18 novembro 2009

Janelas do Tempo - IX

Duas pontes históricas do Porto

A imagem abaixo tem a particularidade de nos mostrar a Ponte Pênsil a par da Ponte Luís I o que deverá fazer dela uma raridade fotográfica dado que as duas pontes coexistiram durante um curto período de tempo, entre 1886 e 1887. Foi tirada por George Tait, a partir do local onde é hoje o Jardim do Morro - tal como a fotografia contemporânea que pretende mostrar o mesmo sítio nos dias de hoje.

Fotografia de George Tait - séc. XIX



Sobre a Ponte Pênsil, baptizada com o nome de D. Maria II, que caiu no olvido, diz-nos o Diário Ilustrado em 1843, ano da abertura da ponte:

«A ponte é de bela construção e elegante perspectiva. Eleva-se 10 metros sobre o rio, tem de comprimento 170,14m e de largura 6m (…) e descansa sobre quatro obeliscos de pedra de 18m de altura, dois de cada lado. (…) O pavimento da ponte está suspenso de oito amarras, quatro por banda, feitas com duzentos e vinte fios de ferro cada uma. (…) Essas amarras, passando por cima dos obeliscos, vão entrar em poços abertos verticalmente na rocha viva, com a profundidade de 8m do lado da cidade e de 14m do lado da vila. Cada amarra pesa 6 mil quilogramas.
As guardas dos lados são feitas em troncos quadrados de carvalho, de 1,50m de comprimento, dispostas em cruz e solidamente pegadas no solho da ponte.
O panorama que se goza do meio da ponte, quer se olhe para o nascente, quer para o poente, é magnífico.»

Apesar do entusiasmo que perpassa pela pena do redactor do Diário Ilustrado, e da Ponte Pênsil representar uma franca melhoria na travessia do Douro, ao substituir a flutuante Ponte das Barcas, a população da cidade e o poder político olharam-na de soslaio. Achavam-na insegura por «tremer como varas verdes», segundo uns, e por estar «muito próxima da água», segundo outros. A espera por outra ponte durou, no entanto, quarenta anos, e esta surgiu, talvez, mais por força da fervilhante actividade comercial e industrial que o Porto do final do século XIX vivia, do que pelos medos populares.

Em 1880 é dado o primeiro passo para acabar com o delirium tremens da travessia. Nesse ano, segundo O Tripeiro, foi aberto o concurso para a construção de «uma ponte de dois tabuleiros, servindo o inferior a parte ribeirinha da cidade e de Vila Nova de Gaia, e o superior, estendendo-se entre as proximidades da rua Chã e Santo António do Penedo na margem direita, até à parte inferior da fortaleza da Serra do Pilar».

A inauguração do tabuleiro superior da ponte Luís I aconteceu em 31 de Outubro de 1886. Um ano depois, em Outubro de 1887, após a abertura de uma passagem provisória no tabuleiro inferior da nova ponte, deu-se o fim do curto reinado de 43 anos da Ponte Pênsil com o início da sua demolição.

3 comentários:

Álvaro Mendonça disse...

De um trabalho subscrito por Manuel Vaz Guedes, do Departamento de Engenharia Electrotécnica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e publicado em http://paginas.fe.up.pt/histel/fhistre/Ponte_DLuis.pdf, cito com a devida vénia um curioso excerto a propósito da Ponte de D. Luís I. e sobre o pagamento de portagens que vigorou até 1943:
“Embora sujeita a portagem até 1943, esta ponte “exageradamente apontada ao ‘coração da cidade’” foi responsável pelo desenvolvimento concentrado da zona alta de Gaia até Santo Ovídio, e mais disperso, mas também intenso, nas zonas periféricas”.

Também em http://www.portugalvivo.com/spip.php?article3182 é referida a cobrança de portagens na Ponte Pênsil.
Para atravessá-la era necessário pagar portagens; cada peão pagava cinco réis; já a passagem de cavalos era tributada com 20 e finalmente a cada carro com uma junta de bois era exigido o montante de 40 réis.
Mas há mais. À noite, as taxas duplicavam.

Sylvia Beirute disse...

sempre bom haver alguem com interesse nestas coisas. li com mta atençao.

cheguei cá pela poesia.

S.

Duarte disse...

Excelente trabalho de investigação que me ilustrou positivamente.
Obrigado.