03 março 2005

Sol de Inverno # 4



A Rua da Restauração

Em meados do século XIX, o Porto era uma cidade desventrada por inúmeros melhoramentos públicos. A par da abertura de novas ruas, da substituição das calçadas pelo macadame, da iluminação a gás e dos primeiros transportes públicos, assistia-se à construção de novas casas um pouco por toda a cidade.

É nesta euforia fontista do progresso que surge a abertura da Rua da Restauração, uma via direita e desafogada a ligar a Cordoaria, na parte alta da cidade, ao Cais das Pedras, em Massarelos.

Obra de difícil concretização, cavada em socalco na encosta do íngreme e pedregoso Monte da Marca, esta rua vai permitir em 1873 a circulação, como já aqui se disse, dos carros da primeira concessionária de transporte de passageiros e mercadorias, a Companhia Carril Americano do Porto à Foz. Em 1895 por aqui passará o primeiro carro eléctrico da Península Ibérica.

Com um flanco virado para o sul, a rua oferece uma ampla vista sobre o vale do Douro. Talvez por isso alguma alta burguesia da cidade a tenha escolhido para viver.

Na Restauração morou João Francisco Allen, inveterado coleccionador, cujo espólio artístico, adquirido pelo município em 1849, viria a constituir o núcleo do futuro Museu Soares dos Reis.

Aqui também viveu António Luís Gomes, militante do Partido Republicano e membro do Governo Provisório de 1910.

Mais uma curiosidade sobre esta rua: a conhecida marca de cerveja Cristal nasceu aqui, produzida pela Fábrica de Cerveja Leão, que em 1890 foi incorporada, com outras seis fábricas de cerveja do Porto, na Companhia União Fabril Portuense, empresa que está na origem da actual Unicer.

2 comentários:

euseinadar disse...

Nem só de imagens aqui se vive mas de bons parágrafos de história

Ida disse...

Essa rua faz parte das minhas lembranças mais precoces do Porto. A pé, no início, e de carro, no meu e no dos outros, mais tarde. Adorei aprender-lhe os detalhes do surgimento. Graças ao teu blogue, vou olhar para essa cidade de pedra com olhos muito mais atentos (e ávidos) na próxima estada, que não tarda. Grande abraço e parabéns inevitáveis.