... cravos vermelhos e a inscrição «sentidos pêsames» colocados na porta do edifício onde, no Porto, funcionou a PIDE - polícia política do regime deposto em 1974.
Carlos, esta fotografia é de agora? É que se é, fico muito contente. A memória das pessoas anda muito curta e, embora estejamos num momento de crise conjuntural, pesada, não significa que possamos branquear tudo o que de horrível houve para trás do 25 de Abril de 74. Se este não tivesse existido, naturalmente nem tu terias postado a fotografia (fotografias) que postaste nem eu estaria aqui, seguramente, a mandar bitaites. E pessoas como o Duarte, que me desculpe, e muitos outros que eu conheci, continuariam a ser humilhados de todas as maneiras possíveis (algumas inimagináveis)nesse edifício e noutros que existiam com o mesmo propósito.
Ontem, vi a sua foto, não surgiram quaisquer palavras, apesar do desconforto imenso. Fiquei ali a olhar, sem entender. Hoje, voltei e, logo ao primeiro lance, percebi: tinha-me incomodado, na imagem, a estreiteza da porta. Uma porta tão estreita por onde, de uma forma ou outra, directa ou indirectamente, todo o país entrou!
A porta fotografada, onde depuseram os cravos, é uma porta lateral do edifício no Largo Soares dos Reis. A principal, que dá hoje acesso ao Museu Militar do Porto, na Rua do Heroísmo – e este topónimo é uma homenagem a outros resistentes que lutaram pela democracia durante o Cerco do Porto – é mais larga, apesar da estreiteza do caminho a percorrer por quem lá entrava, preso por coisa nenhuma antes de Abril de 1974, ser a mesma.
Enquanto existirem os que sofreram na pele a fúria desta abjecta e tenebrosa organização, haverá sempre cravos vermelhos, assim o desejo. Mas, eu preferia que o edifício fosse antes um museu da "pide";que lugares destes assinalassem de forma bem clara os horrores de 50 anos de ditadura e que nunca se esquecessem.
8 comentários:
Nos meus sessenta e cinco anos de vida foi só nesse edifício donde fui humilhado, donde senti medo.
Tinha que chegar! E chegou, para consolo meu.
Um abraço
Carlos, esta fotografia é de agora?
É que se é, fico muito contente. A memória das pessoas anda muito curta e, embora estejamos num momento de crise conjuntural, pesada, não significa que possamos branquear tudo o que de horrível houve para trás do 25 de Abril de 74. Se este não tivesse existido, naturalmente nem tu terias postado a fotografia (fotografias) que postaste nem eu estaria aqui, seguramente, a mandar bitaites. E pessoas como o Duarte, que me desculpe, e muitos outros que eu conheci, continuariam a ser humilhados de todas as maneiras possíveis (algumas inimagináveis)nesse edifício e noutros que existiam com o mesmo propósito.
Tens razão C. quando afirmas que a memória anda muita curta. Quanto à fotografia foi tirada ontem, 25 de Abril, à tarde.
Ontem, vi a sua foto, não surgiram quaisquer palavras, apesar do desconforto imenso. Fiquei ali a olhar, sem entender. Hoje, voltei e, logo ao primeiro lance, percebi: tinha-me incomodado, na imagem, a estreiteza da porta. Uma porta tão estreita por onde, de uma forma ou outra, directa ou indirectamente, todo o país entrou!
Ludovina,
A porta fotografada, onde depuseram os cravos, é uma porta lateral do edifício no Largo Soares dos Reis. A principal, que dá hoje acesso ao Museu Militar do Porto, na Rua do Heroísmo – e este topónimo é uma homenagem a outros resistentes que lutaram pela democracia durante o Cerco do Porto – é mais larga, apesar da estreiteza do caminho a percorrer por quem lá entrava, preso por coisa nenhuma antes de Abril de 1974, ser a mesma.
Excelente blogue. Acabei de divulgar no meu. Cumprimentos.
Enquanto existirem os que sofreram na pele a fúria desta abjecta e tenebrosa organização, haverá sempre cravos vermelhos, assim o desejo.
Mas, eu preferia que o edifício fosse antes um museu da "pide";que lugares destes assinalassem de forma bem clara os horrores de 50 anos de ditadura e que nunca se esquecessem.
Brilhante iniciativa, seja lá de quem foi! :-)
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