15 junho 2005

Augusto Gomes e Eugénio de Andrade

No catálogo referido abaixo, da exposição retrospectiva da obra de Augusto Gomes, encontrei dois elementos que relacionam as duas figuras da cultura portuguesa aqui evocadas, por razões diferentes, anteontem: um poema de Eugénio de Andrade e um retrato do poeta executado pelo pintor matosinhense.
Lá está também uma reprodução monocromática do quadro que serviu de mote a José João Brito, para elaborar a escultura de homenagem aos pescadores de Matosinhos.


Retrato do poeta Eugénio de Andrade - 1953
tinta da china-papel - 29,8cm x 19,7cm - colecção [em 1978] do poeta Eugénio de Andrade



Imagem e louvor de Augusto Gomes

Ele pinta lentamente uma luz supliciada,
porque tudo é amor e ama-se lentamente;
aqui e ali sublinha uma pálpebra, uns lábios,
e os olhos procuram o coração dos homens.

Nas suas mãos, raparigas passam despenteadas,
passa um pescador de rosto azul,
passa outra vez setembro, uma criança ainda,
e o mar irrompe de sombra em sombra,
porque tudo é amor, amor difícil, turvo,
lutando por ser diáfano em suas mãos.

Com alegria, descobre a cor da liberdade,
dos barcos, da juventude, e logo esquece.
Volta. Recomeça. Amorosamente
encontra um corpo - um corpo ? -
uma coluna de espanto e recomeça.

Escreve agora na terra um nome inocente,
cinco sílabas brancas, todas elas maduras,
e confia melancólico um segredo
à luz de cinza que se desprende da noite.

Eugénio de Andrade



Sem título/sem data
Óleo s/ tela - 124cm x 164cm - colecção [em 1978] do Banco Pinto de Magalhães

8 comentários:

Poor disse...

Gosto de um e de outro...:)
Fico contente que gostes do que escrevo, e vim dizer que o sentimento é mútuo!Também adoro o que fazes deste teu espaço!

Anónimo disse...

René Bertholo, Vasco Gonçalves, Eugénio de Andrade, Álvaro Cunhal ...
... então, e Carranca Redondo?

Sim, José de Oliveira Carranca Redondo [29Abr1916-15Jun2005].
Não marcou ele, tanto ou mais que qualquer dos outros, o século XX, as paisagens e as estradas de Portugal? *
Não inebriou ele, tanto ou mais que qualquer dos outros, o espírito de milhões de portugueses?
Não resgatou ele, tanto ou mais que qualquer dos outros, gerações de lusitanos da agrura dos dias e da frialdade dos montes?
Não deu ele, tanto ou mais que qualquer dos outros, sentido a milhares e milhares de noites naquela longa noite?

Por isso, portuguesas e portugueses, o mínimo que podeis fazer, em preito de gratidão, é comparecerdes pelas 17 horas de hoje.
Todos à Lousã!!!

* E continua a marcar, mas tenham lá paciência, a produção proíbe-me de dizer marcas aqui.
___________________________________
D.

Carlos Romão disse...

Caro D.
Não me passa pela cabeça duvidar das proezas nem da criatividade de Carranca Redondo, o homem do Licor Beirão - O Licor de Portugal - , e acredito piamente nas doces virtudes da bebida que ele tão bem divulgou.

Anónimo disse...

Ola!

sobre o projecto pode ser que te mostre...
tenho que ganhar coragem!
Mas tenho umas fotos do local tiradas a partir do Largo S. Domingo, ESAP.
Vou enviar-t isso...

;)

Unknown disse...

Felicito-te Carlos, pelas homenagens aqui postadas.
Um abraço

Anónimo disse...

A dôr d'um povo

Anónimo disse...

Este quadro é do Augusto Gomes, penso que seria bom prestar homenagem a este pintor de Matosinhos e à sua obra neo-realista.

joão disse...

o quadro de augusto gomes chama-se "pescadores" e pertence agora à coleção berardo. esteve exposto até há poucos dias, na leitura do social na coleção.