21 abril 2005

Na Praça da Batalha

O topónimo Batalha terá tido origem num combate aqui travado entre os habitantes de Portucale e o mouro Abu-Amir, cognominado Almansor. Verdade ou não, o local viria a fazer jus ao nome que ostenta já em pleno século XX.



Em Fevereiro de 1919, um esquadrão da Guarda Real que passou para o lado republicano, derrotou nesta praça, sob o comando do capitão Sarmento Pimentel, a Junta Governativa de Paiva Couceiro, pondo fim à chamada Monarquia do Norte.



Uma nova revolta, muito mais sangrenta, viria a ocorrer neste lugar público em 3 de Fevereiro de 1927. Desta vez contra a Ditadura Militar, surgida na sequência do movimento de 28 de Maio de 1926 que, como se sabe, levou Salazar ao poder.

Um dos protagonistas, o tenente Diogo Martinez de Lima, evocava-a assim (1) em 1984:
« (...) as forças do Caçadores 9 ao subirem para a Batalha dividiram-se em três grupos, subindo como disse, pela 31 de Janeiro um deles e os outros por Passos Manuel e pela Rua do Loureiro. Na Batalha, os tiros do tenente provocaram mais tiroteio, houve feridos. Apareceu ainda mais povo, ouviram-se os primeiros vivas à República e o ambiente tornou-se de guerra civil latente.
(...) Eu comandava três trincheiras: a chamada "trincheira da morte", que era Santa Catarina - 31 de Janeiro, em frente à Janota; e Batalha, propriamente Santa Catarina; e outra na Rua de Santo Ildefonso, junto do Bocage, e comandei uma metralhadora pesada no meio do Largo dos Poveiros.
(...) Quando foi a carga de cavalaria, ao sermos surpreendidos, virámos todas as posições para a Batalha (...) A carga apanhou-nos completamente desprevenidos, avançaram à vontade e a minha tropa supôs inicialmente que eram nossos e deixou-os avançar. Numa fracção de segundos apercebemo-nos da verdade e, como disse, voltámos às posições e contra-atacámos.
(...) Na noite de 4 para 5 é que temos a grande batalha, com metralhadoras, artilharia - uma noite muito pior do que muitas que eu tive em plena Grande Guerra! Incidia exactamente sobre a Praça da Batalha. O fulcro da revolta era lá. De resto tínhamos mais umas forças distribuídas pela cidade. (...) Lisboa ia protelando a saída e nós ali, na Praça da Batalha. (...) Passado o tempo que entendemos bastante fomos para nova reunião de oficias (...) [e] entendemos pedir a rendição.»

(1) Evocação do Tenente Diogo Martinez de Lima, no Diário de Notícias de 29-01-1984, in «A Sala dos Espelhos» de José Viale Moutinho (ed. Lello & Irmão, Porto, 1993)

7 comentários:

kiko disse...

Tão surpreendente quanto a cidade, é a qualidade do blog. Parabéns. Já agora uma proposta de quem gosta de viver os espaços... A Casa de Chá da Boa Nova...

Anónimo disse...

A construção deste post é que parece a do túnel de Ceuta - demorada...

Vera Gonçalves disse...

ois era só para te deixar o parabéns pelo fantástico blog de uma também fantástica cidade... MUITOS PARABÉNS...

Carlos Romão disse...

Quiosk:
A Casa de Chá da Boa Nova é uma excelente sugestão.

domingonomundo:
Acredita, o blogue é muito mais complicado que o túnel de Ceuta :)

Fogui Fogui:
Obrigado pelo estímulo e... aparece sempre.

El Apo disse...

que tal, muy buenas fotos.

saludos desde mexico

Poor disse...

Após a intervenção na Praça da Batalha só há duas coisas que me causam alguma impressão!
1ª - 4 cadeiras, sim senhor, mas e a mesa para jogar à bisca e ao dominó?
2ª - Sem mesa, okei, mas e uma sombra, não?Estar ao sol sem a torrar apetece imenso..
São pormenores...pancas minhas!

kiko disse...

A transcrição das palavras do tenente Diogo Martinez de Lima são um tónico científico muito interessante para perceber a importância do espaço no contexto histórico da urbe.