20 junho 2010

O Porto não é capital de coisa nenhuma

"(...) o Porto não é capital de coisa nenhuma a não ser de si próprio, da sua diferença, do orgulho da Inquisição que nunca lá ficou, da memória dos grandes comerciantes que ali mandavam e que faziam leis para si próprios não permitindo que os nobres pernoitassem na sua cidade nem obedecendo a regras que viessem de fora. O Porto sempre teve como ambição mais elevada que o deixassem em paz para se poder governar a si mesmo e não aos outros.
(...) Porto, Viana, Aveiro e Braga têm de ser a voz daqueles a quem o centralismo tornou afónicos."

A ler na crónica de Carlos Abreu Amorim publicada no Notícias Magazine e no Blasfémias.

4 comentários:

António Conceição disse...

Apesar de tudo, creio que podemos ser tudo isso, mas ainda mais do que isso.
Se Bayreuth e Salzburg estão no mapa (e muito bem) por causa da música, creio que o Porto pode perfeitamente ser posto no mapa por causa da arquitectura.
Temos, seguramente, uma das melhores escolas de arquitectura do mundo. Se investirmos em meia dúzia de edifícios emblemáticos (como já o são Serralves e a Casa da Música), da autoria dos melhores arquitectos do mundo; se organizarmos aqui grandes congressos de arquitectura; se nos tornarmos um centro de passagem obrigatória para qualquer arquitecto, podemos perfeitamente tornarmo-nos a capital mundial da arquitectura. O que temos é que - como Bayreuth ou Salzburg - valorizarmos aquilo em que somos exemplo. Em vez de andarmos sempre a comparar-nos com Lisboa.
As segundas cidades têm que ser elas próprias, não que tentar emular as capitais. O Porto é uma cidade atlântica e não mediterrânica como Lisboa. Já éramos Europa, antes de alguém mais neste país o ser. Perdemos os últimos 30 anos a queixarmo-nos da capital e a querermos ser uma capitalzinha do Norte.
Lisboa tem uma cinemateca? Eu também quero um pólo da cinemateca.
Lisboa tem um oceanário? Eu também quero uma peixaria.
É tempo de nos libertarmos desse complexo de capital do Norte e cumprirmos a nossa vocação de sempre: cidade de burgueses orgulhosos da independência do seu pensamento.

Carlos Romão disse...

Funes, a peixaria já temos, como sabe. Quanto à Cinemateca, apesar de achar que se trata de uma questão menor, não vejo razão para que a dita, que até é designada por Nacional, não tenha um polo ou antena, como queiram, na cidade onde nasceu o cinema português.
No restante subscrevo-o, tendo presente que "a cidade de burgueses orgulhosos da independência da sua mente" deverá resistir aos desmandos sumptuosos daqueles que pretendem fazer da capital a tal cidade-região, anunciada por Cavaco nos idos de 80, à custa da desertificação e do empobrecimento das outras regiões do país.

margarida disse...

Excelente análise, mas Lisboa ser 'mediterrânica' escapa-se-me...
Porque é luminosa?
Porque é trezentos quilómetros mais a sul?
Porque falta um nadinha menos para lá?
...'mediterrânica' é um conceito giro, mas quer parecer-me que por ali ainda anda o Atlântico, virtual e factualmente...
;)

PIPI ALFACINHA disse...

Rivalidades sempre vão existir! ;)