06 agosto 2009

Janelas do Tempo - VII


Duas locomotivas e duas estações da antiga linha dos Caminhos de Ferro do Porto à Póvoa de Varzim

O tempo que separa as duas imagens abaixo, do mesmo local na Avenida da França, é de 41 anos.
No final dos anos 70 ainda existia ali uma antiga passagem de nível com guarda, composta por duas cancelas compridas que rodavam, chiando, sobre carris para dar passagem aos automóveis. A avenida era então pacata e silenciosa. E mal iluminada durante a noite, também. O sossego era devido aos automobilistas não gostarem de passar por lá para não correrem o risco de encontrar a passagem de nível fechada, o que, à mistura com a vegetação que se desprendia dos jardins das casas, a tornava num local muito agradável para percorrer a pé.

A construção, no início dos anos 80, de uma passagem rodoviária inferior à linha do comboio veio alterar o cenário anterior. O piso de paralelepípedos irregulares foi substituído por asfalto, a iluminação alterada, os passeios mudados, acabando a rua integrada no bulício da Boavista.

A fase actual, da fotografia, corresponde às alterações que resultaram da integração da linha ferroviária na rede do Metro do Porto em 2002. A rodovia subiu para o nível da rua e o metro desceu, passando a circular numa vala de acesso à estação, que também mudou a denominação de Avenida da França para Casa da Música.





Voltando atrás, ao tempo da passagem de nível. Se tivermos presente que a primeira locomotiva foi criada no Reino Unido em 1804, que a primeira viagem ferroviária em Portugal ocorreu em 1856 - entre Lisboa e o Carregado - e que em 1968 ainda circulavam regularmente composições a vapor no Porto, veremos como foi longo, de mais de um século, o reinado destas máquinas fantásticas de transporte ferroviário.

Na imagem de Brian Stephenson, o excelente fotógrafo que expõe em RailPictures.Net, observamos a locomotiva E141, proveniente da Póvoa de Varzim, partindo, às 13h15 de 26 de Maio de 1968, da Estação da Avenida da França em direcção à Trindade em pleno centro do Porto. Em sentido contrário, representando outra época da locomoção, vê-se uma automotora Allen. Estas são indicações do autor da imagem. Infelizmente, o RailPictures.Net não permite hiperligações directas para as obras dos fotógrafos.

A E141 fez parte de um lote de quatro locomotivas a vapor compradas em 1931 pela Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal ao construtor Henschel & Sohn. Foram as últimas máquinas adquiridas pela companhia e as últimas em Portugal compradas para a via estreita. Circulou nas linhas do Porto à Póvoa de Varzim e Guimarães, tornando o serviço prestado mais confortável, mais rápido e regular. Existe um exemplar deste conjunto, a E144, conservado no Espaço Museológico de Lousado.





No mesmo dia luminoso de Maio de há 41 anos, Brian Stephenson esteve também na Estação da Trindade registando, para nosso usufruto, o abastecimento de água da locomotiva E84, construída em 1886, que tinha acabado de chegar da Senhora da Hora. Por baixo daquele local passa hoje o túnel do metro que liga a Trindade à estação do Bolhão.

30 julho 2009

A favor do Galego... na Galiza


Rosalia de Castro por Barata Feyo, na Praça da Galiza, no Porto.

O texto abaixo é de Joaquim Pinto da Silva, director da Orfeu, Livraria Portuguesa e Galega, em Bruxelas, e um activíssimo divulgador da cultura portuguesa na Bélgica há 25 anos.

A luta pela sobrevivência do galego na Galiza chegou a um ponto sem retorno. Ou a língua se impõe, aproximando-se o mais possível da escrita portuguesa (e mantendo as suas particularidades fonéticas, semânticas e mesmo sintácticas, é claro) ou definhará, morrendo.
Para nós, que sabemos (devíamos saber!) que a nossa língua provem daquela e que a desenvolvemos, afinando-a e enriquecendo-a (pela independência que os de a norte do Minho não conheceram), poderá parecer um combate estranho, mas a realidade é que, na Galiza, perdida a autonomia política há séculos e vendo as suas élites partirem atrás da corte para Madrid (e alguns para Lisboa) e sendo invadidos pelos funcionários do Estado central e da Igreja, castelhanofalantes, a situação da língua foi piorando (sem falar da similitude connosco da emigração, aos milhões, para a América do Sul, Caraíbas, etc).
No século XIX, com Rosalia de Castro, voltou a escrever-se em galego, depois de 5 séculos de oralidade, essencialmente no interior.
Hoje, com as "autonomias" da grande Espanha, a sociedade galega não tem, como a catalã ou a basca, uma burguesia nacional forte e falante da língua. Há ainda o mundo rural e um sector intelectual que pratica a língua. Aliás o número de edições em galego é espantoso, pois o esforço de escritores, editores etc, é grande, mas a língua recua.
As instituições, dominadas por centralistas (afinal o pior dos "nacionalismos" é aquele dos estados centrais), ou nem sequer usam o galego ou não dão importância ao problema.
Nós, portugueses, também ajudamos pouco, pois é comum ver compatriotas a ensaiar o seu "espanhol" em terras da Galiza (a norte do Minho), quando com a nossa língua nos poderíamos fazer entender perfeitamente.
E nao falo aqui, por desnecessário, das vantagens económicas, sociais e culturais que o uso de uma escrita comum traria para Portugal e para o mundo lusófono.
Para os mais assustadiços acrescento aqui que ninguém quer redesenhar fronteiras e que todo o galeguismo, pese as suas diferenças internas, tem uma postura cívica não violenta.
Temos agora a oportunidade de empurrar um pouco a causa do galego - que é, afinal a nossa - assinando o manifesto que se segue e passando-o (e publicando-o) por todos os meios
: http://www.peticao.com.pt/hegemonia-social-do-galego

Joaquim Pinto da Silva

23 julho 2009

Abaixo-assinado contra a demolição do Mercado do Bom Sucesso



Fernando Sá, Presidente da Associação de Feiras e Mercados da Região Norte, Paula Sequeiros e Pedro Figueiredo, constituem um grupo de cidadãos que decidiu opor-se à demolição do Mercado do Bom Sucesso para que ali se construa um hotel, um «shopping», escritórios e um parque de estacionamento. As formas são de um abaixo-assinado - em que se manifestam contra a incapacidade de gestão do património público revelada pela Câmara Municipal do Porto - e do blogue Mercado do Bom Sucesso Vivo, onde se podem observar fotos de mercados congéneres de Valência, Barcelona, Toulouse, Londres, Hamburgo e Veneza, em plena actividade.

O Mercado do Bom Sucesso é apenas mais um edifício notável posto à venda após a tentativa falhada de destruição do Mercado do Bolhão e do recente negócio do Pavilhão Rosa Mota, que incluiu, no mesmo pacote, a alienação de parte dos jardins do Palácio de Cristal.

A petição, que já assinei, contava ao fim de três dias, segundo o Jornal de Notícias, com 2500 assinaturas entre a internet e as recolhidas em papel.

16 julho 2009

A pérgula da Foz do Douro

No tempo em que a direcção do Público prestava mais atenção ao que se passava no norte do país - fora da baixeza dos jogos políticos que continuam a ser notícia - o jornal publicou, entre 1994 e 1997, uma série de crónicas de Luís Miguel Queirós sob o título geral O Nome da Rua. Essas narrativas formam um excelente, apesar de não exaustivo, guia da toponímia portuense, fruto de muito trabalho de investigação e produto, ainda, da redacção de estalo que o Público tinha no Porto.



Numa delas, dedicada à Rua do Dr. Sousa Rosa, eram-nos prometidas Revelações sobre a origem da pérgula da Foz do Douro. O autor, depois de caracterizar «a zona do Porto a que chamamos genericamente “a Foz”», afirma desconhecer «a data precisa em que a autarquia decidiu evocar nesta rua – que liga a aprazível Praça de Liège à Rua do Crasto – o médico e militar Augusto Sousa Rosa», sendo de crer «que a alteração toponímica tenha ocorrido em 1938, já que foi» naquele «ano que faleceu o homenageado».

As revelações surgem pela pessoa de um neto de Sousa Rosa, nascido várias décadas após a morte do avô, que forneceu informação detalhada sobre aquele que em 1929 assumiu a presidência da Câmara do Porto.



«Logo no seu primeiro ano à frente da gestão autárquica, Sousa Rosa – que residia, e veio a morrer, no número 210 da rua que lhe tomou o nome – promove a construção da pérgula que hoje embeleza a Avenida do Brasil» - diz-nos Luís Miguel Queirós. E continua: «Que esta elegante fiada de colunas erguidas junto às praias ficou concluída em 1931, é informação que vem nos livros. Mas o que poucos saberão é que o seu desenho foi esboçado pela própria mulher de Sousa Rosa (...). Tendo acompanhado o marido quando este foi enviado para França, durante a Primeira Guerra, pôde ali admirar um monumento semelhante, que lhe serviu de inspiração para o seu “ante-projecto” da pérgula portuense.»

Infelizmente o neto do autarca desconhecia a localidade onde a sua avó avistou a pérgula que terá servido de modelo à que hoje existe na Foz do Douro.

05 julho 2009

A Culturgest em Tibães

S. Martinho de Tibães que foi, para além de mosteiro, centro produtor e difusor de culturas e estéticas durante os séculos XVII e XVIII, acolhe, até 22 de Agosto, a exposição De Malangatana a Pedro Cabrita Reis, promovida pela Culturgest, que integra obras de arte da colecção da Caixa Geral de Depósitos.



A primeira referência a este mosteiro data de 1077, no entanto a construção do actual conjunto de edifícios iniciou-se em 1614 prolongando-se, num processo de sucessivas renovações, até 1834 ano em que foram extintas as ordens religiosas masculinas em Portugal. A antiga casa mãe dos mosteiros beneditinos entrou, a partir daí, em lenta degradação que nos anos setenta do século XX acabou na delapidação dos bens do mosteiro e na ruína.
É o Estado que a partir de 1996 recupera aquele espaço belíssimo através do trabalho - e de muita dedicação também - de uma equipa do Instituto Português do Património Arquitectónico, trazendo até nós muito do que estava perdido.



Tibães fica apenas a 9 Km de Braga e a cerca de 45 minutos de viagem do Porto.
Nas fotos podem ver-se o conjunto monumental composto pela igreja e pelo mosteiro, e a sala do capítulo durante a montagem da exposição.