28 janeiro 2007
Jogo de sombras
Antiga Adega de A. Valente, na Rua do Souto
O Motim
Dos amotinados de 1757
nomeio a Estrelada.
Se gostava da pingoleta
é coisa que não sei:
o vinho tem razões
que a razão desconhece
e as razões são aos milhões.
Certo, certo é que o Marquês
disse por cima do ombro:
nas tabernas do Porto
vinho só o da Companhia - ponto
final. Vírgula, disse o povo,
fazendo contas de cabeça.
E nessa quarta-feira
As ruas acenderam-se.
E o sol... moita carrasco.
Abaixo a Companhia!
E foi o pandemónio.
Veio a tropa, veio a lei,
homens de má catadura.
Forca, açoites, calabouço,
confiscação e galés.
Foi quase meio milhar
de tripeiros que julgavam
que o povo é quem mais ordena.
O sol já tinha remorsos:
quem é aquela criança
que assiste à morte do pai?
Condenada, meu senhor.
Da forca pendem treze homens,
quatro mulheres também.
A Estrelada estava grávida
- salvaram-se as aparências.
Ah vocês cuidam que sim?
Cuidam que o rei é um boneco
e que, ao fim de quatro meses,
lá por nascer um fedelho,
a lei vai servir de fralda?
Sobe à forca, ó Estrelada,
e que o Marquês se console,
enquanto o rei come o sol
num cubo de marmelada.
António Cabral
_________________
O motim popular do Porto, em 1757, foi provocado pela decisão régia de não permitir que as tabernas do Porto vendessem vinho que não fosse o da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (criada no ano anterior) (N.A.)
_________________
in Ao Porto, Colectânea de Poesia sobre o Porto, Publicações D. Quixote, 2001
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30 comentários:
hummmmm...fiquei com curiosidade, com sede de mais, mais fotos desses lugares tão cheios de personagens interessantes.
Aquele abraço, th
Mais um post de serviço público.
Abraço, Carlos!
Esta foto até dispensava o belíssimo texto poético de António Cabral porque a imagem, só por si, é um poema!
E já agora devo confessar que não resisto ao desafio! Tenho de fazer uma visita a esta taberna, uma das raras que escaparam à voragem da modernidade.
Parabéns Carlos Romão pelo seu olhar sempre atento!
Álvaro Mendonça,
Fotografei esta adega em 1993. Como diz, escapou à voragem da modernidade, no entanto já não é o que era. Agora que lá voltei, verifiquei que foi passada e que a actual dona removeu um conjunto de prateleiras características, com garrafas que preenchiam a parede do fundo até ao tecto. Também desapareceu uma figura do Zé Povinho, na eterna posição de manguito, um grande rádio a válvulas e os clássicos cartazes, com inscrições do tipo Não Vendo Buxo Para Fora, Agradeço aos Meus Clientes a Fineza de Pagarem no Acto da Entrega e outros. Apesar disso vale a visita.
A fotografia traz-me à memória lembranças da infância. O meu pai jogava dominó e eu ia buscá-lo às vezes. Entrava na adega escura e via as mãos envelhecidas dos jogadores. Aproximava-me receosa e pedia-lhe vir à casa comigo. A pesar de ter acontecido tão longe desse Porto, a imagem é iguazinha. Obrigada.
Adorei, Joca! Tive mesmo a sensação de viajar no tempo :-)
Bonito poema. Belíssima fotografia
a desvendar passados que a memória esquece...
Uma delícia, como sempre!
Parabéns, mais uma vez e um abraço de tripeira Amizade da
Maria Mamede
Fotografia excelente, com poema a condizer. ;)
gosto das tabernas e do vinho do Porto... que não é o da companhia.
agora que se foi o Marquês.
Abraço
Parabéns pela qualidade do blog!
Carlos,
O RPS diz bem. Este blog tornou-se num blog de serviço público. Por isso mesmo, deixei no post "Sá da Bandeira" do "Fado Falado" uma sugestão para si.
Se é que já não tratou aqui o tema....
Na sombra do que pensamos ser pessoas, manipulamos peças, tocamos objectos, somos nós, os, eles que em vidas outras nunca passámos um além numérico.
Gostei muito.
Um abraço
Parabéns pelo blog!Excelente! Dá para ir matando saudades dessa bela cidade onde estudei:) suscitou-me alguma curiosidade o link para JornalismoPortoNet....será que fomos colegas?;) abraço
Dear Carlos,
forgive me for speaking english.
I looked for your e-mail address, on A Cidade, but I didn't find it.
Forgive me to write this letter in the comantario, too (you can cancel it)
I am involved in some literary projects regarding the web.
The current project is about a web magazine named Buràn (http://www.buran.it )
In the new magazine Buràn we host foreign (for us) bloggers and writers, from every part of the world.
The aim is to show what we call "Invisible Writing": stories that we usually are not able to read because of the language (chinese, arab and so on) or because they are fading away into the great ocean of the web.
We are collecting stories from all over the world.
Our magazine is divided in two different parts: the first part hosts stories (fiction and non-fiction, or pictures) about a subject chosen by us (for the next issue it will be: "The City").
The second part host stories (fiction and non-fiction or pictures) regarding subjects chosen by authors.
About the rights: authors keep on owning all the rights . Buràn is a no-profit project. It’s a web publication, everybody is free to read it online; nobody will be allowed to use the italian version for economic purposes.
Everybody (authors, translators, webmaster) join the projet for free.
No honorarium, unfortunately!
Just a link to authors' website, and their name on an italian literary magazine that’s becoming very popular, and a lot of people reading words and world.
I really would like to publish one pictures of yours fot the section The City. Pictures like the first one on the post A rua dos Mercadores, on A outro blog.
Could you please contact me at redazione@buran.it ?
Thank you very much for your kind attention.
I hope to hear from you soon.
Best regards
Effe
temos horrives esses...
Também eu sou um amante da cidade do Porto.. mas com este Blog, estou cada vez mais a gostar da cidade.. muito obrigado por estas imagens e sobre os temas interessantes.
Um bem aja.
Chego aqui...envolta no ,mistério da lua...gostei do que li, gostei do blog...deixo-te ...regresso para o meu mundo...mas voltarei ...certamente...
Fica bem!
novas actualizações, para quando?
A foto é muito interessante e a história também. Sempre gostei de tabernas, mas com bom vinho.
Queria lhe dizer que tem um excelnte blog!!!
Vim deixar-te um abraço de parabéns pelo "Primeiro Prémio do Melhor Blog de Cultura de 2006" onde foste nomeado. Parabéns.
Bj ;)
http://famafest06.blogspot.com/
Tenho uma pena imensa de já lá irem quase 2 meses sem novidades... estava habituada a vir aqui descansar a vista semanalmente.
1 ausência demorada, diria msm preocupante ... espero k esteja tudo bem e k voltes rapidamente a esta fabulosa montra dakilo k o norte tem para oferecer.
1 abraço
Bonito poema a mostrar as canalhices de uma monarquia sem alma que foi degolada por uma República sem contemplações para estes tiranos...
Com com ferros mata, com ferros morre... lá dizia o povo de então...
Parabéns pelo blogue e pelo conteúdo deste magistral post.
com respeito, tiro-lhe o chapéu!
E assim, do blog de uma amiga saltei para um título curioso... e deparei-me com um espaço dedicado à minha cidade, com imagens e palavras cativantes. :)
gostamos tanto do seu blog que o linkámos nos favoritos do nosso.
era para o informar/pedir autorização para tal.
abraço e parabéns pelo seu belíssimo blog.
Lindo o seu blog. Prometo visitá-lo mais vezes!
Eu já tenho saudades... espero que a ausência seja apenas por falta de tempo ou inspiração.
Bela fotografia
Gostei do blog: As fotos estão belíssimas; os Poemas dão-lhe vida, alma e um prazer cada vez mais maior em continuar ligada a este trabalho magífico.
Muitos parabéns e obrigada por nos presentear com o seu esforço, a sua dedicação por aquilo que é 100% nosso: Portugal e o Porto que é tão belo.
Maria Teresa
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