22 agosto 2009

Janelas do Tempo - VIII

Uma vista do Douro a partir dos Jardins do Palácio de Cristal

A primeira observação que me ocorre, ao olhar esta imagem, é que a debandada da população do Porto para os concelhos limítrofes ainda não tinha começado quando a fotografia foi tirada no final dos anos quarenta por Fernando Tavares Romão, meu pai, que foi, na juventude, um excelente fotógrafo amador.





Gaia, que hoje alberga mais gente do que o Porto, aparece então menos povoada à beira-rio e na parte alta, na Avenida da República, que daqui se adivinha ladeada por moradias. Os muros, em granito, de contenção do morro onde assenta o Mosteiro da Serra do Pilar não tinham ainda sido construídos.

O conjunto de barcaças negras paradas junto do edifício da Alfândega constitui um testemunho da actividade que o porto do Douro então tinha, actividade que, com o tempo, foi transferida para Leixões. O movimento fluvial de hoje aparece ilustrado, na foto de baixo, por uma imitação motorizada de um rabelo que transporta turistas, embarcação a que Arnaldo Vieira, arrais de rabões, barqueiro, pescador do rio e um dos protagonistas da Arquitectura do Rabelo, reduzia, com humor, à condição de «saboneteira».

De resto as imagens, que não nos revelam grandes diferenças na margem direita, permitem-nos, no entanto, observar que os plátanos do muro das Virtudes eram pequenos e promissores, como se pode verificar nas belíssimas copas que hoje são uma das preciosidades daquele local, enquanto que aqueles que estão diante da Alfândega seriam já adultos quando a fotografia foi tirada há sessenta e tal anos.

3 comentários:

C.C. disse...

Interessante esta série das "janelas do tempo".
As barcaças sugerem-me um comentário; é que na verdade,elas foram um remedeio para a situação caricata de se construir um monstro de pedra como é a Alfândega, destruindo a praia de Miragaia, e depois disso verificar-se que o rio naquele local não tinha profundidade suficiente para o calado dos navios de transporte de mercadorias. A solução foi trasladar as mercadorias para as barcaças, ao largo.Esta situação só se manteve enquanto não se construiu o porto de Leixões. Bem à portuguesa.

Carlos Romão disse...

C.C.,
não sabia dessa, que a limitação da profundidade do rio esteve na origem do aparecimento das barcaças. Obrigado pelo comentário.

lapsus disse...

Fantástica esta comparação. gosto muito.
Paulo