15 setembro 2011

O Porto há 30 anos - II

É o Coliseu, no centro com a grande cúpula, que marca esta imagem. Vista do ar, a imponente sala de espectáculos mostra a sua real dimensão ao aparecer encaixada, como num quebra-cabeças, nos edifícios envolventes que nos aparecem minúsculos. Parece que tudo se ajustou para que coubesse ali; no entanto, ele está lá apenas desde 1940, enquanto grande parte dos edifícios circundantes foram construídos entre o final do século XIX e os primeiros anos do século XX. É notória também a ocupação intensiva do espaço interior dos quarteirões onde, na origem, terão existido quintais e jardins das antigas casas de habitação.


Diante do Coliseu, que constitui uma jóia da arquitectura portuguesa do século XX, há outro edifício marcante daquele período, a Garagem de Passos Manuel (1938) de Mário Abreu, arquitecto que trabalhou com Cassiano Branco e Júlio de Brito no projecto daquela sala de espectáculos.
Aparentemente não há diferenças entre a data em que a foto foi tirada e os dias de hoje, com excepção de um pormenor no canto inferior esquerdo da imagem, que mostra automóveis alinhados na periferia da Praça dos Poveiros, onde hoje existe um parque de estacionamento subterrâneo.
Clique na imagem para a ver maior.

10 comentários:

C.C. disse...

O que faz uma objectiva nas mãos de quem sabe!
Maravilha!

Fernando Ribeiro disse...

No local onde está o Coliseu não teria existido anteriormente um jardim público? Creio ter lido algo sobre este assunto, já não sei onde, talvez num texto de Germano Silva no JN ou em "O Tripeiro". Ou estarei a fazer confusão?

Esta nova série "O Porto há 30 anos" promete! Venham mais fotos, s.f.f.!

Carlos Romão disse...

Fernando Ribeiro,

Era o Jardim Passos Manuel de que não me lembrei ontem, tarde da noite, quando publiquei a foto. O sítio do Coliseu aborda o jardim num texto de que respiguei esta parte:

O Jardim Passos Manuel foi inaugurado a 18 de Março de 1908 e ao longo de três décadas foi local privilegiado das noites boémias portuenses, dos amantes do cinema (com o animatógrafo mais evoluído da época), do music-hall e de outros acontecimentos culturais. Concebido com base nos jardins parisienses de então, apresentou os maiores êxitos musicais da época, que faziam furor por toda a Europa: a valsa, o rag-time, o one-step, o two-step, a marcha, o maxie, o fox-trot, o tango...

No início do século XX, a cidade do Porto assumia-se como o centro da actividade musical do país e o Jardim Passos Manuel, onde se passava parte da vida do Porto, era o lugar da cultura e o ponto de encontro da sociedade portuense. Um local elegante, com amplos jardins, que proporcionava todo o tipo de entretenimento. Tinha um jardim-esplanada, um cinematógrafo, uma sala de "loto" (espaço que hoje é ocupado pelo cinema Passos Manuel), um cinema ao ar livre, quiosques, um restaurante de luxo, um café de negócios, um café-concerto onde actuavam permanentemente uma orquestra e dois sextetos, um salão de festas, um clube nocturno, um coreto em forma de concha onde tocavam as bandas filarmónicas e um parque para as crianças.

C.C. disse...

O Porto, cidade "entre-portas", nunca soube abrir-se para lá da circunvalação ou, para lá do rio Douro. Destrói e constrói nos mesmos lugares, e estamos permanentemente em ânsias. Recordamos, mas ao mesmo tempo tememos de que venham a fazer o mesmo; neste caso ao Coliseu.
No momento há várias sentenças de morte por aí espalhadas, e as "petições" aparentemente eficazes, apenas adiam a execução.
O Carlos farta-se de fazer denúncias, mas parece um luta inglória.
Era tão preciso que se respeitassem os valores que esta cidade tem!É claro que as cidades mudam, mas dentro desse respeito.
Isto veio a propósito da destruição dos Jardins de Passos Manuel.

Carlos Romão disse...

É-me tão distante a questão da construção do Coliseu no lugar do Jardim Passos Manuel que não sei se deveria ter sido feita ou não.

Sei que os casos de destruição de património no Porto são inúmeros. O mais badalado é a demolição do Palácio de Cristal mas, muito mais grave do que esse, foi a destruição do sítio onde o Porto nasceu, o morro da Pena Ventosa, há 70 anos, para abertura de uma avenida que ainda hoje permanece como uma ferida aberta no coração da cidade. Mais: o Terreiro da Sé e o seu pelourinho não passam, como sabe, de um cenário sem qualquer valor histórico. Valor tinha o que existia lá antes. E o Bairro da Lada?

Hoje é diferente, o património destroi-se por razões de negócio imobiliário. Veja-se o caso do Mercado do Bom Sucesso, as ruínas do Mercado do Bolhão, os jardins do Palácio de Cristal e tantos outros, como o Palácio do Freixo cuja recuperação custou uma fortuna ao Estado e foi cedido pela Câmara do Porto a uma empresa privada por dez reis de mel coado. Se a justiça funcionasse este negócio - este, no mínimo - deveria ser investigado.

Fernando Ribeiro disse...

Julgo que o morro onde o Porto verdadeiramente nasceu, e que foi selvaticamente destruído para dar passagem à Avenida da Ponte, era chamado Cividade. A Pena Ventosa é o morro da Sé, acho eu.

C.C. disse...

a Cividade estendia-se desde a estação de S. Bento até ao lugar do Corpo da Guarda, e que foi destruída com a abertura da Avenida da Ponte.

C.C. disse...

Esse negócio do Palácio do Freixo é obra do "nosso presidente"que é exímio em negócios desses

Carlos Romão disse...

Tem razão, Fernando Ribeiro, isto de falar de memória e apressado, sem confirmar, é no que dá: asneira.

Duarte disse...

PARABÉNS.
Razões: uma lição de historia, e uma fotografia única.
Ademais do amor à terra, latente em tudo aquilo que aqui se faz.
Vir até é para aprender.
Abraços