com o telégrafo nem veio de França. Ainda hoje, é a cidade que tem o trabalho e o sacrifício pelo País no nome e no símbolo de tripeiro, e que se reconhece nesses valores. Durante o salazarismo, muitas instituições universitárias do Porto fecharam e as que sobreviveram tiveram uma vida muito difícil. Mas havia escolas com uma grande repercussão nacional – Engenharia, Medicina, Ciências, Arquitetura, Belas-Artes. No Porto estão alguns dos primeiros edifícios de arquitetura moderna, muitas vezes feitos por pessoas que ganhavam dinheiro na indústria e que eram mecenas de artistas. Nos anos 1920, construíram-se cópias da arquitetura social de Viena. Junto da casa do Eugénio de Andrade, quando ele morava no 111 da rua Duque de Loulé *, havia um grande bairro feito a partir das ideias da arquitetura socialista, uma espécie de falanstério. E havia vários desses. E depois havia as “ilhas”, outra realidade muito associada à industrialização rápida, aí sim, mais pobres. Eram uma solução de emergência, especulativa, em relação à pressão industrial, para albergar um número muito significativo de operários que vinham das zonas rurais do interior. Algumas epidemias de cólera e de tifo tiveram aí o seu desenvolvimento e o salazarismo viu-se na necessidade de criar os bairros sociais que reproduzem o fenómeno das “ilhas” para os dias de hoje. O Porto é uma cidade liberal mas não jacobina. Lisboa é mais jacobina do que liberal, na sua história política e social. Eu nunca deixei o Porto. Havia umas personagens do teatro japonês que andavam sem nunca levantar os pés porque se o fizessem era sinal de que perdiam o contacto. E eu também: os meus pés estão lá sempre, sempre em cima daquela terra, é lá que me sinto bem.» Publicado na revista Ler de Julho/Agosto de 2013 * Eugénio de Andrade morou no 111 mas da Rua Duque de Palmela.
Sempre foi um mundo que valorizou o trabalho de uma forma diferente do que acontecia em Lisboa. Era a cidade das grandes fábricas. As grandes fábricas têxteis estavam no Norte, deram o nome a clubes de futebol – Paranhos, Boavista. Falo de fábricas com milhares de trabalhadores, típicas do período de crescimento da Revolução Industrial. O Porto é uma cidade do trabalho, quer nas antigas corporações quer nas antigas tradições, ainda muito marcadas pelos nomes nas ruas. Muitas igrejas, muitas instituições têm a marca do trabalho corporativo, mas a cidade também teve esse papel. O Ramalho Ortigão escreveu que no Porto não se conseguia andar meia dúzia de metros sem encontrar uma tabuleta de uma associação mutualista. Na própria conjugação do movimento operário, é uma cidade muito mais socialista do que anarquista, enquanto em Lisboa havia uma tradição forte de anarcossindicalismo. Acima de tudo, tem uma burguesia liberal que esteve no cerne de todo o processo do liberalismo novecentista. Não foi por acaso que D. Pedro deixou lá o coração. Quem conheça a História do Porto sabe que é uma cidade que resistiu violentamente ao Estado Novo, como os grandes combates de 1927. Foram no Porto os grandes comícios da oposição: o comício do Norton de Matos [janeiro de 1949] e a receção ao Humberto Delgado [maio de 1958] que é gigantesca, a cidade sai à rua. Não há paralelo, esse comício mudou toda a história da campanha do Delgado, mudou toda a história política a partir de 1958. É uma cidade com as suas instituições, os seus clubes, o Ateneu, um certo tipo de tradições culturais de uma elite fabril, industrial e ligada à imprensa – O Primeiro de Janeiro e O Comércio do Porto têm essa origem. Muito da vida da cidade faz-se de cima para baixo e de baixo para cima. Isso leva a que o Porto tenha uma respiração de liberdade que não veio com o telégrafo nem veio de França. Ainda hoje, é a cidade que tem o trabalho e o sacrifício pelo País no nome e no símbolo de tripeiro, e que se reconhece nesses valores. Durante o salazarismo, muitas instituições universitárias do Porto fecharam e as que sobreviveram tiveram uma vida muito difícil. Mas havia escolas com uma grande repercussão nacional – Engenharia, Medicina, Ciências, Arquitetura, Belas-Artes. No Porto estão alguns dos primeiros edifícios de arquitetura moderna, muitas vezes feitos por pessoas que ganhavam dinheiro na indústria e que eram mecenas de artistas. Nos anos 1920, construíram-se cópias da arquitetura social de Viena. Junto da casa do Eugénio de Andrade, quando ele morava no 111 da rua Duque de Loulé *, havia um grande bairro feito a partir das ideias da arquitetura socialista, uma espécie de falanstério. E havia vários desses. E depois havia as “ilhas”, outra realidade muito associada à industrialização rápida, aí sim, mais pobres. Eram uma solução de emergência, especulativa, em relação à pressão industrial, para albergar um número muito significativo de operários que vinham das zonas rurais do interior. Algumas epidemias de cólera e de tifo tiveram aí o seu desenvolvimento e o salazarismo viu-se na necessidade de criar os bairros sociais que reproduzem o fenómeno das “ilhas” para os dias de hoje. O Porto é uma cidade liberal mas não jacobina. Lisboa é mais jacobina do que liberal, na sua história política e social. Eu nunca deixei o Porto. Havia umas personagens do teatro japonês que andavam sem nunca levantar os pés porque se o fizessem era sinal de que perdiam o contacto. E eu também: os meus pés estão lá sempre, sempre em cima daquela terra, é lá que me sinto bem.» Publicado na revista Ler de Julho/Agosto de 2013 * Eugénio de Andrade morou no 111 mas da Rua Duque de Palmela.
08 julho 2014
O que escondem os telhados do Porto
«Não é possível saber quantas clarabóias existem, ao certo, nos telhados das casas do Porto. Percebemos que são muitas, largas centenas, quando abrimos o Google Earth, por exemplo, e sobrevoamos as ruas da cidade, sobretudo nas zonas mais antigas. Quase casa sim, casa não, há provas da existência de clarabóias. São “olhinhos de vidro” que absorvem a luz, como lhes chama Luciana Bignardi, a fotógrafa brasileira de uma dupla que inclui o portuense Paulo Ferreira. Juntos descobriram e visitaram centenas de clarabóias, fotografaram-nas e agora querem lançar “Anima Luminária”, uma homenagem a este património do Porto.»
A ler aqui.
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