No final da tarde, quando o fotógrafo disparou o obturador da máquina fotográfica e registou o instantâneo que hoje aqui trago, o bulício que caracterizava o Cais da Ribeira no início do século XX, tinha acalmado. Duas mulheres caminham a passos largos, enquanto outra entra inopinadamente no plano da imagem.
Nas arcadas do muro da Ribeira distinguem-se inscrições (se clicar na imagem vê-la-á maior) de uma mercearia e de uma loja de vinhos e tabacos. Um carro de bois cruza-se com um homem que transporta uma vasilha de lata à cabeça. Há algumas crianças na imagem, mas o grupo preponderante é composto por mulheres que se apresentam maioritariamente descalças. Uma varina, de costas, com a canastra entre as mãos, deixa ver a rodilha na cabeça. Ao fundo, o maciço rochoso do Codeçal cai abrupto diante da Ponte Luís I, quase ocultando a passagem do cais para aquela travessia para Gaia. Esta massa granítica viria a ser desmontada aquando da abertura do túnel da Ribeira, nos anos 40-50 do século passado.
A fotografia, digitalizada a partir de um negativo de vidro no formato 9x12 cm, foi adquirida numa banca de rua a alguém que a atribuiu a José Antunes Marques Abreu, o artista gráfico que, nascido em 1879 no concelho de Tábua, chegou ao Porto em 1893 e aqui faleceu em 1958, após um percurso profissional notável na área das artes gráficas.
09 janeiro 2012
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
6 comentários:
Era só mulherio na ribeira XD
gostei do cuidado que colocou na criação da fotografia actual para comparação com a "original"
Nuno Cruz,
não estariam os homens nas tabernas? :) Era o fim do dia.
grouchomarx
Foi fácil encontrar o local onde a foto antiga terá sida tirada. As arcadas e o casario estão intactos, só as pessoas e os costumes mudaram.
Uma pena os pára-sóis e a indumentária, senão diria que nada mudou: só que é a cores.
Excelente trabalho!
Interessantíssima esta revisitação que fizeste!
Parabéns.
Enviar um comentário