Há dez anos chegou até mim, trazido por mão amiga, um álbum fotográfico elaborado por Domingos Alvão (1872-1946) com um levantamento exaustivo do Coliseu. Suponho que terá sido executado pelo fotógrafo por encomenda, o que era, e é ainda hoje, comum aquando da inauguração de um empreendimento importante. Estava lá todo o esplendor do edifício, em originais num formato próximo do 20x25 cm colados em cartolina escura, cuidadosamente separados por folhas de papel cebola. Das partes nobres aos sanitários, das caldeiras de aquecimento aos camarins, dos quadros eléctricos a uma adega regional que, suponho, terá desaparecido. Tudo fotografado com a mestria de Alvão, caracterizada pelos planos abertos, abarcando grandes espaços, pelos enquadramentos cenográficos e pela utilização da luz ambiente. Com uma interessante particularidade acrescida: todas as fotos estavam assinadas à mão pelo fotógrafo. Perante a impossibilidade da posse daquela preciosidade - não estava à venda por preço algum - apressei-me a digitalizar as imagens que hoje aqui trago.
Apesar de o Coliseu não ter sofrido grandes modificações desde a inauguração, em 1941, pelo menos no que diz respeito aos espaços públicos, e de termos consciência da sua existência física presente, as fotografias remetem o observador para um mundo inefável que sabemos não ser mais possível. Talvez seja nessa aura do tempo que resida o encanto da contemplação das imagens de Domingos Alvão.
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27 comentários:
Parabéns e obrigado por trazer-nos esta jóia, aos que não tivemos o privilegio de aceder a tão notável criação, sem duvida uma obra de arte para os sentidos e um deleite como contemplação.
Estas imagens fazem-me lembrar as horas que eu passava a deliciar-me comimagens fotográficas e postais do Porto antigo... relamente existe algo de mágico nestas imagens.
Bravo!!
As imagens são muito boas.
Há pouco tempo fui ao Coliseu assistir ao espectaculo "Cats" e fiquei de certa forma desapontado com o estado do Coliseu, não é que esteja podre, mas está "gasto" as cadeiras, o chão, a pintura e todos os restantes pormenores estão muito gastos e é uma pena pois é uma casa de espectaculos bastante bonita.
Desconhecia a existência de uma adega. E, pelo que vejo, também haveria/haverá um bar ou café lá dentro, que de momento não estou a ver onde possa ser...
É, de facto, um espaço formidável.
O Coliseu do Porto fica indelévelmente ligado à força que pode possuir um povo e a sua luta pelo que lhe é caro.
Todos os testemunhos são preciosos e só temos é que ficar gratos por partilhares connosco este documento fotográfico.
Um grande abraço amigo, th
Descobri (só) agora este blogue. Isto é serviço público. Obrigado e parabéns.
André Gomes, isto é mais gosto pela fotografia e pela cidade, não há nenhuma intenção de serviço público ou privado ;)
ja conhecia o trabalho do alvao mas nao sabia sobre o porto mas ainda não tinha descoberto este. que tesouro. obrigada. mesmo
Sou um visitante assíduo deste espaço. Parabéns pela qualidade de todos os posts que são aqui apresentados. Fantástico! A nossa bela cidade merece um blogue assim.
Surpreendente.
Carlos
Em tempos, tive o privilégio de folhear um outro álbum do Alvão sobre a cidade, que incluía fotos absolutamente fantásticas sobre os antigos jardins de Passos Manuel. Infelizmente, não voltei a ver em lado algum esse álbum e, sobretudo, fotos desse espaço. Se, porventura, lhe passar pelas mãos o "tal", será com enorme prazer que voltarei a "ver" aquele espaço e, sobretudo, seria fantástico se outros amantes da cidade também pudessem deliciar-se com tanta beleza. Em qualquer dos casos, obrigado pelo que aqui se pode ver do nosso Coliseu
O que é papel cebola?
Fernando Rogério,
não conheço esse álbum do Domingos Alvão. A hipótese de "me passar pelas mãos" é muito reduzida, mas se vier a acontecer terá aqui o mesmo tratamento das fotos do Coliseu.
J Arredia,
é um papel vegetal com uma textura raiada que faz lembrar a casca de cebola.
É mesmo para contemplar! Obrigado!
Um verdadeiro santuário da cultura nortenha. Que nunca seja privatizado.
Um abraço. Augusto
De facto tem fotografias de uma majestrosidade incrivel.
Lindas.
sentimos saudades de vir aqui.... e ver posts!!
em alago que possa ajudar.... considere a minha contribuição.
este foi e será o meu blog de referência.
lamento nao ter um acervo fotografico tao vasto no tempo como o seu... mas mesmo assim continuo a tentar retratar o porto de hoje em dia.
volte a cidadesurpreendente!!
Espero sinceramente que Rui Rio abra uma excepção e conceda ao Carlos Romão um subsídio, para ele manter este blog. Mesmo que ele diga mal do Município. Contentamo-nos se ele (C. Romão) assumir a obrigação de postar mais vezes.
Nuno André Catarino,
olhe que não tenho tantas fotos antigas como refere... Obrigado pelas simpáticas palavras e um abraço.
Funes,
Longe vá o agoiro! Dedicava-me a tempo inteiro ao blogue só para não receber o subsídio.
e eu lá trabalho, levando os utentes aos respectivos lugares.
Olá Carlos!
a história é velha mas a essência que antecede o tema é pertinente: "Porque é o porto um icone de presença e robustez?" perdoem-Nos o machismo, mas é coisa incontornável, quando ao porto nos referimos, adoptamos sempre a mesma abordagem "O Porto". Lisboa a eterna menina e moça, o Porto dita as horas e arregaça as mangas, faz-se ao trabalho e acorda o dia, transpira e não sua, cospe, não tem expecturação e não é mal educado. É rude, de uma rudez admirável.
Espaço belo o deste blog!
eu morava uns metros mais acima... morava... e começo realmente a sentir falta do Porto.
Uma comoção invadiu-me, ao ver estas imagens.
Já nada é como era...
Beijo
Apetece-me gritar:
"Coliseu amigo, o Porto está contigo!"
O Porto?!... O norte... carago!
Carlos, serviço público ou não, são umas fotos bilhantes, da foto Alvão, nome histórico da fotografia da cidade e do país!
Obrigado por nos trazeres estas pérolas!
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