20 setembro 2010

Porto sem ideia nem elites

A crónica de Carlos Abreu Amorim, a ler na íntegra, no Jornal de Notícias

"(...) O Porto significa autonomia, autogoverno dos assuntos que lhe são próprios, irrequietude perante os poderes externos. Estriba-se na memória milenar de uma cidade de comerciantes que se regia por leis e costumes locais, em que os nobres não podiam pernoitar e em que a pata suja da Inquisição nunca mandou. Muito ao contrário do resto do país.
(...)
Contudo, se as elites nacionais se assemelham a uma caricatura indigesta, as do Porto parecem ter-se sumido na decadência que tem assolado a cidade.
(...)
Rui Rio já engendra pretextos pífios para recusar um novo hospital de crianças - alguns, poucos, protestaram mas a maioria manteve-se num silêncio apático e bovino. Entretanto, o Governo teima em abalroar a região entre Aveiro e Caminha com portagens nas vias que tinha jurado nunca virem a ser pagas - em Junho, muitos reclamaram mas agora parece descido sobre as pessoas um véu pardacento de capitulação que leva a admitir que esta região seja discriminada já em Outubro enquanto o resto do país só pagará as Scut não se sabe bem quando.

A aquiescência subserviente face aos desmandos dos maus governos, sejam locais ou central, é um sinal distintivo que contrasta com o modo de ser que fez o Porto. Quando nada parece beliscar a modorra das elites e o comodismo de quase todos, constata-se que a ideia do Porto se está a tornar uma recordação de tempos que já lá vão."

17 setembro 2010

Edifício "A Nacional"

Um projecto, de 1919, entre muitos outros com que o arquitecto Marques da Silva moldou parte daquilo que o Porto é hoje.





10 setembro 2010

Final do Verão...

... na praia da Aguda, em Gaia.

09 setembro 2010

Final do Verão...

... nas Caxinas, Vila do Conde.

E não é que tem razão?

Quando falamos de serviço público de televisão, constatamos que, em matéria de preservação e divulgação da língua, da cultura, da civilização e da memória dos portugueses, o melhor canal é, de longe, a TV Galicia.

Funes, o memorioso

08 setembro 2010

Final do Verão...

... na praia de Miramar, em Gaia.

27 agosto 2010

Heróis da Ribeira



A ponte ...



... a hesitação do André, de 8 anos ...



... e o salto da Tatiana, de 11 anos.





10 agosto 2010

Pontos de vista #2



Qual seria o motivo de tanta atenção, imaginem lá... não era o fotógrafo que estava do lado oposto, divertido com o que observava. Era a Igreja de Santo Ildefonso.

04 agosto 2010

O Douro Queen



Os cruzeiros no rio Douro são hoje anunciados, internacionalmente, em pé de igualdade com outros cruzeiros nos rios europeus, do Danúbio ao Reno, do Elba ao Sena ou ao Ródano.
Cumprida, ao longo de anos de exigências para com o poder central, a vontade do Douro navegável, falta agora reabrir a linha do caminho-de-ferro paralela ao rio, que ligava o Porto a Barca d’Alva e hoje fica pelo Pocinho. A linha do Douro para além da Régua, tal como tem acontecido com a do Tua e sucedeu com outras definitivamente encerradas, tem sido vítima de decisores estranhos ao desenvolvimento da região norte, gente que lhe tem aplicado a fórmula consabida: incompatibilizam-na com os passageiros para depois a fecharem, alegando que não tem procura.

Na fotografia vemos o Douro Queen (sic), um dos barcos que ligam o Porto a Vega Terrón, na região de Salamanca, passando sob a ponte da Arrábida.

29 julho 2010

O comboio constrói, a barragem destrói


O vale do Tua visto da janela do comboio em Julho de 2008.

CLASSIFICAÇÃO DA LINHA DO TUA COMO PATRIMÓNIO DE INTERESSE NACIONAL

Vimos convidar os senhores e senhoras jornalistas para participar numa Conferência de Imprensa, na próxima sexta-feira, dia 30/07, pelas 11.15h, no Café Majestic, no Porto, na qual será apresentada a resposta favorável dada ao Requerimento e o teor do Despacho relativo ao pedido de abertura do processo de classificação da Linha Ferroviária do Tua como Património de Interesse Nacional.

Este requerimento foi entregue no IGESPAR, no passado dia 26 de Março, por um conjunto de cidadãos que tem vindo a lutar pela classificação da Linha do Tua, assim como personalidades do meio cultural, artístico, académico, científico, ambientalista, político e sindical e é sustentado na Lei de Bases do Património Cultural (Lei nº107/2001 de 8 de Setembro).

Os subscritores deste documento consideram que a Linha do Tua merece a classificação como Património de Interesse Nacional, não só pelo papel histórico que desempenhou e pela obra-prima de engenharia portuguesa que constitui, mas também, e ainda, como exemplar único do património ferroviário e industrial do nosso país. Os requerentes consideram ainda que este património tem elevado potencial para o desenvolvimento turístico para a região e que tem que ser preservado e valorizado.

Para mais informações poderão contactar Manuela Cunha, 1ª subscritora do documento, através do número 962 815 445 ou Célia Quintas, também subscritora do documento, através do número 936 600 374.


Via Movimento Cívico pela Linha do Tua

22 julho 2010

Dos Clérigos e do Chiado



Sendo pouco dado a comparações entre realidades tão distintas como as cidades do Porto e de Lisboa, não resisto a reproduzir a comparação entre dois locais das duas urbes, estabelecida por Lady Jackson no livro a Formosa Lusitânia, em 1874, aproveitando para referir um blogue excelente, que acompanho há já algum tempo e que recomendo vivamente, o Do Porto e Não Só, donde foi retirada a citação. A autora, cujo livro foi traduzido por Camilo Castelo Branco, faz o elogio do "eixo barroco", composto pelas ruas dos Clérigos e 31 de Janeiro - então chamada de Santo António - deste modo:

Esta parte do Porto pode chamar-se realmente bella, muito mais bella que o Chiado: na verdade, não conheço nada em Lisboa n'este estylo que a possa igualar. Se tomarmos a Praça Nova por um valle como foi antigamente, e as duas ruas que se levantam em frente uma da outra, cada uma com a sua eminência coroada por uma bonita e antiga igreja, teremos assim um quadro muito attractivo que nos encanta pela surpreza”.



Uma observação ao título do livro, apesar de estarmos em 2010. O Porto e o norte de Portugal não integraram o território da Lusitânia, cuja capital ficava na actual Mérida, na Estremadura espanhola, mas sim o da Galécia (formosa ou não), com capital em Bracara Augusta, a actual cidade de Braga. Não somos lusitos, como propagava um hino da ditadura de Salazar, somos galaicos.

06 julho 2010

O Movimento pró-Partido do Norte no El País

O Movimento pró-Partido do Norte (MPN) é hoje notícia no jornal madrileno El País. Paradoxalmente é de Espanha, da cidade mais centralista da península, que surge a primeira grande notícia sobre o MPN, fundado a 29 de Maio passado no Clube Literário do Porto. Os jornais de Lisboa, que gostam de ser encarados como nacionais, têm ignorado o MPN. As excepções vão para o I e para o Público. As televisões têm tido o mesmo comportamento, ao contrário do Porto Canal e do Regiões TV, onde o movimento tem sido notícia.
Apesar deste panorama, PS e PSD, os dois partidos políticos que governam Portugal numa dança de cadeiras que dura há 35 anos, concertaram-se, acusando o incómodo provocado pelo surgir de uma nova força política que poderá tirar-lhes votos, logo diminuir-lhes o poder. Veja-se como Rui Rio, um eterno centralista à espera de uma brecha para ingressar num governo de Lisboa, ergueu a voz há dias a propósito das portagens nas SCUT, para segurar o eleitorado e não perder o comboio do descontentamento, que está em marcha.

O Movimento pró-Partido do Norte tem como primeiro objectivo a Regionalização, como meio de combater o empobrecimento e a desertificação do território, resultantes das políticas de concentração dos recursos nacionais na região de Lisboa. É composto por gente dos mais variados quadrantes políticos, eleitores da esquerda à direita, preocupados com a decadência daquela que, apesar de tudo, ainda é a principal região exportadora do país. Defende a regionalização a custo zero – através do aproveitamento das actuais estruturas das comissões de coordenação regionais, da eliminação dos cargos dos governadores civis e da reorganização administrativa do território, entre outros. O MPN não tem quaisquer propósitos separatistas, pelo contrário sustenta que Portugal não se levantará enquanto o Norte for encarado pelo poder centralista como uma parte exterior ao todo nacional.

A notícia no El País: www.elpais.com

02 julho 2010

Ribeira Negra

Um texto de Eugénio de Andrade sobre o painel Ribeira Negra, de Júlio Resende.

clique para ampliar «Agora vinde cá, que vos quero dizer uma coisa. Como sabem, o grande cronista desta terra foi Camilo Castelo Branco, esse diabo, que não é tão feio como o pintam. Mas depois de Camilo vieram outros: o Ramalho, que era um homem de respeito, o Raul Brandão, que tinha um olho muito fino para os pescadores da Foz e para aquele mar, e já nos nossos dias, a Agustina, que fala do Porto ora com azeda melancolia ora com incomparável sedução. Mas a cidade tem outro cronista admirável, em que se não repara tanto por não se servir de palavras. É de Júlio Resende que estamos a falar. Agustina e Resende são em rigor contemporâneos, mas o olhar inquisitoriamente poético de ambos contempla realidades muito diferentes. O mundo que despertou o interesse da romancista é o da burguesia decadente, o da aristocracia rural, com algumas incursões às esferas da finança e da política; ou seja, um mundo pelo qual a pintura de Resende tem um soberano desprezo.»



«A gente a que o pintor sempre procurou dar corpo e alma, e que lhe sai ao caminho mal pega no lápis e no pincel, é aquela a que Fernão Lopes chamou arraia-miúda. Isto, que nunca passou despercebido àqueles que seguiram empenhados a sua obra, tornou-se pura evidência a todos quantos tinham olhos na cara a partir de Ribeira Negra, o magnificente historial da miséria e da grandeza da população ribeirinha do Porto, exposto pela primeira vez em 1984, no Mercado Ferreira Borges.»



«Há uma brutalidade nesta pintura, digamo-lo sem qualquer hesitação; brutalidade que consiste em obrigar-nos sem trégua a pensar que o homem é o mais mortal dos animais, que o seu corpo não cessa de ser corroído pela lepra do tempo, que o esplendor da sua juventude se converte com facilidade na mais grotesca paródia de si próprio, que tudo nele está inexoravelmente votado à morte.»



«É uma crueldade, é certo, mas a compensá-la há também em Resende uma infinita piedade por estas criaturas cobertas de farrapos, quase sempre mulheres envelhecidas muito antes de serem velhas, porque tudo lhes faltou excepto o mais amargo da vida, e a quem também coube em sorte, apesar de tudo, semear a terra da alegria.»



«Se pensais que exagero, olhai este painel de cerâmica, variações da anterior Ribeira Negra, que lhe encomendou a Câmara do Porto justamente para a Ribeira, num gesto análogo ao da Câmara de Barcelona para murais e esculturas de Miró.»



«Com mão aérea e certeira, o pintor, uma vez mais, povoou essa centena de metros quadrados de grés com as suas visões líricas ou dramáticas: crianças, mulheres, adolescentes, animais repartem entre si o espaço e o ritmo, a cor e a luz da sua cidade, com um lúcido ardor que é o outro nome da sabedoria. Posso garantir-vos que desde os seus primeiros trabalhos,* toda esta figuração, vinda do mais rasteirinho da terra,** estava destinada a ascender pela sua mão a essa suprema dignidade que só a arte confere. Eu creio que o que se faz aqui é mais do que perpetuar o rosto de uma cidade, de um país – é dar, apesar de tudo, algum sentido à vida.»

* Pascoal, 1942; Rua, 1946
** Alentejano, 1950; Ribeira, 1952; A Lota, 1956
_____

Em A Cidade de Garrett,
Fundação Eugénio de Andrade, 1993

24 junho 2010

De novo de velas ao vento



Hoje, pelas 12h30, ocorrerá a XXVII Regata de Barcos Rabelos, organizada pela Confraria do Vinho do Porto.
As primeiras regatas, realizadas nos anos oitenta, começavam cedo, pelas oito horas da manhã, para aproveitar uma corrente de ar que habitualmente se forma após o nascer do Sol e irrompe pelo vale do Douro. A essa hora a cidade estava ainda adormecida, repousando da noite de São João. Mais tarde, quando se constituíram como cartaz turístico, as regatas passaram a acontecer no final da manhã.
Esta será mais uma oportunidade para apreciar estes belos barcos a navegar entre o Cabedelo e a Casa Sandeman, e assinalar as diferenças (no formato, na dimensão, na locomoção) entre um rabelo e as barcaças embandeiradas que actualmente transportam turistas rio acima, rio abaixo, cumprindo apressadamente o circuito de observação das pontes.
A foto é do final dos anos oitenta.

21 junho 2010

O maior aterro clandestino do país em Gondomar

O Estado Português constituiu o maior aterro clandestino do país em S. Pedro da Cova, Gondomar, onde depositou ilegalmente 320 000 toneladas de resíduos tóxicos provenientes da Siderurgia Nacional, que funcionou na Maia durante 24 anos sem licença. A investigação, levada a cabo pela incómoda TVI, descobriu que a operação foi organizada por uma empresa pública e um consórcio privado que entretanto desapareceu, o que, segundo aquela televisão, pode indiciar fraude fiscal, lavagem de dinheiro e corrupção de políticos eleitos e gestores públicos e privados.

A ver em O Estado do Crime, no Nortadas.

20 junho 2010

O Porto não é capital de coisa nenhuma

"(...) o Porto não é capital de coisa nenhuma a não ser de si próprio, da sua diferença, do orgulho da Inquisição que nunca lá ficou, da memória dos grandes comerciantes que ali mandavam e que faziam leis para si próprios não permitindo que os nobres pernoitassem na sua cidade nem obedecendo a regras que viessem de fora. O Porto sempre teve como ambição mais elevada que o deixassem em paz para se poder governar a si mesmo e não aos outros.
(...) Porto, Viana, Aveiro e Braga têm de ser a voz daqueles a quem o centralismo tornou afónicos."

A ler na crónica de Carlos Abreu Amorim publicada no Notícias Magazine e no Blasfémias.

15 junho 2010

Payassu - O Verbo do Pai Grande, na Sé do Porto

QUARTA-FEIRA, 16 DE JUNHO, ÀS 21H00

A Direcção Regional de Cultura do Norte e a Diocese do Porto apresentam amanhã na Sé o espectáculo «Payassu: o Verbo do Pai Grande», uma produção do Teatro das Formas Animadas, de Vila do Conde, a partir da adaptação teatral do Sermão de Santo António aos Peixes, do Padre António Vieira. Trata-se de um espectáculo performativo pluridisciplinar que envolve a fusão entre o teatro, recursos tecnológicos multimédia e técnicas da oratória barroca.
A Direcção Regional de Cultura do Norte assinala assim a abertura do ano comemorativo do centenário da publicação do documento legal fundador da salvaguarda do património edificado em Portugal, o Decreto de 16 de Junho de 1910, que classificou quatrocentos e sessenta e sete imóveis com o grau de Monumento Nacional. Cento e sessenta e quatro deles encontram-se na actual circunscrição da D.R.C.N. que tem afectos a si vinte e dois imóveis.

14 junho 2010

O Parque Oriental

Transformar um espaço compartimentado e acidentado de campos num contínuo natural, relvado, arborizado e com uma rede de caminhos onde as pessoas tenham prazer em passar uns tempos livres em sossego. Foi assim que o arquitecto Sidónio Pardal definiu o trabalho realizado nos primeiros dez hectares do Parque Oriental da Cidade, aberto ao público há dias.

O espaço, sendo do mesmo projectista, tem semelhanças com o Parque da Cidade, na zona ocidental do Porto, no entanto apresenta características diferentes, da modelação do terreno à vegetação e ao facto de integrar o rio Tinto que, apesar de não ser o rio sujo que foi outrora, precisará de ser despoluído.

Se o projecto vier a ser executado na íntegra – não há qualquer data para a continuação da obra - o parque deverá ocupar uma área cinco vezes maior, ao longo do vale do rio, entre Pego Negro e o Freixo, na freguesia de Campanhã.









31 maio 2010

A Torre ...



... ainda e sempre a Torre, a vertigem do barroco portuense.

28 maio 2010

A casa Vicent renovada

Há algum tempo, ao descer apressadamente 31 de Janeiro, deparei com a Casa Vicent fechada. Temi o pior, o desaparecimento de mais um símbolo da rua que foi um importante centro de negócios do Porto. O meu receio dissipou-se há dias, quando encontrei a loja renovada e dedicada à representação de uma marca contemporânea de roupa. Não tendo sido possível manter o mobiliário original, salvou-se a fachada e a decoração interior de um dos exemplares mais interessantes da arquitectura comercial da cidade.



Sobre a Casa Vicent, e o ambiente da baixa do Porto no início do século XX, dizia-nos A. Martins, num texto publicado no sítio do IGESPAR, em "bens com protecção legal", que não reencontro:

No dealbar do século XX, a cidade do Porto caracterizava-se essencialmente pela existência de diversificados espaços urbanos de elevado requinte e elegância, dispostos numa atmosfera verdadeiramente cosmopolita, em boa parte mercê do desenvolvimento do comércio do vinho do Porto e da enorme influência que a comunidade britânica exercia no seu seio.



Tal como nos principais centros europeus da época, foi na transição para esta nova centúria que a cidade assistiu ao despontar e florescimento do movimento da "Arte Nova", cujas linhas arquitectónicas e gramática decorativa eram preferencialmente apostas em edifícios comerciais e cafés, apesar de existirem exemplos residenciais, onde a articulação dos novos materiais evocativos do poder industrial e do avanço científico-tecnológico operado ao longo do século XIX, como o ferro e o vidro, assumiu uma dimensão estética absolutamente incontornável no âmbito da História da Arte em Portugal. São disso bons exemplos edificações emblemáticas desta cidade do Douro, como o "Café Majestic", situado num dos locais mais aprazíveis do Porto, a as ourivesarias "Cunha" a "Reis & Filhos", duas provas notáveis de
devanture, onde o trabalho do ferro fundido se acerca da elaboração da prata lavrada e cinzelada.



Apesar disto, o modo tardio como os imóveis (particularmente) inspirados no modelo francês da
Art Nouveau surgiram em território português expressaria bem a lenta implantação do processo industrial entre nós, causa principal do escasso mercado dos seus potenciais admiradores e defensores e, quase por inerência, dos próprios encomendantes. Talvez por isso, a "Arte Nova" se impusesse, não tanto junto das antigas famílias aristocráticas e da própria intelligentzia, quanto de industriais e, acima de tudo, de comerciantes. As suas obras serão, por consequência, algo modestas, reveladas em estruturas comerciais e prédios de rendimento.



Localizada na mesma rua da "Ourivesaria Cunha", a fachada da "Casa Vicent" foi elaborada em plena 1.ª Grande Guerra Mundial, entre 1914 e 1915, com materiais provavelmente encomendados à Companhia Aliança, fundada no Porto, em 1852 pelo Barão de Massarelos. A designação pela qual este estabelecimento é conhecido deve-se ao comerciante estrangeiro que nele se instalou, de nome Vicent, numa época em que a rua onde abriu se transformava numa das principais artérias comerciais do quotidiano portuense no despontar do século XX. E, tal como sucede na maioria dos exemplares caracteristicamente "Arte Nova" erguidos em Portugal, ainda se desconhece, por completo, o nome do seu arquitecto.



O edifício destaca-se, sobretudo, pela utilização de ferro fundido dourado na fachada, com contornos constituídos por uma cadeia de elementos arqueados formando motivos vegetalistas, rematada superiormente com uma concha coroada por um elemento vegetal, cujas formas parecem remeter para a sobrevivência de um certo gosto Rocaille. Quanto ao interior, o espaço mantém todo o mobiliário original, incluindo vitrines, balcões e candeeiros, onde o dourado se revela uma constante. E é ainda no interior que podemos admirar as paredes forradas a papel, os tectos estucados e pintados, além dos pavimentos soalhados a madeira.